Xenofobia no Trânsito Matinal?

Esta manhã, à saída de casa e no mais ou menos curto caminho para o trabalho, deparei-me com um Fiat Uno que à minha frente fez uma manobra daquelas que a malta gosta de ver... mas naqueles vídeos dos mais espectaculares (ou parvos) acidentes das provas de automobilismo (tipo Nascar e assim...).

Resultado: o mesmo do costume. Muita apitadela, muito esbracejar, muito "#$£#§%$#@!" e muito dedo médio esticadinho para cima e devidamente mostrado ao condutor do Fiat Uno (no caso, até era uma condutora, mas não é isso que está em causa).

Uns minutos mais tarde, umas boas centenas de metros mais à frente, eu continuava atrás do mesmo carro e da mesma condutora, que insistia em fazer umas cenas engraçadíssimas com interessantes mudanças de faixa sem usar o pisca e sem reparar que estava a pôr outros condutores para fora da estrada, tudo enquanto olhava para o lado para falar com um miúdo que (presumi) estaria a levar para a escola.

Mais apitos, mais braços, mais "#$£#§%$#@!" e mais dedos em riste...

Ok... Havia razões (garanto) para o alarido da malta. Mas tudo mudou de figura quando reparei num gesto de um dos condutores ao meu lado, que juntava os dedos, bem à "moda" dos italianos. Estranhei e , pela primeira vez (sim... é de manhã... e eu de manhã sou um neanderthal só minimamente civilizado) reparei na matrícula do carro que, de facto, era transalpina.

Fiquei a pensar... Haveria ali alguma xenofobia nos protestos?

Comecei a recordar o comportamento geral no verão, por exemplo, quando há por cá uma "legião" de emigrantes e turistas estrangeiros (como é sabido, o estrangeiro é ali perto de Badajoz, à direita, como quem vira para as Astúrias... peço desculpa pelo desvario...).

«**brão do espanhol!...», «Raio do "avec"!», «Filho da p*** do "xabúgo"!!!», «Esparguete do ca**ças!» são frases que nos habituámos a ouvir (e também a dizer, convenhamos) todos os verões, Natais e até algumas Páscoas.
Já para não falar nos britânicos, que até são exemplares nas nossas estradas (apesar do sistema rodoviário deles ser inverso em praticamente tudo), mas só o facto de lhes vermos o volante do lado direito... inspira-nos o belo do insulto. Nós somos um espectáculo...!

Mas nós não somos melhores e as nossas chapas de matrícula certamente não nos passam um atestado de "Bom Condutor", bem pelo contrário...
Acho que os nossos números de sinistros no asfalto falam por si.

Quer um exemplo?
Enquanto eu vinha a pensar nestas "insensatezes", distraí-me e pratiquei uma infracção (que, noutra circunstância que não aquela em que aconteceu, seria bastante grave). Não vou dizer qual, nem vou dizer onde, mas se algum agente da autoridade ler isto... acredite que estou arrependido e peço mil desculpas. Foi só mesmo por distracção...

Mas a verdade é esta. Não ouvi um único apito, não vi esbracejar à minha volta, não me esticaram dedo nenhum nem me pareceu que me tenham dito algo do género «Ah meu tuga, filho de um **brão!...».

Mal sabem eles que eu tenho origens alemãs... Se soubessem...!