«I'm in love with my feet!» – disse Kate, mesmo antes de se deitar, nessa noite. Era a primeira de duas pernoitas passadas em Melbourne, naquela que era até ali a grande aventura das suas vidas. Nunca tinham saído de Woonona e, ao invés de viajarem para Sidney (como seria mais lógico), preferiram rumar mais a Sul e conhecer a cidade que um dia tinha recebido os Jogos Olímpicos.
Nas camas ao lado, a Val, o Glenn e o Streetie, companheiros de viagem e amigos de longa data (em férias de um ano cansativo de faculdade), não perceberam logo o que ela queria dizer e no quarto da pensão um silêncio pouco habitual simplesmente aconteceu.
«Sim. Estou apaixonada pelos meus pés! Ouviram bem!... Porque é que estão a olhar para mim?!?»
Este reafirmar tão vigoroso pasmou os jovens que não percebiam bem de onde vinha raciocínio tão invulgar. Se bem que a Kate até era conhecida por ter umas “saídas” totalmente inesperadas… mas normalmente era só sobre os outros (tipo celebridades e assim…), em jeito de fofoca, de preferência “deitando abaixo” alguém do jet-set ou do mundo do cinema. Esta tirada era, de algum modo, diferente das outras.
Beber, não tinha bebido. Drogar-se… nunca tinha acontecido e ela até sempre rejeitou até o mais inofensivo dos charros…! Mas lá estava ela, de pés e pernas ao alto, virados para a cabeceira da cama e com a cabeça a sair fora dos limites do colchão, enquanto o resto do grupo se interrogava mais e mais. Uma única coisa fazia com que a moça, apesar de desconfortável, se mantivesse a fazer força no pescoço para não deixar descair a cabeça: mirar os pés. Como de se uma escultura ou um quadro numa galeria se tratasse. Minuciosamente e com prazer, Kate cobiçava os seus próprios pés.
Esta estória de universitários australianos em férias, pois… vale o que vale, é certo. Mas o que aqui se me ressalta à vista é que dificilmente alguma vez algo do género se passaria, por exemplo, com este InSensato que se vos dirige neste momento. Os meus pés são absolutamente horrendos e isso, quer eu queira quer não, mancha a minha vida de uma forma deprimentemente indelével.
Posso dizer que tudo começou na minha meninice, quando comecei a pedir aos meus pais que me comprassem sapatilhas largas porque não gostava de sentir os pés apertados, quando jogava à bola na eira, junto ao quintal. Depois do futebol lá em casa, veio o futebol federado, uma passagem pelo basket e ainda o atletismo, que pratiquei nove anos consecutivos. Não admira, portanto, o “Pé 44 ½” que malta “angariou” ao longos os anos!…
Pessoas de pés feios, como eu, não têm a vida a sorrir-lhes na cara. A rir-lhes da cara (e dos pés), sim… mas a sorrir simpaticamente, não. Por exemplo, não que seja tema de conversa permanente (também… não faltaria…), mas quando o assunto vem à berlinda, a malta nunca fica bem vista. «Ah… e tal… pé grande… o resto é pequeno, de certeza!», «Dá pra dormir em pé, não?», «Não precisas de barbatanas para nadar mais depressa!»… já ouvi de tudo.
E quanto a fazer parte do universo dos amantes de pés (os “foot fetichistas”)… é esquecer esse assunto logo de uma vez, porque isso nunca que nunca vai ser possível. Em vez de dar prazer, o mais que poderia acontecer era assustar quem quisesse ter nos meus pés um pólo de sensualidade. Aliás, outra coisa não seria de esperar... com estes pés longos e escazelados, em que o dedo "mindinho" se encaixa meio por baixo do dedo seguinte e em que os restantes são como o pé que lhes dá "abrigo", longos e escanzelados.
Não tem este post outro intuito que não o da mais pura e simples auto-humilhação pública de um InSensato Autor que, para além do que diariamente aqui já imbecilmente defende, discorrendo sem nexo nem traço de discernimento, simplesmente (e ao contrário de Kate, a menina da faculdade), abomina os próprios pés.
3 inSensinho(s) assim...:
N és unico, sr insensato eu tenho um amigo que foi a santiago de compostela a pé com a minha excelentissima pessoa, ficou com problemas de bolhas e dor de musculos e qs n os conseguia auto-tratar pq n gosta dos pes!!
é a loucura.. ele tem qs nojo dos proprios pes..
pés! pois, pés não, obrigada. os meus tb são muito feiosos: ossudos, cheios de joanetes e com as pontinhas dos dedos grandes arrebitadas de tal maneira que até me furam os sapatos! mas não fico deprimida com isso: até a Uma Thurman tem uns pés de meter medo (evoquem a cena de Kill Bill I em que ela está no carro a ordenar aos seus dedos para se mexerem - belhac!).
agora, orelhas, o que eu gosto de orelhas - não das minhas que tb são feiosas, mas das orelhas dos outros, quando são pequeninas. tb adoro orelhas de animais: as dos meus cães para festinhas, e as de porco, grelhadinhas ou em molho verde! coisas!
ser anã pode ser motivo para muitos gozos, mas sempre nos permite ter uns pezinhos simpáticos ;) vantagens!
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