Cremilde

Assim de repente recordo-me vagamente de ter tido uma professora chamada Cremilde.

Da mesma fora, assim de repente, lembro-me que (nem vagamente) me recordo de grande coisa acerca da senhora. Eu sei… é lamentável. E a senhora não tem culpa nenhuma.

No entanto, recordar-me (vagamente, assim de repente) que tive uma professora chamada Cremilde leva-me a constatar um facto que não posso de todo negar: ninguém devia chamar-se Cremilde. Para além de não ser bonito… não deve fazer bem à saúde. Quer dizer… digo eu… que nunca me imaginei com “Cremildo” no Bilhete de Identidade mas desconfio que, de puto até hoje, já teria levado muita porradinha só por ter esse nome. Essa é a tal parte de que “não deve fazer bem à saúde”, obviamente.

Reconheço que a minha opinião é potencialmente injusta para todas as Cremildes (que as deve haver mais na terra do que a minha antiga professora… como as Marias), mas pronto… por reconhecer isso, resolvi “googlar” o nome em questão.

Diz a Wikipedia – essa fonte de saber inquestionável e sempre 100% exacta – que Cremilde foi “Rainha da mitologia escandinava, que obriga Sigurd, através de feitiçaria, a casar com a sua filha Gunnar”. Só por isto fiquei bem impressionado. É que, mesmo não conseguindo entender o facto de os escandinavos terem nomes ainda mais estranhos que Cremilde, a rainha lá da zona era uma tipa de convicções fortes, resoluta a usar qualquer meio para alcançar os fins pretendidos (no caso, a feitiçaria).

Quando tiver uma filha (que não se há-de chamar Sigrud de certeza) e houver um caramelo que queira dar à sola antes da boda… faço como a Cremilde e obrigo-o, nem que a “feitiçaria” se resuma a uns tabefes bem assentes na cara do moço (sim… então se tiver um nome como Gunnar, bem estará a merecê-los).

Ao fim de tantos anos – os suficientes para não me lembrar de grande coisa acerca da minha ”stôra” Cremilde – a senhora ainda me ensina umas coisas e dá umas lições frutuosas para a vida.

Não sei é se o pretendente à mão da minha futura filha vai achar muita piada à lição que, na altura, também eu tiver para lhe dar.

RÁDIO PORN (um conceito vencedor)


Confesso que há muito tempo ando com – e repare-se na palavra que utilizo – desejo de escrever este InSenso. Porque há muito tempo o mundo – esse lugar de “per si” bonito mas que pode ser ainda mais jeitoso – merece um conceito assim, ainda não cabalmente explorado mas com evidente potencial.

Dizem as “boas” línguas que a pornografia é errada, suja,… badalhoca mesmo (por que não dizê-lo?). Essas “boas” línguas – está visto – não sabem distinguir uma boa sessão de sexo oral de um prato de esparguete à bolonhesa. As más-línguas – vistas por tanta e tanta gente como as verdadeiras boas línguas; as melhores, no fundo – sabem. E por isso têm de ser elas (só podem ser elas) a defender a evolução da pornografia para os campos por ela ainda não desbravados.

Pornografia no cinema… já está! Pornografia em fotos… há que tempo! Pornografia na televisão… já não há sequer hotel ou residencial barata que a dispense! Pornografia na internet… é a maior banalidade ao cimo da terra.

Falta só – digo eu – a bem sucedida incursão desse “vil material audiovisual” no meio radiofónico (perdendo o "visual" e passando a "vil material audio") para que o ciclo se complete.Bem sei que tentativas (vãs) foram já feitas com programas com e sobre erotismo em rádio de bom e mau nome por esse mundo fora, madrugadas dentro, com audiências baixas mas ávidas por mais gemidos intensos e respirações profundas, directas ao ouvidinho atento (e algo humedecido) colado ao outro lado do rádio. Howard Stern também o fez de dia, mas com muita risota e confusão à mistura. Ou seja, nunca se chegou à opção de uma rádio preenchida com formatos de índole claramente sexual nas 24 horas do dia. Por que não fazê-lo?!?

A questão monetária (para a compra das frequências) seria sempre um obstáculo inicial mas estou certo de que patrocinadores não faltariam para ajudar a desbloquear essa situação. Sex-Shop’s não faltam por aí…

Quanto aos conteúdos… nada mais simples. Para aí em 20 das 24 horas de emissão diária bastaria fazer um loop do som ambiente de um qualquer filme pornográfico sem grande argumento (disponível em qualquer clube de vídeo). Solução barata e, assim com’assim, ninguém perceberia que seriam sempre os mesmos gemidos, de hora e meia em hora e meia…!

Nos “intervalos” poderiam ser lidos anúncios de classificados relativos a acompanhantes, encontros e massagens (grandes pérolas literárias, como se sabe) e, por fim, directos com pouca conversa (a mania dos fóruns radiofónicos irrita-me) e muita acção, palavreado forte e, se possível, sons corporais bem audíveis.

Tudo a todas as horas, inclusivamente àquelas horas do dia “que ninguém desconfia”.

Quanto aos nomes dos programas, deixo sugestão apenas para uns quantos, porque a partir daí, já dá para imaginar todos os outros.

Programa da Manhã – Toca a Levantar… o mastro!
Programa da Hora de Almoço – Estou doido para comer... uma francesinha!
Programa de Fim da Tarde – Afternoon Delight
Programa de Fim da Madrugada – Ai, Aurora, que és tão boa!

Já agora, aproveito para dizer que procuro sócios para este meu projecto. Se possível,… sócias! Assunto sério. Por favor, enviem fotos… de corpo inteiro… com ou sem bikini… mas de certeza sem roupa. Boa voz – ao contrário do que se possa pensar – não é essencial. Há sempre malta disposta a ganhar a vida a dobrar cenas de pornografia. Porque que é que há-de ser diferente na rádio?!

Em defesa do PIROPO... e do mercado imobiliário!

Como gosto de ser um tipo bem informado... hoje peguei no jornal 24 Horas e eis que me deparo com a verdadeira notícia do dia. "Novo Código Penal Pune Bocas de Cariz Sexual" "PIROPOS DÃO CADEIA".

Ao que parece, o novo artigo 171º define que aquilo a que normalmente chamamos de... "palavras elogiosas" pode constituir um crime de "importunação sexual", punível com um ano de cadeia ou multa até 120 dias.

Vejo esta situação como muito preocupante. Acima de tudo devido à complexidade do mercado imobiliário em Portugal.

As casas estão caras, os créditos pela hora da morte... e quanto menos casas forem feitas, menos chances haverá de os preços descerem nos próximos tempos.

Ou seja, se o piropo começar mesmo a ser punível com pena de choldra, a profissão de pedreiro e trolha está claramente em risco - inclusivamente a mão de obra estrangeira, já que a primeira coisa que aprende na língua portuguesa é a asneirada, obviamente. E se o ofício está em risco, o equilibrio desejado no mercado imobiliário também!

A quem de direito peço, portanto, que nova revisão do Código Penal seja feita quanto antes... porque em breve vou precisar de comprar casa.

Obrigado.

"Cá um beijinho, minha assassina!!!"

Hoje, um texto mais ou menos sério. Mas só hoje...

Confesso que em férias tento pouco informar-me acerca do que me rodeia. Vejo e oiço poucas notícias e também não faço grande esforço para comprar os jornais do dia. Aliás, opto regularmente por não os comprar mesmo. Prefiro ler bandas desenhadas ou não ler nada de nada quando o tempo é de ócio.

Por isso, quando ligo a televisão e vejo que há muita gente à frente de uma delegação regional da Judiciária – onde normalmente (mesmo com directos televisivos a decorrer) não se via ninguém além dos jornalistas – sei de imediato que algo de escabroso está para acontecer.

Ao que percebi (poucos segundos depois de ter passado por um dos jornais das nossas televisões), mesmo com a televisão sem som, o “Caso Madeleine McCann” deve estar perto de um desfecho… e o povão está à espera disso.

O povo português (normalmente, eu escrevo Povo, com “P” maiúsculo; neste caso… prefiro não o fazer) tem o fantástico dom de perceber que vai haver peixeirada ou que se aproxima uma boa oportunidade para haver algazarra das antigas… e não perde a chance de se chegar perto… para o que der e vier.

Assim é, pelos vistos, com o caso da pequena Maddie. Quando a criança (alegadamente) desapareceu, o povo apareceu em força na Praia da Luz. Não tanto porque poderia haver barafunda mas para ver o aparato das televisões (nacionais e estrangeiras) a atropelarem-se para fazer os melhores directos (para quem ainda não presenciou algo do género, asseguro eu que é um espectáculo muito catita – ao nível das melhores emissões dos Jogos Sem Fronteiras mesmo!). Para isso e para – se possível – dar uma palmadinha nas costas do Gerry McCann e, claro, um abraço e um beijinho à Kate McCann (obviamente, com a imprescindível frase bem portuguesa “Cá um beijinho, minha querida… coitadinha!”). Fica bem aparecer na televisão a ser solidário para com quem (alegadamente) sofre. E o povo português lá está, na hora, em "primeira fila", a fazê-lo.

Nessa altura, ninguém aparecia à frente da Judiciária de Portimão.

Agora que os resultados das perícias forenses de Birmingham chegaram ao Algarve e os pais da criança foram chamados a interrogatório… está o circo montado. Ele é gente a amontoar-se atrás dos repórteres que fazem os directos, à frente da porta principal do edifício, de um e do outro lado da rua… a espera de ver o que aquilo dá, esperando secretamente (ou nem tanto assim) que dê… para o torto e a oportunidade de chamar “Assassiiiiiino!!!” a alguém (com as televisões “a ver”, naturalmente) não se perca. Mesmo que seja aos próprios McCann, o casal a quem alguns dos actuais mirones de Portimão deram miminhos em Lagos há uns tempos atrás.

A peixeirada não tarda aí. Está mesmo a ver-se. E de uma coisa podemos estar certos (até porque todos vimos o que aconteceu na Figueira da Foz, com os tugas a tentarem linchar um espanhol que matou gente… em Espanha e que, por cá, só roubou uns guitos e pouco mais). De que, quando a algazarra começar, o povão vai dar um espectáculo digno de ser lembrado como (mais) um (triste) momento de “alto gabarito” de Portugal.