*** Da afamada série de escritos «O InSenso e a Cidade» ***
Uma das características mais peculiares da cidade de Lisboa (pelo menos, do que me tem sido dado a reparar) é uma coisa a que “pomposamente” se poderia chamar de “aproveitamento de espaços”, mas a que eu chamo (com muito menos “pompa”, é certo…) simplesmente “oportunismo, puro, simples… e parvo”.
O que se passa – lá ao lado de casa, então, é uma coisa de “bradar aos céus” – é que, por aqui, há muita dificuldade em estacionar. Coisa que não é propriamente uma novidade nem sequer causa surpresa. Mas o motivo pelo qual muitas vezes isso acontece é de que os lugares “estacionáveis” das ruelas, ruas e avenidas da cidade (e arredores) estão constantemente ocupados por carros com papéis colados nos vidros laterais (do lado do passeio, claro).
Neles, vêem-se escritas palavras como “Bom Estado”, Trata”, “Diesel”, “Quase Novo”, “Oportunidade” e outras coisas que claramente não entendo mas que devem ser importantes… “16V”, “1.3 DDTI”, “2 litros”, “HDI”, “CDTI”, “VVTI”… enfim. Isto… já para não falar do imprescindível número de telemóvel que, invariavelmente, ocupa 2/3 da folhinha A4 colada em um, dois ou mesmo três dos vidros da viatura “exposta” na rua (supostamente residencial).
No caso da avenida junto à praceta onde moro, o “ratio” de carros à venda supera, em larga escala, o dos carros simplesmente estacionados. Por vezes, são “filas indianas” de 6, 7, 8, … 10 ou ainda mais automóveis à espera de comprador que lhe pegue. Viaturas ligeiras de todos os modelos, carrinhas médias e até pick-up’s – todoas com papelinho colado no vidro – aguardam o interesse de alguém que por ali passe com o espírito de “Vou ali à mercearia comprar umas nabiças e… Ops! Olha aqui um Opel Corsa vermelho de 1991, com 1.2 de cilindrada, estofos quase novos (só com uns quantos – 15… talvez – furos de cigarro) e tampões a fazer de jantes de liga leve!!! Deixa-me cá comprar isto e ainda levo as nabiças de carro para casa!...”
Aos fins-de-semana a coisa torna-se ainda mais caricata. Ao lado dos ditos carros aparecem famílias inteiras que rodeiam as viaturas, olham para o interior, comentam o que vêem e, para qualquer dúvida, recorrem às informações de um senhor ou senhora que acompanha os “interessados” no tour pela avenida tornada em stand de automóveis. Não raras vezes, o mesmo “anfitrião” apresenta vários carros,... “curiosamente”…
Na verdade, não vejo assim tanto mal nisso, embora me custe muito a estacionar sempre que vou para casa, todos os santos dias. No entanto, vejo um verdadeiro perigo nesta realidade. O de que – a continuar tudo assim – o futuro das avenidas de Lisboa não seja, de facto, muito risonho. E baseio-me na… tradição e na história para o dizer. É um costume antigo em Portugal atribuir nomes às ruas mediante pessoas a homenagear ou às actividades nelas levadas a cabo (exºs: Rua das Padeiras, Rua dos Oleiros, Rua dos Ourives, ...). Perante este segundo princípio, daqui a uns 50 anos, mais de metade das ruas, ruelas e avenidas da capital corre o risco de se intitular “Rua Civic de Ocasião”, “Beco Auto Bom Preço” ou mesmo “Avenida Auto-Stand”, criando todo uma nova geração de endereços postais, do tipo…
Raul Pedro Simões
Rua PaivaMotor – StandAuto e Peças de Concorrência
Nº 35, Lote A, 4º Frente
2745 – 999 Massamá, Queluz
Portugal
Depois não digam que eu não avisei…!
2 inSensinho(s) assim...:
eheheheh
A tua sorte é que, nas piores das hipóteses, já tens um estudo de mercado bem à tua disponibilidade para abrires um negócio em plena capital:))
Fui tocada pelas tuas palavras...merci;)*
rapaz... foste morar para um sitio bastante insensato! ;)
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