Av. Auto Stand, Lote 37…

*** Da afamada série de escritos «O InSenso e a Cidade» ***

Uma das características mais peculiares da cidade de Lisboa (pelo menos, do que me tem sido dado a reparar) é uma coisa a que “pomposamente” se poderia chamar de “aproveitamento de espaços”, mas a que eu chamo (com muito menos “pompa”, é certo…) simplesmente “oportunismo, puro, simples… e parvo”.

O que se passa – lá ao lado de casa, então, é uma coisa de “bradar aos céus” – é que, por aqui, há muita dificuldade em estacionar. Coisa que não é propriamente uma novidade nem sequer causa surpresa. Mas o motivo pelo qual muitas vezes isso acontece é de que os lugares “estacionáveis” das ruelas, ruas e avenidas da cidade (e arredores) estão constantemente ocupados por carros com papéis colados nos vidros laterais (do lado do passeio, claro).

Neles, vêem-se escritas palavras como “Bom Estado”, Trata”, “Diesel”, “Quase Novo”, “Oportunidade” e outras coisas que claramente não entendo mas que devem ser importantes… “16V”, “1.3 DDTI”, “2 litros”, “HDI”, “CDTI”, “VVTI”… enfim. Isto… já para não falar do imprescindível número de telemóvel que, invariavelmente, ocupa 2/3 da folhinha A4 colada em um, dois ou mesmo três dos vidros da viatura “exposta” na rua (supostamente residencial).

No caso da avenida junto à praceta onde moro, o “ratio” de carros à venda supera, em larga escala, o dos carros simplesmente estacionados. Por vezes, são “filas indianas” de 6, 7, 8, … 10 ou ainda mais automóveis à espera de comprador que lhe pegue. Viaturas ligeiras de todos os modelos, carrinhas médias e até pick-up’s – todoas com papelinho colado no vidro – aguardam o interesse de alguém que por ali passe com o espírito de “Vou ali à mercearia comprar umas nabiças e… Ops! Olha aqui um Opel Corsa vermelho de 1991, com 1.2 de cilindrada, estofos quase novos (só com uns quantos – 15… talvez – furos de cigarro) e tampões a fazer de jantes de liga leve!!! Deixa-me cá comprar isto e ainda levo as nabiças de carro para casa!...”

Aos fins-de-semana a coisa torna-se ainda mais caricata. Ao lado dos ditos carros aparecem famílias inteiras que rodeiam as viaturas, olham para o interior, comentam o que vêem e, para qualquer dúvida, recorrem às informações de um senhor ou senhora que acompanha os “interessados” no tour pela avenida tornada em stand de automóveis. Não raras vezes, o mesmo “anfitrião” apresenta vários carros,... “curiosamente”…

Na verdade, não vejo assim tanto mal nisso, embora me custe muito a estacionar sempre que vou para casa, todos os santos dias. No entanto, vejo um verdadeiro perigo nesta realidade. O de que – a continuar tudo assim – o futuro das avenidas de Lisboa não seja, de facto, muito risonho. E baseio-me na… tradição e na história para o dizer. É um costume antigo em Portugal atribuir nomes às ruas mediante pessoas a homenagear ou às actividades nelas levadas a cabo (exºs: Rua das Padeiras, Rua dos Oleiros, Rua dos Ourives, ...). Perante este segundo princípio, daqui a uns 50 anos, mais de metade das ruas, ruelas e avenidas da capital corre o risco de se intitular “Rua Civic de Ocasião”, “Beco Auto Bom Preço” ou mesmo “Avenida Auto-Stand”, criando todo uma nova geração de endereços postais, do tipo…

Raul Pedro Simões
Rua PaivaMotor – StandAuto e Peças de Concorrência
Nº 35, Lote A, 4º Frente
2745 – 999 Massamá, Queluz
Portugal

Depois não digam que eu não avisei…!

InSenso de gajo



À custa de um novo anúncio televisivo, dei-me conta de que coisas há neste mundo que nunca entendi. Pensos higiénicos. Ou melhor… publicidade a pensos higiénicos. Esses enigmáticos objectos a que uma antiga colega minha chamava “coisinhas”, sempre que a malta ia ao supermercado. «Ah… espera aí um bocado… que eu vou ali comprar umas coisinhas… e tal…»; isto para não ter de dizer “pensos higiénicos” em “público”, claro.

A mim parece-me sempre estranho ver/ouvir/ler publicidade de marcas como Carefree e Evax, por exemplo. Porquê?... Por causa dos slogan's. Este novo anúncio de que falo no início do InSenso de hoje pode considerar-se um “clássico”, agora renovado… e até nunca foi dos piores.

Diz o slogan (agora reformulado – e daí a nova campanha publicitária) da Evax, “dirigindo-se” ao seu público-consumidor (leia-se, as gajas), «Sentes-te (muito) limpa, sentes-te (muito) bem». Ora, sentir-se limpa e, por isso, melhor, parece-me bem e, acima de tudo, lógico. Mas amiúde nas restantes publicidades das outras marcas (e também da referida Evax) aparecem sempre (ou quase) as palavras “fresca” e “segura”. Tudo bem que eu sou gajo e não uso pensos higiénicos (não que ser gajo o impeça… mas isso é outra conversa totalmente diferente), mas como é que um “pensinho” de papel reciclado, almofadado e com umas tiras autocolantes… refresca ou segura (ampara) seja quem for?!? Nunca percebi.

Além disso, porque é que a publicidade “pensada higienicamente” [trocadilho que eu não sei se resultará… Ajuíze por si, InSensato Leitor] é sempre tão confusa?!? Janelas suspensas no ar, cortinas coloridas de cores (de gaja) berrantes, raparigas giras a jogarem às escondidas por entre caixas tão coloridas como o raio das cortinas, flores a caírem do céu e outras a subirem em direcção a ele… enfim, uma confusão pegada! E o desgraçado do pensinho aparece no final, quando a maltinha lá de casa já está toda a pensar «Que raio de trip de LSD que eu devo ter apanhado sem saber!... Ah… não… é só a publicidade aos pensos higiénicos!... Ufa!...». Lamentável.

Digo eu que está por provar cientificamente qual a relação dos malmequeres com as cortinas rosa-choque e as janelas suspensas no “nada” e, já agora, a relação entre estes três elementos e os próprios pensos higiénicos… mas os anúncios continuam a aparecer, felizes, contentes, pujantes e, claro, frescos, limpos, seguros e outros que tantos adjectivos, tantas vezes usados nas campanhas publicitárias dos ditos objectos.

Entendo perfeitamente que fazer “publicidade realista” a pensos higiénicos (e aos tampões também) não seria, propriamente, de bom gosto mas ser tão confusa, irrealista, florida e “berrante” também não se percebe.

Ressalvo aqui o exemplo da excepção que confirma a regra das excepções à regra: os pensos Tanga. Ou melhor, as publicidades aos pensos Tanga. Os anúncios não vão “directos ao assunto” (como nenhum, como já disse), mas aquilo agrada-me… vá lá saber-se porquê…!

5 voltas

*** Da afamada série de escritos «O InSenso e a Cidade» ***

Já estou pelas bandas da capital. Aliás, este é o 1º InSenso “alfacinha” de sempre, se é que se pode dizer isto. Cheguei há dias, instalei-me (num processo que, ele próprio, daria um InSenso mas que não me apetece relatar por escrito simplesmente porque já não posso sequer ouvir falar em arrendamentos, mudanças e casas, no sentido mais vasto possível do conceito de local de habitação) e agora começo a aperceber-me de que isto é, definitivamente, diferente.

Mesmo que não me tenha dado ao trabalho de me informar cabalmente acerca do assunto (não estive para isso), sempre soube – e também já deu para ver – que aqui a taxa de criminalidade é extremamente elevada.

Não que me tenha acontecido alguma coisa. Não. Além do mais, quando o meu Punto foi assaltado, foi a 200km daqui, numa pacata cidade a Norte de onde estou. Mas, mesmo não tendo sucedido nada de “criminalmente relevante” nas minhas últimas 72 horas (mais 10 minutos, menos 10 minutos), não há forma de não sentir que há insegurança “no ar”, em todo o lado.

E quem se sente inseguro, trata de apostar – claro – na segurança, com é óbvio, certo? Certo! Ou seja, não tendo sido eu aborrecido por um gatuno qualquer, sinto-me aborrecido é com todas as medidas de segurança a que sou obrigado, desde manhã até à noite, todos os dias.

A minha rotina diária é agora esta. Acordo, levanto-me e abro 3 frestas da persiana do quarto. Sim, só 3 porque vivo num rés-do-chão e abrir a persiana totalmente está fora de questão, seja a que horas for. Tomado o banho, saio de casa e para fechar a porta, a chave dá… 5 (leu bem… CINCO) voltas! É um exagero, porque eu já “lutei” com a porta em questão para testar a segurança de uma só rotação da chave e o raio da porta nem sequer um milímetro se mexeu…! Mas vá. 5 voltas é o que é. Já no carro – e a provar que até na segurança… rodoviária esta malta não brinca – passo por cerca de 30 lombas de controlo de velocidade (de todos os tamanhos e feitios – chegam a haver umas que são do tamanho de uma passadeira… em TODAS as passadeiras pelas quais passo) em pouco menos de 6 km que faço de casa ao trabalho. Cá para mim, acho que aqui há uma certa espécie de Lomba-Fetiche… mas quando conseguir provar isso, eu volto ao assunto. E chegado ao trabalho, tenho de passar um cartão magnético por um torniquete que regista a minha entrada e a minha saída nas instalações, muito ao estilo de um “BigBrother” (que sabe sempre onde eu ando). Findo o trabalho, volto a casa com as portas do carro trancadas todo o caminho (foi assim que me disseram para conduzir logo que a noite cai), esvazio todo o interior do carro para NADA ficar à vista, se possível tiro a antena para não ma roubarem e tento deixar a fantástica viatura num local iluminado… e tanto melhor se for mesmo perto da porta do prédio. E já que falo em prédio, para entrar em casa, novas 5 voltas à chave para entrar e ainda mais 5 para fechar a porta e passar a noite mais… seguro.

Que me perdoem os lisboetas… mas isto é altamente paranóico! E eu, muito sinceramente, não sei se estou para viver neste medo permanente. Bem sei que a taxa (a maldita taxa) é bem mais elevada do que a que se verifica de onde eu venho, mas “nem 8 nem 80”! Que não há pachorra para isto. Não tarda, tenho de dar 5 voltas à chave do meu Punto só para o abrir… não…?

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PS: Ah… já agora… se alguém me souber explicar porque é que os sinais de trânsito de Oeiras, Cascais, Estoril e alguns de Sintra parecem lolly-pop’s… a malta agradece esse esclarecimento.