O Meu Lugarzinho no Céu

Portar-me bem; ser bonzinho; não fazer (nem dizer) asneiras; ser solidário para com quem mais precisa; ajudar uma velhota numa passadeira; gostar incondicionalmente das criancinhas e nunca lhes fazer mal (o que, estranhamente, se aplica também a todos os animais – os de estimação, de zoológico e até os mais perigosos da mais densa selva da África Austral); tentar tanto quanto possível andar com roupa interior limpa, para o caso de alguma vez ter de ir para o Hospital de urgência e não passar vergonha; dar esmolas; ser um condutor exemplar; plantar pelo menos uma árvore; defender a todo o custo as pessoas amigas; … etc., etc., etc.

Tudo o que acabou de ler são conselhos que, ao longo dos anos, me foram sendo dados por imensa gente, (alegadamente) para que eu fosse visto por todos como um tipo porreiro, às direitas, honesto e, a cada boa acção feita, com um lugarzinho mais garantido no Céu.

Essa lenga-lenga do ser maneirinho para não ter, mais tarde, grande oposição do São Pedro para entrar pelas portas do Céu adentro e de, se possível, ter lá guardado um lugarzinho porreiro, na verdade, nunca pegou lá muito comigo. Não sou gajo de pensar tão à frente. Se opto por viver com base no dia-a-dia e não em planos muito a prazo, dificilmente perco tempo a pensar naquilo que me vai dar jeito daqui a uns tempos (se tudo correr bem, daqui a uns anos valentes), depois de expirar pela última vez. Sinceramente, não estou assim tão preocupado em precaver-me e planear o que vai acontecer depois de eu bater a bota.

Mais a mais, ser certinho e direitinho para conseguir um lugarzinho no Céu já é uma chatice imensa, quanto mais quando não se sabe exactamente que lugarzinho é esse que (alegadamente) estará à minha espera… se é que está mesmo. Também isso não é possível saber com uma satisfatória exactidão.

Convenhamos… O Céu não tem uma cabal política imobiliária. Aliás, o que me parece é que não tem mesmo política imobiliária nenhuma. Eu explico, até porque (de tanta mudança feita ultimamente) de imóveis percebo eu.

Quando nos dizem “Sê bonzinho! Vais ver que ganhas o teu lugarzinho no Céu!”, ninguém nos dá sequer a escolher a nuvem em que esse lugarzinho fica!... E isso quer dizer o quê, exactamente? Que o nosso lugarzinho (ganho com o esforço e a chatice de longos e longos anos de boas acções) só nos é atribuído na hora da morte, assim meio em cima do joelho? Que ficamos condicionados ao “stock” de lugarzinhos existente naquela hora? E quem determina quem fica com que lugarzinho fica? A escolha é nossa ou do São Pedro? Será ele o senhorio a quem temos de prestar contas? E há fotos para a gente ver ou o argumento deles é “Não tiveste tempo em vida para olhar para cima? O Céu esteve sempre ali, por cima da tua cabeça, totó!...”?

Não vejo isto com bons olhos, tenho de o dizer. Com as oscilações no mercado que se têm visto, quem me garante que o termo “lugarzinho” não esconde isso mesmo (um lugar…zinho, pequenino, mínimo, se calhar mais pequeno que um TZero)? É que – diz-se por aí – um T3 de jeito está “pelas horas da morte”, mas por altura dessas… mesmas horas, eu já queria saber a que número de “assoalhadas” terei direito ou se (apesar de me ter esforçado e tal) vou ficar acanhado numa nuvem minúscula, cinzenta, húmida, ao pé de uma barulhenta trovoada e, quando olhar para o lado, tenho um tipo ricalhaço (sem nunca ter sido bom para ninguém) à larga numa nuvem grande, branquinha, confortável e com uma vista fantástica sobre uma ilha paradisíaca no Pacífico.

Não sei por quê… estou desconfiado que, na hora fatal, é isso que me vai acontecer. Talvez essa coisa de ser bonzinho em vida para ganhar um lugarzinho no Céu após a morte esteja realmente sobrevalorizado. Mas… também não sei por que é que me preocupo com isto. Afinal, não sou gajo de pensar assim tão à frente.

Óscares & Múmias, Lda.

De volta, após uma paragem para férias, para tentar fugir ao Carnaval, para tratar de assuntos pessoais, familiares e profissionais, para outras coisas mais fúteis... ou só porque me apeteceu tirar uns dias sem escrevinhar.

Mas... de volta, bem a tempo de ver uma (mesmo que a palavra não exista) catitíssima cerimónia de entrega dos Óscares (logo a única que consegui ver mesmo todinha, de fio a pavio! Espectáculo! Muito boa mesmo!) e de me aperceber que há um programa chamado Mummy Investigators (ou Mummy Investigation, não sei bem... mas vai dar ao mesmo) na 2: , esse grande canal atribuído (há um Decreto-Lei a prová-lo) à dita "Sociedade Civil". A mesma Sociedade Civil que, claramente, se rebola de felicidade por haver um (pseudo)documentário/reality show de dois cientistas todos estilosos tipo surfistas e tal que percorrem o mundo (ele há gente com vidas muito boas! A sério!...) para fazer TAC's (sim... ressonâncias magnéticas, autópsias e tudo) a múmias, dentro e fora de sarcófagos, para tentar perceber quem era o falecido-embasamado tornado múmia e guardado dentro de um caixão vertical numa pirâmide que mais não era que um jazigo muito... mas MUITO GRANDE.

Extraordinário! Já não me bastava ter visto o grande Peter O'Toole parecer, ele próprio, uma mumificação do Lawrence da Arábia (o velhote está mesmo com ar do que é... mas continua um grande senhor - valha a verdade) e a malta do "Babel" desejar, ao fim da noite, desesperadamente meter-se num sarcófago, para evitar a vergonha da retumbante derrota... Agora, ver múmias à séria serem "investigadas" por cientistas de brincadeira... em plena televisão pública (perdão; da Sociedade Civil)...!

Se calhar, devia ter-me mantido de férias por mais uns dias... só para não correr este tipo de riscos...

Querida Amiga Júlia

Estou em apuros!

Na sequência de algo que me sucedeu ontem, estou em vias de escrever uma carta à Júlia Pinheiro (perdão… à Amiga Júlia, como se auto-intitula) numa daquelas revistas cor-de-nhanha. Já que ela diz que ajuda as pessoas que escrevem para lá com problemas… e eu tenho um problema… se calhar, até nem é mal pensado.

No entanto, antes de a enviar, queria aqui deixar um primeiro esboço, à consideração do InSensato Leitor que (não sendo tão prendado na resolução de problemas quanto a Julinha-Amiguinha-do-Povo e não estando, por isso, habilitado a ajudar-me) sempre poderá opinar sobre a forma da carta – se está bem ou mal para ser recebida e lida pela resolvedora-de-problemas-mor deste nosso Portugal. Ok? Obrigado. Então aqui vai…


Querida Amiga Júlia:
[pelos vistos, é assim que toda a gente começa a cartinha]

Estou com um problema que – diria – é grave como o catano
[vamos lá ver se ela não leva a mal o termo “grave”]. O que acontece é que fui cortar o cabelo. Logo aí, fui tentar resolver um problema, porque quando estou com o cabelo grande, aquilo parece uma juba de um leão e torna-se difícil não parecer mal e para dar um jeito naquilo… é, no mínimo, complicado… mas pronto… estou a desviar-me do tema, embora só um bocadinho. Dizia eu que fui cortar o cabelo e, no final de tudo, a gaja que me cortou o cabelo [será que a Julinha não se chateia – feminista que é – de eu chamar “gaja” à gaja que me cortou o cabelo…? Não sei o nome dela… olha… vai “gaja”. Que se lixe!] disse-me que a culpa de o cabelo se tornar numa juba é… minha! Olha que caraças! Culpa Minha!?! Então… mas… como minha?!? Perguntei-lhe de que raio estava ela a falar (disse-lhe: “Como disse…? Desculpe… Estava meio distraído…”) e ela respondeu-me que, por causa de DOIS remoinhos que tenho no escalpe, o facto de pentear o cabelo da esquerda para direita é uma cagada em três actos (bom… quer dizer… não foi bem assim, com estes termos… mas foi isso que eu percebi que ela me estava a querer dizer. A parvalhona petulante! O que ela disse foi: “Devia pentear-se para o outro lado, sabia?”) E eu fiquei… “Olha lá, ó minha esparvoada de merda! (desculpe, Júlia, usar este palavreado, mas isto deixa-me muito nervoso) Mas quem és tu para me estares a ensinar coisas sobre o cabelo?!? Deves pensar que és cabeleireira ou coisa assim!...” – isto pensei eu, não disse; na hora, murmurei só um “Ah… é…?”. É que eu nem sequer sabia – veja lá, Júlia – que tinha DOIS redemoinhos! Sempre conheci só um, mesmo na moleirinha, e não dois! Ela lá me disse que havia outro aqui no cocuruto… mas eu não estou convencido. Ela – parvinha que estava em dar-me um sermão acerca dos meus hábitos de cuidados capilares (ou, então, só numa de dar conselhos… mas ela não é a Amiga Júlia, por isso…) – lá insistiu e disse que, talvez se me habituasse a pentear-me da direita para a esquerda, eu ganharia mais com isso. Mais uma vez, também disso eu não estou convencido, porque fala-se por aí muito mal por aí das cabeleireiras, das gajas das manicuras, pedicuras e esteticistas afins, sabe? E daí que não sei se deva confiar no que esta tipa me disse. Imagine você, Amiga Júlia, que ela, para rematar, ainda disparou “As moças iam gostar mais de o ver com o cabelo penteado para esse lado!”… e aí eu passei-me! Furibundo, levantei-me da cadeira, sacudi com força os cabelos cortados que tinham pousado na roupa, saí dali e, cara-a-cara com ela, retorqui, impiedoso: “Quanto é que eu devo, se faz favor…?”. Ela lá me disse o preço, eu paguei e seguimos, cada um para seu lado, as nossas vidas, sendo que eu tive a certeza de que ela ficou, naquele momento, a saber que massa eu sou realemente feito. Só para ela aprender!... Ainda assim, feitas as contas, continuo com um problema, Dona Amiga Julinha [se calhar, se eu lhe chamar “Dona Amiga”, ela responde mais rápido… não sei…].
Como é que é, se ela tem um pingo que seja de razão e eu não me habituo a pentear-me da direita para a esquerda em vez de da esquerda para direita? E se o meu futuro depender disso? Problema do camandro!... Será que me pode ajudar?

Assina: Amargurado de Oeiras

Engordar: Prós e Contras

Ao contrário do que tinha previsto há cerca de um ano (o que denota que eu tenho boa capacidade de planeamento), em vez de estar mais magro… engordei. Não muito mas um bocado, de moldes que se nota uma certa proeminência na zona da pança. Pronto… estou com barriga. É a forma mais directa de o dizer. Nem tanto por comer muito, mas acima de tudo devido à natureza da minha actividade profissional. No entanto, nem tudo é mau. Engordar tem coisas más mas também alguns pontos positivos. Atentemos em alguns, de um lado e do outro.

PRO
Engordar significa que, de alguma forma, relaxámos. E relaxar é bom, porque é sinal de que, pelo menos, não andamos tão tensos quanto andamos normalmente, às voltas com o stress e assim.

CONTRA
Engordar põe-nos sob os olhares críticos das pessoas, tanto aquelas que gostam de apontar que um gajo está mais gordo para depois toda a gente reparar que elas estão mais magras (a troco de uns bons contos de reis no ginásio ou no consultório estético), como daquelas que, também sendo anafadas, não gostam de se sentir sozinhas no escrutínio público.

PRO
Engordar é, quase sempre, significado de viver melhor, com melhor disposição. Não será por acaso que se diz que os “gordinhos sorriem mais e são mais felizes”.

CONTRA
Engordar dá-nos, obviamente, motivos para ficarmos preocupados. Para além dos comentários jocosos, há a questão da saúde, da mobilidade, da roupa que deixa de servir e da “obrigação” em vestir mais peças de tons negros para disfarçar a barriga. Pequenos pormenores que tornam a vida um bom bocado mais aborrecida.

PRO
Engordar coloca-nos também em situações estranhas mas de que podemos, ainda assim, sair mais ou menos airosamente. Por exemplo, sempre que encontramos alguém que nos diz “Estás mais gordo!”, temos a hipótese lançar a velha máxima “Tens razão! Há uns tempos que andava a pensar fazer dieta… agora é que é mesmo! Vou começar já amanhã!”. Fica sempre bem dizer algo como isto.

CONTRA
Mas engordar e tentar sair dessas situações assim “de fininho” pode não correr tão bem quanto desejamos. Recitar a lenga-lenga da “dieta do dia seguinte” a pessoas com quem se convive diariamente está fora de questão, porque uns dias mais tarde (poucos), facilmente topariam que mentimos. E mesmo a outra malta, que só nos vê “quando o rei faz anos”… Pá… É preciso ver que, mais tarde ou mais cedo, já não haverá assim muitos mais conhecidos desses a quem não tenhamos espetado a peta. Ou seja, se não cumprimos o prometido (leia-se, a dieta), estamos lixados e acabamos por ser julgados e condenados de forma bem mais “violenta” do que o comentário inicial “Estás mais gordo!”.

PRO
Comer a pensar que vamos engordar há-de fazer mal, com certeza. Comer pouco, contrariado, por mera obrigação para não engordar, deixa-nos com fome. E se comer é bom e dá prazer…! Não há nada pior que reprimir uma boa sensação. Torna-nos amargos, mal dispostos e tal. Estou em crer que Freud não explicaria isto. Mas o Chefe Silva de certeza ajudaria a perceber melhor este fenómeno.

Haverá mais razões a favor e contra o facto de a malta engordar como eu tenho engordado, certamente. Repito que não ganhei assim tanto peso quanto se possa imaginar pelo texto que agora chega ao fim mas há, de facto, alguma gordura a querer desesperadamente (mas sem sucesso) sair do meu corpo por todos os poros e outros orifícios, tais como os ouvidos e as narinas, para além dos buraquinhos do escalpe. Não fossem esses estar já ocupados por cabelo… e a coisa seria tramada.

Reading Material To Die For

Se há uma coisa com que lido especialmente mal é a morte. Não me adapto a parte nenhuma de todo o conceito de, de repente, tudo isto (de viver e tal) parar.

Também não me dou bem com a coisa dos velórios de corpo presente, das urnas abertas, dos cemitérios com jazigos, gavetas e muitas pedras mármore em forma de livros com as fotos dos defuntos em tom sépia, de cruzes e de anjos e santos. É muito… “fado”. Muito fatalismo e sofrimento voluntário. É demasiado latino. E nisso, nós latinos, somos mesmo um bocado parvos.

Mas, acima de tudo, não consigo conceber aquela outra parte em que o dia que até é necessário para o recolhimento e assim… é passado em burocracias sem fim, lidando com agentes funerários que lucram (abundantemente, diria) com a dor alheia, discutindo com padres (que muitas vezes nem conhecem o ente falecido) as horas para uma simples missa (que até pode não acontecer, se o padre não estiver para aí virado), tentando encontrar uma igreja, uma capela, uma sala que albergue o velório… enfim… um sem número de afazeres que, se a malta não estivesse tão preocupada em viver a sua vidinha, até perdia um tempinho a tratar antecipadamente, que era para quando chegasse a nossa hora, não desse grande trabalho a quem é apanhado de surpresa com a triste notícia.

Mas pronto. Essas coisas são o que são e a realidade mostra-nos que, se dificilmente a nossa cultura muda em relação a outras coisas… também nisto será complicado ser de outra forma.

No entanto, há sempre coisas que nos fazem levantar a sobrancelha de espanto, mesmo que a hora não seja propriamente a de fazer grandes expressões faciais que chamem a atenção de quem chora a morte de alguém querido.

Reparei, recentemente, que os serviços fúnebres estão agora a oferecer alguns préstimos inéditos. Para além da máquina de café expresso à porta do velório, alguns oferecem mesmo a opção de chá. Em qualquer um dos casos, os pacotes de açúcar são da empresa que assegura o serviço, com contacto telefónico e tudo (não vá alguém precisar de ligar a uma agência funerária enquanto bebe um café… num velório).

Outro dos pormenores com que me deparei foi o de uma pequena mesa, ao canto da sala de espera, que antecede a sala onde se vela o falecido, propriamente dita. Nela [mesa], estão algumas publicações, pelas quais os enlutados podem passar os olhos, tirando o pensamento da tristeza da hora. No entanto, a selecção de material de leitura é algo preocupante.

Se consigo perceber facilmente a existência de vários números da revista “Fátima Missionária” e até da “Volta ao Mundo” (por causa de todo o conceito de “paraíso” e tal), já me é mais complicado entender as outras três opções à disposição. A “Exame”… nunca a tinha imaginado como de interesse para quem acaba de perder um ente querido, nem sei mesmo como o poderá ser. O… “Correio da Manhã” é simplesmente… muito estranho de o ver neste contexto, mas… vá lá, vá lá… não era o “24 Horas”…! Por fim, o píncaro do bizarro – e recordo que falamos hoje de publicações disponíveis num velório –, o jornal desportivo “Record”…! E sobre este prefiro nem fazer comentários. Aliás, faço um. Será que, numa hora daquelas, alguém está “mortinho” por ler o “Record”…?

O "Síndrome Carrie Bradshaw"

O início da discussão em torno da temática da Interrupção Voluntária da Gravidez tem posto sob as luzes da ribalta blogosférica um tipo de escrita giro. Giro, acima de tudo, sob a perspectiva de como se gastam linhas e linhas e letras e espaços e virgulas e hífenes e acentos circunflexos e mais mil coisas só para insultar os defensores do Sim ou do Não, com o pretexto de que se estão a debater ideias e a esgrimir argumentos válidos. Ou seja, o que mais se vê escrito por aí, nos blog's, acerca do Referendo, é uma data de impropérios dirigidos de um lado para o outro da barricada e vice-versa.

Nesse "fogo cruzado", reparei num comentário deixado num post de um blog cor-de-rosa choque (que se tornou site - tipo "pontúcóme" - há uns tempos atrás, com a edição do respectivo livro), onde um defensor do Não caracterizava desta forma a escrita da autora do post: «São muito melhores as meninas betinhas (ou senhoras, dependedendo da idade) que adoram mostrar que são rebeldes e que ate escrevem com palavrões... Essas sim é que são corajosas e anti-hipócritas!».

Em primeiro lugar, este desabafo divertiu-me, como de resto me têm divertido semelhantes comentários no sentido inverso (do Sim em relação aos defensores do Não) em outros blog's e debates que vão surgindo amiúde na nossa comunicação social. Depois, e como sou um tipo curioso, fui ver o que realmente este senhor queria dizer com «as meninas (…) que adoram mostrar que são rebeldes e que até escrevem com palavrões». Mergulhei um pouco mais fundo na blogadura, ainda que sem me afogar.

A verdade é que não foi nada difícil encontrar burgos de mulheres que escrevem com um determinado estilo; independente, rebuscado, às vezes ríspido mas com humor e ironia, lado a lado com uma incisiva crítica social e anti-sexista; ou melhor, sempre anti-machista e quase sempre pró-feminista (pronto… lá vão chover críticas outra vez, dizendo que sou machista).

No fundo, o cenário bloguístico de Portugal está repleto de potenciais Carrie Bradshaw's e a gente não sabia! Elas são muitas e escrevem de uma forma muito particular. Sendo que… por "particular" podemos e devemos entender um certo decalque do estilo usado pela criadora da série "O Sexo e a Cidade" para a personagem "Carrie Bradshaw", a cosmopolita escritora de crónicas sobre os homens e as relações com eles mantidas; sem rodeios, sem pudores, com ironia e alguns palavrões à mistura.

A mim, parece-me bem. Um bom decalque não significa cópia descarada. Pelo menos, é o que se diz por aí, desde que aquele senhor famoso se viu a contas com um blog que o acusava de plágio. A partir daí, vale tudo. Baseando-me nisso, então, estou em crer que não fica desprovida de razão uma incursão minha nesse nicho da escrita… mas em versão macho.

Já idealizo uma nova série de escritos - talvez mesmo a criação de um novo blog, por que não? - com um título muito aproximado a este: "O Coito e a Vila do Interior" ou "O Amasso e o Lugarejo de Casalinho da Serra".

Nessa nova aventura literária (que - não excluamos cenário algum - até poderia vir a resultar numa série televisiva de ficção), o autor (eu) analisaria com pertinência, astúcia e alguma crueza de discurso, as difíceis relações com a fêmeas da região. Deixo aqui - em jeito de ante-estreia - um pequeno excerto do texto-piloto.

Acordo com a luz do cabrão do sol (que passa pelas frestas do estore) a bater-me nas trombas. Foda-se! Não há direito, caraças! Rebolo no colchão e não consigo mais do que só um bocadinho. Do outro lado da cama está uma quenga que logo identifico como sendo a Maria Gertrudes, a agente dos seguros que, sendo a única gaja que não se preocupa em fazer tricot nem em ver telenovelas à noite, se atira a todos no café do Manel Estucha, lá no centro da vila. Não me lembro como veio cá parar… mas também não admira… Tamanha foi a cadela de tinto carrascão em copo de três que apanhei!... Já há muito se vinha fazendo ao piso, a cabrita, já…! Mas desta vez é que foi… pelos vistos, digo eu, que não me lembro de nadinha… Caraças!... que o vinho a martelo dá cabo de um gajo!... Agora, resta-me saber o que fazer com esta tipa; se a mando daqui pra fora e a mando já à merda ou então se vejo se ainda há lucro a tirar da situação, que a gaja perece-me ainda meio bebida e, portanto, disposta a tudo. Lá pronta está ela, digo eu. E com a fominha com que ando, mais vale esta que outra vez a porra da empregada de limpeza da Maria Otília que cá aparece de vez em quando para passar o lustro à peça.

Que tal? Tenho futuro…?