«Que animal...?»

Hoje sinto-me mais velho. Extremamente mais velho. Talvez seja porque hoje esteja com 29 anos e UM MÊS… ou talvez simplesmente porque sou parvo.

No entanto – se calhar, porque sou parvo ou só porque me sinto mais velho – hoje fiquei aturdido quando me deparei com uma daquelas perguntas totós que se fazem aos putos e a que eles respondem uma patetice qualquer, pensando que fazem um figurão e a que os trengos dos adultos acham um piadaço… vá lá entender-se porquê.

«Que animal é que gostavas de ser?»

Pensado bem (que é uma coisa que eu faço raramente), esta pergunta tem tanto de inútil como de estranha e até de imbecil. Antes de tudo mais, porque – pelo menos, para já – não se adivinha um avanço tal na ciência que permita uma metamorfose de humano para outra qualquer forma de vida, quanto mais para um animal “à escolha”. Depois, porque – apesar de alguns psicólogos afirmarem que a resposta a essa interrogação pode revelar importantes traços da personalidade – replicar à questão simplesmente nos diz que alguém não está totalmente contente com a condição de ser humano, até que nem via mal a hipótese de ter quatro patas, escamas ou mijar contra um poste… e achava que isso seria melhor do que ser um animal racional. Parvo.

Por só hoje me ter apercebido desse disparate pegado, já não fui a tempo de anular as respostas por mim dadas a essa pergunta em tempos idos, quando era miúdo, por exemplo. Lembro-me que, nessa altura, me contentava em ser um cão, porque gostava muito dos cachorritos e tal (até tinha uma cadela super fantástica). Depois, mais tarde, já na imberbe adolescência, lembro-me que a mania das grandezas me levava a dizer que gostaria de ser um imponente e bem tratado cavalo (mal sabia eu que só para aí 5% dos cavalos nos países civilizados andam livres e não são maltratados ou obrigados a esforços descomunais). A seguir veio aquela fase tonta da adolescência em que só queremos dizer que fazemos tudo e mais alguma coisa e não fazemos nada… Queria ser um “boi de cobrição”, dizia eu… que vergonha…

Hoje em dia, parece-me que não responderia que queria ser isto ou aquilo, mas sim o que NÃO QUERERIA ser. Bacalhau.

O bacalhau é um peixe que ninguém conhece. Aliás, fui ver uma foto à net e, sem ser naquela forma em que a gente o compra no supermercado… eu não conheceria um bacalhau, se me cruzasse com ele dentro de água (mas também… não conto tomar uma banhoca nos mares da Noruega tão depressa…!). Além disso, o objectivo da vida do “fiel amigo” é só um: ser apanhado. E o resto da sua existência passa por ser aberto ao meio, espalmado, salgado (o que deve doer imenso depois dos cortes e daquelas feridas todas), cortado às postas (e depois em postas mais pequenas) e cozido a altíssimas temperaturas (já para não falar nas passagens por arcas frigoríficas, micro-ondas, fornos e outros locais – igualmente “agradáveis” –afins).

Que animal é que eu gostava de ser? Não o bacalhau, de certeza!...

5 inSensinho(s) assim...:

calózita disse...

esqueceste-te de mencionar o problema do cheiro!
bacalhau, definitivamente não!

so disse...

ah ah ah, um boi de cobrição!!! e um caoziho de madame, não?

Abc Dário disse...

Parabéns, caro amigo, por mais um Dário Award. Muito obrigado pelas suas ideias (para os vários eventos.)
Abraços.

Didas disse...

Ou outros como carapau, sardinha, garoupa, sei lá...

M disse...

Muito bem, parabéns por ganhares o prémio Dário! :)