Quão Parolo é Você?


Há coisa de mais ou menos uns tempos, fiz um programa de rádio. Também por essa altura, tive uma conversa com uma amiga minha que me deixou a pensar. Nada teriam a ver estas duas coisas, uma com a outra, se não houvesse algures um denominador comum (que é – segundo o que ouvi dizer uma vez em que estava... inocentemente... de orelha espetada numa porta – algo que costuma relacionar uns factos com outros, fazendo uns ter a ver com os outros).

Pois é. Quando pedi aos meus amigos e conhecidos sugestões para o nome do programa que haveria de lançar no éter (sempre quis dizer isto, embora seja de uma parolice imensa – mas sobre isso já falaremos mais em pormenor), as propostas – tenho de confessar – chocaram-me acima de tudo por uma certa… como é que se diz…?... Ah! Palermice! Isso! Exemplo: “Com o K@ no ar… é sempre a bombar!” Palerma? Penso que a resposta é óbvia.

Tentei fazer ver isso ao autor de tão belo slogan. Tudo correu bem (leia-se, o tipo pensava que eu estava a brincar com ele quando lhe disse que não podia usar aquela parvalheira no FM) até ao ponto que lhe tive de berrar aos ouvidos que a frase era parola. Aí o gajo chorou e até hoje não me fala – pronto… revelou-se nesse momento o lado feminino dele (o que é saudável, entenda-se, mas não dá grande jeito se for numa altura em que se fragiliza o ego da pessoa em causa porque de repente é um pranto e um dramalhaço que ... faz favor!).

No entanto, não podia ter sido de outra forma, visto que segundo uma fórmula que eu próprio criei – e que, portanto, é boa – [Parolice = (Palermice Natural + Parvoíce de Discurso + Dúbias Opções no Vestuário) x Presunção de que se é o Maior : 100], a sugestão do meu (ex-)amigo era qualquer coisa como 87% parola, o que é – convenhamos – muito para um nome de programa de rádio e, logo, inaceitável.

Quanto à outra conversa (a tal que me deixou a pensar), foi sobre um terceiro. A minha amiga disse-me que, uns dias antes, uma colega de faculdade tinha chegado à beira dela toda animada por ter conhecido um tipo muito porreiro na net mas que no dia seguinte já a animação tinha desvanecido, porque quando os dois se encontraram para conversar e beber um café ele lhe tinha parecido (e passo a citar) «subtilmente parolo».

Esclareci a minha amiga de imediato, dizendo que a minha fórmula (de natureza puramente científica) não permitia meios-termos como subtilmente parolo. O que a malta precisa é de percentagens. Para isso, pedi-lhe para perguntar à colega como o tipo lhe pareceu antes e depois do encontro. A resposta foi que, antes, ele lhe tinha falado de filmes (bons) de que, alegadamente, gostava, de (boa) música e de (bons) hábitos de exercício físico que defendia e praticava. Depois, pelos vistos, o discurso foi outro. Que “ganda filme” (que tinha visto na televisão antes de sair de casa) era o “Stallone: Prisioneiro”, que estava super contente por já haver uma versão “do caraças” do tema Kayleigh dos Marillion que a banda de bailes de uns amigos (chamada “Báylamâky”) tinha tocado no salão do Desportivo lá da terra dele e, para completar o ramalhete, o moço trazia a camisa branca bem aberta para ver os três pêlos do peito e a corrente de oiro que trazia ao pescoço. Ah! E tinha barriga de cerveja.

As contas foram feitas num ápice. O gajo era 99% parolão (mais de 100% parolo e mais 99% do grau acima disso: parolão – ou parolaço, conforme o gosto de quem classifica o sujeito em causa). A única coisa que não o dava como totalmente parolão era o facto de até achar o Kayleigh uma boa música – e há que dar valor a isso. Mais de resto, qual subtilmente parolo, qual quê?

A moça – sabendo disto, vim a saber – chorou muito e até hoje não fala com a minha amiga. De repente, deixou de se interessar por tipos que a contactem no Messenger e fez uma data de novas amigas, bem como cortou o cabelo curto e desenvolveu um súbito e forte gosto por camisas de flanela de lenhador e botas da tropa. Pronto… ao que parece, revelou-se-lhe assim de repente o lado masculino (o que, entenda-se, até é muito saudável… Só é chato é ser… deixa cá ver… 93% parolo).

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