Quão Parolo é Você?


Há coisa de mais ou menos uns tempos, fiz um programa de rádio. Também por essa altura, tive uma conversa com uma amiga minha que me deixou a pensar. Nada teriam a ver estas duas coisas, uma com a outra, se não houvesse algures um denominador comum (que é – segundo o que ouvi dizer uma vez em que estava... inocentemente... de orelha espetada numa porta – algo que costuma relacionar uns factos com outros, fazendo uns ter a ver com os outros).

Pois é. Quando pedi aos meus amigos e conhecidos sugestões para o nome do programa que haveria de lançar no éter (sempre quis dizer isto, embora seja de uma parolice imensa – mas sobre isso já falaremos mais em pormenor), as propostas – tenho de confessar – chocaram-me acima de tudo por uma certa… como é que se diz…?... Ah! Palermice! Isso! Exemplo: “Com o K@ no ar… é sempre a bombar!” Palerma? Penso que a resposta é óbvia.

Tentei fazer ver isso ao autor de tão belo slogan. Tudo correu bem (leia-se, o tipo pensava que eu estava a brincar com ele quando lhe disse que não podia usar aquela parvalheira no FM) até ao ponto que lhe tive de berrar aos ouvidos que a frase era parola. Aí o gajo chorou e até hoje não me fala – pronto… revelou-se nesse momento o lado feminino dele (o que é saudável, entenda-se, mas não dá grande jeito se for numa altura em que se fragiliza o ego da pessoa em causa porque de repente é um pranto e um dramalhaço que ... faz favor!).

No entanto, não podia ter sido de outra forma, visto que segundo uma fórmula que eu próprio criei – e que, portanto, é boa – [Parolice = (Palermice Natural + Parvoíce de Discurso + Dúbias Opções no Vestuário) x Presunção de que se é o Maior : 100], a sugestão do meu (ex-)amigo era qualquer coisa como 87% parola, o que é – convenhamos – muito para um nome de programa de rádio e, logo, inaceitável.

Quanto à outra conversa (a tal que me deixou a pensar), foi sobre um terceiro. A minha amiga disse-me que, uns dias antes, uma colega de faculdade tinha chegado à beira dela toda animada por ter conhecido um tipo muito porreiro na net mas que no dia seguinte já a animação tinha desvanecido, porque quando os dois se encontraram para conversar e beber um café ele lhe tinha parecido (e passo a citar) «subtilmente parolo».

Esclareci a minha amiga de imediato, dizendo que a minha fórmula (de natureza puramente científica) não permitia meios-termos como subtilmente parolo. O que a malta precisa é de percentagens. Para isso, pedi-lhe para perguntar à colega como o tipo lhe pareceu antes e depois do encontro. A resposta foi que, antes, ele lhe tinha falado de filmes (bons) de que, alegadamente, gostava, de (boa) música e de (bons) hábitos de exercício físico que defendia e praticava. Depois, pelos vistos, o discurso foi outro. Que “ganda filme” (que tinha visto na televisão antes de sair de casa) era o “Stallone: Prisioneiro”, que estava super contente por já haver uma versão “do caraças” do tema Kayleigh dos Marillion que a banda de bailes de uns amigos (chamada “Báylamâky”) tinha tocado no salão do Desportivo lá da terra dele e, para completar o ramalhete, o moço trazia a camisa branca bem aberta para ver os três pêlos do peito e a corrente de oiro que trazia ao pescoço. Ah! E tinha barriga de cerveja.

As contas foram feitas num ápice. O gajo era 99% parolão (mais de 100% parolo e mais 99% do grau acima disso: parolão – ou parolaço, conforme o gosto de quem classifica o sujeito em causa). A única coisa que não o dava como totalmente parolão era o facto de até achar o Kayleigh uma boa música – e há que dar valor a isso. Mais de resto, qual subtilmente parolo, qual quê?

A moça – sabendo disto, vim a saber – chorou muito e até hoje não fala com a minha amiga. De repente, deixou de se interessar por tipos que a contactem no Messenger e fez uma data de novas amigas, bem como cortou o cabelo curto e desenvolveu um súbito e forte gosto por camisas de flanela de lenhador e botas da tropa. Pronto… ao que parece, revelou-se-lhe assim de repente o lado masculino (o que, entenda-se, até é muito saudável… Só é chato é ser… deixa cá ver… 93% parolo).

O Drive-Thru dos McPaizinhos


Por viver junto a uma escola, sou forçado a escrever este InSenso de alerta ao Ministério da Educação. Instituição que, também neste assunto (como, basicamente, em todos os outros), anda a dormir um bocado na formatura.

O acompanhamento da entrada e saída dos miúdos pelo programa Escola Segura é um bom princípio mas não resolve todos os problemas das entradas e saídas das crianças e dos jovens nos estabelecimentos de ensino do nosso país.

Aliás, os agentes de autoridade destacados para as escolas até são eficientes a evitar o crime (rapto, tráfico de drogas, violência física e verbal, etc.) quando a campainha toca pela manhã ou ao fim da tarde mas, por outro lado, são completamente impotentes no que toca a dominar quem mais problemas cria nessas horas delicadas de chegada e partida dos alunos: os pais.

Quem – como eu – mora à beira de uma escola sabe disto perfeitamente, porque sair ou chegar de automóvel a essas horas torna-se – se não impossível – uma tarefa terrivelmente complicada, dada a gigantesca aglomeração de carros (maioritariamente do segmento familiar; grandinhos, portanto) que se juntam à porta dos liceus, primárias, creches e colégios de Portugal às 8 da manhã ou às 5 da tarde, mais coisa menos coisa.

Tantos são os automóveis estacionados em cima do passeio (mesmo “em cima” da porta da escola) e parados em plena via à espera (para também ter a oportunidade de estacionar “em cima” da porta) que a rua fica num engarrafamento pegado. Por que é que isto acontece? Porque os papás querem (e querem… porque querem) deixar os filhos DENTRO da escola. Não ali perto, não; lá dentro mesmo. Poder, não podem. Conseguir, não conseguem… Mas lá que querem, querem! E porque não podem, tentam; sendo que o melhor que conseguem fazer é estacionar no local mais próximo da porta, para que seja só necessário aos rebentos tirar o pé da viatura e já estar em terreno escolar.

Evita-se assim – e os papás é que “sabem” sempre o que é “melhor” para os seus filhos – que os “coitadinhos” dos meninos não andem muito (sim… passar na passadeira desde o outro lado da rua faz muito mal às crianças). Logo de seguida vem o carro imediatamente atrás e faz o mesmo. Assim se passam uns bons (e largos) minutos de grande sentido cívico dos encarregados de educação e de agradável espera dos habitantes da zona.

Senhora Ministra da Educação, andamos distraídos, não andamos? Então não está bem de ver que esta situação (a que se pode assistir de Norte a Sul – não sei se nas ilhas também assim será) tem uma solução tão fácil quanto boa para a sua imagem pública (que, convenhamos, actualmente não é assim grande coisa)?

Basta que se permita aos paizinhos entrar MESMO pelos portões das escolas e criar um corredor rodoviário em torno dos edifícios das mesmas, com uma saída na outra ponta. Bem ao jeito de um McDrive, os papás poderiam deixar os filhos já dentro da escola (os meninos nem precisavam de andar para lá chegar… porque já lá estavam). Não lhe parece bem, Senhora Ministra? E quem disse que a fast-food nada traz de bom às nossas vidas?!?

Tudo bem que os agentes da Escola Segura se calhar ficavam sem grande coisa para fazer… mas a cena da mobilidade de excedentários está em grande (nas vossas cabeças, pelo menos). Pense nisso. A mim dava-me um jeito desgraçado para poder entrar e sair melhor do parque de estacionamento do meu prédio de manhã e ao fim da tarde. Veja lá disso, ok?

Post Polémico Sobre Patrões e Empregados

Suspeito ligeiramente que me vou lixar com este InSenso. Porque não há gajo minimamente inteligente que decida dar trunfos a quem lhe possa fazer mal. Mas como a teoria pode valer-me um certo guito no futuro… cá vai… e seja o que Deus quiser.


Há uns dias, comecei uma conversa via chat com uma amiga minha da seguinte forma singela: «Foda-se!!!». Ela pensou que se tivesse passado alguma coisa de mal comigo e apressou-se a perguntar se estava bem. Eu… estava. Simplesmente me tinha apetecido dizer um valente palavrão e, no local de trabalho – ouvi dizer há uns tempos – não convém dizer palavrões em voz alta. Diz que há malta que não gosta e tal… Enfim…


De entre essa malta que não gosta de ouvir palavrões no local de trabalho estão os chefes, ao que parece. Os mesmos que – desconfio – também não devam gostar de que a malta converse nos chats em horário de expediente. Por isso, dizer o palavrão ou escrevê-lo são, ambas, infracções de igual calibre à conduta profissional preconizada pelo patronato. A diferença, neste caso, é que o palavrão dito em voz alta é audível e, por isso, perceptível e o palavrão escrito numa janela do ecrã de computador emite apenas um ruído, o das teclas, que não se percebe. É esta a questão que me leva a escrever o texto pelo qual o InSensato Leitor agora passa as vistas – claramente porque não tem nada melhor para fazer.


Então e se os chefes pudessem identificar os sons das diferentes teclas, conseguindo dessa forma perceber o que os seus subalternos funcionários de meia-tijela escrevem em horário laboral? A questão é – há que admitir – pertinente.


Está visto que o futuro da relação patrão-funcionário passa por uma vigilância cada vez mais próxima da teoria Big Brother levada a cabo pelos chefes sobre os empregados. Amiúde – apesar de ligeiramente ilegal – já são instaladas câmaras de vigilância só para controlar os trabalhadores; e quem diz câmaras diz também sistemas de escutas e de monitorização dos e-mails, muito embora neste último caso seja impossível em tempo real saber-se o que o funcionário escreve – só se sabe quando o mail já seguiu… e aí já será tarde para evitar algum inconveniente.


Se os patrões tivessem alguma forma de identificar instantaneamente o som das teclas de computador premidas pelos empregados para escrever mensagens, o controlo seria, à falta de melhor palavra, total. Ou seja, se houvesse um curso que ensinasse quem manda a perceber o que quem trabalha (ou supostamente devia trabalhar mas não trabalha) escreve nos chats e nos e-mails – muitas vezes sobre os seus superiores – estou certo de que não haveria falta de formandos.


Estou, portanto, a considerar arranjar uma maneira de ensinar esta malta graúda a quilhar a arraia-miúda que recebe os cheques ao fim do mês como se nada fosse apesar de ter passado várias horas por dia a falar mal do chefe. Nesse sedntido, vou arranjar um plano de estudos e propor a criação do “Curso Avançado de Percepção Sonora de Teclado de Computador”. Nome pomposo, claro, para apelar ao público médio-alto - aquele com guito, entenda-se.


Sei o que está a pensar o InSensato Leitor, também ele provavelmente um assalariado com muito asco ao patrão e bílis solta em milhares de caracteres semanalmente, à revelia do patronato. Basicamente, está a dizer “Tu estás a lixar-me como gente grande, pá!”.


E eu sei que estou. Mas, como assalariado que (também) sou, tenho obrigação em sentir-me permanentemente injustiçado com o ordenado que aufiro. No entanto, em vez de falar mal do chefe (que também falo, claro), prefiro capitalizar uma boa ideia. E se são os patrões quem tem mais dinheiro para gastar… mais vale entalar a empregadagem (lamento imenso, malta!), que conta os tustos ao fim do mês com vista a um bem maior: o reforço da minha conta bancária.

Despudorado Incentivo à Pornografia


Gosto de pensar que a malta que faz buscas no Google por peitudas, rabudas e linhas eróticas e aqui vem parar o que quer mesmo é encontrar o InSenso Comum, obviamente.

Por isso, hoje estou a disposto a dedicar um post a todos os tarados sexuais que leiam este blog. E, assim sendo, faço uma proposta inédita a esses pervetidos leitores.

Em data a combinar, toda a rapaziada que vive com o pito permanentemente aos saltos deveria pegar nos seus carros e dirigir-se para a zona da Expo98 (hora e ponto de encontro também a acertar). De lá partiria o maior número de viaturas possível, ocupadas por casais prontos a dar largas à vocação carnal. Destino: Alcochete.

Uma vez chegados à ponte, os participantes deste bonito evento encetariam o envolvimento em escaldantes cenas de sexo de modo a serem devidamente captadas pelas câmaras de vigilância das autoridades e da empresa concessionária da via.

As imagens – mesmo sendo prova de crimes como atentado ao pudor e condução perigosa – não tardariam a chegar à Internet (vão lá sempre ter, de uma maneira ou de outra) e, todas juntas, constituíram o maior filme pornográfico português de sempre, com o maior cenário alguma vez utilizado numa produção destas no nosso país e com o menor orçamento: 0 (zero) Euros.

Por fim, com o impacto mediático causado por uma “operação” deste tipo, o povo passaria a designar a ponte pelo nome dado ao filme pornográfico resultante desta gloriosa iniciativa. E com o passar do tempo, também o Governo cederia à pressão popular e alteraria a denominação daquela travessia do Tejo.

Se tudo correr bem, daqui a uns anitos a ponte vai chamar-se CHAVASCO DA GAMA.

“Eu buzino mas não apito!!!"


Antes de mais, uma informação (in)útil, para contextualizar a coisa.

Este fim-de-semana desloquei-me ao Porto em trabalho. Como estou longe de ser um expert no que concerne às avenidas, ruas, quelhas e vielas da “invicta”, recorri a boleias de colegas para ir da Estação de Campanhã para a cidade e da cidade de regresso para a Estação.

Na última dessas duas viagens, já ao fim da tarde, uma colega minha, recém-encartada, para além de me usar descaradamente como cobaia para a sua condução de maçarica, foi-me dando motivos para eu brincar com a sua inexperiência como condutora novata que é. Nada de grave, até porque não conduz assim tão mal, diga-se.

Não será, portanto, de estranhar que, quando alguém buzinou num semáforo, eu tenha aproveitado para mandar a laracha: “Não aprendeste a conduzir mas ensinaram-te a apitar!!! Espectáculo!!! Caiu o verde e tu…. Piiii Piiii!!!”.

Como não tinha sido ela (e eu sabia disso), apressou-se a responder-me a plenos pulmões: “Não fui eu!!! Eu não apito!!! Quero dizer… Eu não apito… eu buzino…”

A dúvida como que se instalou na minha mente. Que queria ela dizer com o facto de buzinar mas não apitar?!?... Fiquei confuso. Perguntei-lhe qual era a diferença mas não obtive resposta. Apenas fiquei a saber que a moça simplesmente não apita – já que fez questão de frisá-lo de novo. Já buzinar, pelos vistos, é outra história.

Afinal, o que será isto de apitar, então? Em que será assim tão diferente de buzinar para que a minha colega se tenha apressado a fazer a correcção do discurso? Será apitar uma coisa que não se faz no trânsito mas sim apenas fora dele? Não sei. Sei que apitar não é o mesmo que assobiar. Por isso, já sabemos que apitar não é buzinar nem assobiar.

Vamos com calma. Talvez seja por causa de não ter usado um apito… Mas já nem os polícias de trânsito praticamente os usam actualmente (e que saudades das luvinhas brancas e dos palanques no meio dos cruzamentos, que igualmente já caíram em desuso). Os árbitros usam apito e, sendo assim, esses sim, apitam. Mas os alarmes das casas e dos carros e até dos frigoríficos (que ficam com a porta aberta) também apitam e não têm apito… Pergunto: em que é que ficamos?

Eu não sei se apito, confesso. Buzinar, sim, buzino. Mas apitar... isso já não sei, se apito ou não – embora sempre tenha pensado que apitasse. No entanto, dada a dúvida que me assola desde este fim-de-semana, não posso afirmá-lo sem margem para dúvidas. Digo apenas que, se calhar, apito. Mas pode ser que também só buzine.

O ProctoPoder

Embora me considere um tipo difícil de impressionar, ainda há coisas que me vão admirando e surpreendendo neste mundo.

Um dos casos mais gritantes nesse particular é o facto de – ao contrário do que eu sempre esperei – o planeta não ser governado (e, por que não dizê-lo, dominado) pelos proctologistas.

É verdade. Se quisessem, os proctologistas podiam mandar nisto tudo, o que me leva a crer que, se não mandam… é simplesmente porque não querem.

Em explicando…

A sabedoria popular – a verdadeira fonte de sapiência do mundo – bem diz “Quem tem cú, tem medo”. Eu concordo. Eu tenho um cú e às vezes até me borro. Quer dizer… pode não ser exactamente borrar de medo… mas a ideia base é a de que eu tenho, de facto, um traseiro e (mesmo que a espaços) tenho, de facto, medo. E isso basta para consubstanciar o dito que o povo criou.

O resto vem por acréscimo. Se há malta com cú – calcula-se que uns quantos biliões de gente – e, consequentemente, com medo, é correcto dizer que os proctologistas têm caminho aberto para a governação do planeta. Por duas razões: uma) se toda a gente tem cú e se o proctologista trata precisamente dessa parte do corpo, o proctologista tem acesso a uma das partes mais sensíveis de toda a gente – logo aí… ; duas) até pelo descrito na alínea anterior, a rapaziada nutre um respeito receoso pelos proctologistas e, perante a iminência de ver invadido um dos seus mais delicados domínios, aperta o esfíncter (e bem se sabe que a malta tende a fazer tudo o que se lhe é exigido quando está com o cú apertado) – se o proctologista quiser ser velhaco, diz que se a malta ladrar pode evitar um toque rectal ou outro exame mais complicado e humilhante… e um gajo ladra mesmo!

Ou seja, se um proctologista tiver veia política (e o que não falta para aí são médicos nas militâncias do sistema partidário), pode muito bem e sem grandes artimanhas “convencer” um tipo a votar nele. Basta dar-lhe a entender que, se não o fizer, lhe dá cabo do “sim senhor”. Não será à balda que existe a expressão “Your ass belongs to me now!” (seguida de um riso maquiavélico). Foi um proctologista irado quem a criou.

Estou em crer que, se quisessem, os proctologistas (e vou dizer uma asneira porque se enquadra no âmbito do texto) já podiam mandar nesta merda toda. Seria preciso pouco para chegarem ao poder e, depois disso, de pouco necessitariam para manter uma forte ditadura, baseada no simples receio das pessoas em ver o rabinho cair em mãos entendidas mas perigosas.

No entanto, se ainda não o fizeram, foi mesmo só por opção. O que quer dizer que, igualmente por opção, ainda podem vir a mudar de ideias. Diria, por isso, que mais vale estarmos atentos a tudo o que se faça e diga nas nossas costas, pelo sim pelo não.

Uma Nova Linguagem

Acredito que o comum dos mortais não se tenha apercebido ainda mas há uma nova forma de comunicação a nascer a nível global.

Chamemos-lhe Mimimóvelez (quem em estrangeiro se traduzirá, certamente, como Mobilemimic, ou coisa do género).

Em que consiste? Nada mais simples.

Segundo as últimas estatísticas, já há quase mais telemóveis activos no mundo do que gente a habitar o planeta. Há pessoas com mais do que um telefone celular e – ao que parece – a utilização deste tipo de aparelhos por focas de jardim zoológico e ratazanas citadinas também já está a ser considerado.

Maneiras que a malta usa muito o telemóvel. Tanto que passamos imenso tempo com o telefone encostado ao ouvido ou, pior ainda, andamos de um lado para o outro com auricular colocado na orelha a falar “para o ar” e não ligamos nenhuma quando alguém “de carne e osso” pára à nossa frente para nos dirigir duas palavras.

Aí, funciona um princípio mais ou menos básico: se não podemos falar com a pessoa que está à nossa frente (porque estamos a falar com outra ao telefone), limitamo-nos a gesticular, tentando fazermo-nos entender com uma espécie de mímica, fazendo um misto de linguagem gestual com expressão facial enriquecida e ainda articulação de palavras em absoluto silêncio mas com evidente exagero na abertura da boca (alegadamente para facilitar a leitura nos lábios). Pronto… afinal não era assim tão básico quanto isso.

Há uns dias, à saída do trabalho, ia a falar ao telefone e cruzei-me com uma colega de outro departamento que, no hall de entrada, também falava ao telemóvel. Nem um nem outro interrompeu as suas conversas telefónicas. Mas cumprimentámo-nos, ela avisou-me que lá fora estava um calor imenso, eu consegui que ela percebesse que já não a via há uns tempos valentes e ela desculpou-se por andar “desaparecida”; entretanto, eu disse que tinha de ir andando, ela apontou para o telemóvel como que a dizer que tinha de ficar ali “agarrada” àquela conversa e despedimo-nos, da mesma forma como nos cumprimentámos, com um sorriso simpático mas muito exagerado e um “Tchau!” dito sem se ouvir som nenhum. Aliás, em toda este momento de pura comunicação, só se ouviram palavras que fossem dirigidas aos telemóveis e não um ao outro. No fundo, comunicámos em Mimimóvelez.

O mundo não pára. E nós, com ele… a mesma coisa.

Sou, por principio, um defensor da boa comunicação. E mesmo sabendo que esta não é propriamente a melhor de todas as formas de comunicar, sei que é a melhor possível em certos momentos. Agora falta é ensinar esta nova linguagem nas escolas, para que se aperfeiçoe.

Mas, mesmo assim, a improvisar, acho que já nos vamos safando muito bem.

Entretanto, no GMail…


Nos livros de banda desenhada, tudo acontece mais ou menos cronologicamente, o que dá jeito para se perceber uma história que até se vai conhecendo ao ritmo de quatro ou cinco quadrados por minuto (dependendo da quantidade dos balões de diálogo e da quantidade de diálogo em cada balão). Daí que, de quando em vez, os autores desses livros necessitem de pequenas analepses para voltar um coche de tempo atrás e mostrar o que se terá passado ao mesmo tempo noutro local que não o da acção que estava a decorrer aos olhos do leitor.

Por isso, é profusamente usada a expressão "Entretanto, …" em pequenos quadradinhos no topo das quadrículas desenhadas.

Lembrei-me disto ao consultar o meu e-mail. Que é uma coisa que fazemos claramente em regime de analepse. Ou seja, "deixa cá ver o que chegou ao meu mail enquanto eu estava noutro lado qualquer a fazer seja o que for". É uma espécie de analepse que fazemos todos os dias, várias vezes por dia.

Dentro de uma dessas periódicas analepses (Bem!... Os professores de Português que leiam isto vão passar-se um bocado de eu estar aqui a fingir que sei mesmo o que é uma analepse; mas pronto…), tive de fazer outra.

O GMail tem um sistema de anúncios que surgem ao lado da mensagem que estamos a ler, alegadamente relacionados com o teor do texto que nos foi enviado. Exemplo: se se fala de comida, os anúncios costumam ser de restaurantes. Mas, como todos os mecanismos de reconhecimento electrónico de discurso até agora criados, este também tem falhas.

O mail em questão era a resposta a um mail anterior da minha senhoria, a quem é suposto eu devolver a casa nos próximos dias, findo q eu será o arrendamento no final deste mês. Ao lado da minha mensagem, logo que foi dada como enviada, surgiram os seguintes anúncios, "relacionados" com o tema (leia-se, arrendamento, chaves, contratos de electricidade, gás e água, etc.):

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Pronto. Começando pelo princípio… Não sei se percebo a cena da oração. A não ser que seja do tipo "reza para que tudo corra bem com as últimas mudanças", ou assim.Também não entendo o anúncio das fotos, a não ser que tenha sido ali "enfiado" a força devido às palavras em casa (repetidas muito no mail) e coincidentes na publicidade ("Receba-o comodamente em casa!). A única com lógica é a referência ao negócio imobiliário… só que Málaga (embora chamativa) não é uma zona que me dê jeito de momento. A "Eficiência Energética" sei por que lá foi parar, aos automáticos links patrocinados, porque falei de electricidade, gás e água - bastou fazer este raciocínio simples para entender. Quanto a divórcios fáceis… é sempre bom saber, talvez até guardar o contacto (porque um gajo nunca sabe o que o futuro traz, certo?) mas nem sou casado, nem a minha onda agora é essa, mas sim outra. E, por fim, espero que o GMail não esteja em crer que eu sou uma gaja a pensar engravidar alguma vez na vida. Talvez a minha senhoria seja. Não sei, porque, na verdade, não a conheço pessoalmente.

Mas, pensando bem, o GMail se calhar também não.

O "brilhante" futuro da nossa juventude

Não sei se serão boas notícias mas desengane-se quem teme pelo futuro da nossa juventude. À primeira vista, sim, parecem ser boas notícias, claro. Mas contínuo a dizer que não sei se será bem assim.

Vem isto à laia de uma situação com que me deparei no centro comercial.

Numa loja de electrodomésticos e material audiovisual (vulgo, Worten), um pirralho tentava, à força toda, convencer o pai a comprar-lhe um DVD de desenhos animados (penso que era o das Tartarugas Ninja). Aparentemente, a coisa não estava a correr nada bem ao petiz (que devia ter não mais de uns 5 anitos). O papá não queria, por nada, dar-lhe o DVD. Mas o puto não se ficava. Daí que, vendo a situação escapar-lhe do controlo, o garoto iniciou o seguinte diálogo:

Puto: Pai! Anda lá! Compra!
Pai: Não, Afonso! Não compro!
Puto: Oh Pai! Porquê?
Pai: Porque não, Afonso! Desta vez não te vou dar o DVD que estás a pedir.
Puto: Mas porquê?!
Pai: Porque o pai não tem muito dinheiro, Afonso!
Puto: E porque é que não tens muito dinheiro?...
Pai: Porque o meu emprego é fraquinho e o ordenado é baixo…
Puto: Então porque é que não metes uma cunha?!?...

… Fiquei… …

Não tenho dúvidas que este miúdo vai longe. Que tem já um bom futuro mais ou menos assegurado. Acho que será, no mínimo, assessor de alguém importante. Não tenho dúvidas mesmo. Mas também poderá ser empresário de sucesso ou político (e, neste "ramo", poderá ser Autarca, Director-Geral, Secretário de Estado ou até Ministro). E, se se portar mesmo bem, ainda se arrisca a chegar a Chefe de Governo… ou de Estado! É isso que está reservado aos tipos que cedo (como o pirralho na Worten) percebem a melhor forma de subir na vida, pelo menos.

No entanto, se isto é boa notícia para o todo da nossa actual juventude (os “homenzinhos de amanhã”)… já não sei.

Não sei se me sinto de bem com o facto de um miúdo de para aí 5 anos saber o que é uma cunha, saber para que serve, e por aí além. Até porque – e é isso que me falta perceber – se TODOS os miúdos (de para aí 5 anos de idade) sabem o que é uma cunha e como usar esse “trunfo”… não estou a ver como se vão organizar.

Não. Não é porque é moralmente errado ou algo do género. É só por uma questão… logística. Mais nada. Tem de haver sempre uns quantos pamonhas (leia-se, tipos que não sabem o que é uma cunha, ou que não sabem como “meter” uma) que se sujeitem a ser relegados e humilhados pelos outros (os tais que sabem). E se, a dado momento, toda a gente domina o (mesmo) truque a tirar da manga, ou seja, a cunha… então essa cunha de nada servirá, excepto para um dos “cunheiros”. No fundo, como se sabe, só um - o que tiver melhor cunha - vai chegar ao lugar também ambicionado por todos os outros... que ficam a roer-se de inveja e a tentar perceber porque é que a cunha deles não "funcionou".

Em suma, penso que talvez seja melhor que nem toda a nossa juventude tenha sucesso assegurado quando chegar à maioridade. Por uma questão do futuro equilíbrio do sistema, é bom que ainda haja miúdos de 5 anos a não saber, já, o que é uma cunha e, por isso, é bom que continuemos preocupados com o quase certo insucesso desses nossos miúdos,… os pamonhas.

Se não, vai ser uma confusão do caraças, daqui a uns anos!