O momento de "deitar contas à vida" é, simplesmente, tramado. Numa das mãos, pega-se nas facturas/recibo do telefone, da água, do gás, da electricidade, da tv cabo e da mensalidade da casa. Na outra... há-de estar o desgraçado miserável extracto do banco.
Está visto que o duelo entre uma facção e outra não é, de modo algum, equilibrado e a coisa não tem modos de acabar bem. É que as contas são em maior número e o combate - desigual - acaba sempre por lhes ser favorável.
É como uma daquelas cenas de filme hollywoodesco em que, numa zona "complicada" da cidade, os gang's ditam as regras. Uma vez por mês, o pobre extracto da conta sai de "casa" um pouco mais animado por ter recebido o ordenado. No entanto, algo sinistro o obriga a olhar, assustado, para tudo o que é lado e canto, para tudo o que é beco e viela. Um pouco mais à frente, junto a uma tampa de esgoto que fumega, estão as rufias das despesas correntes, à espera, no escuro, de que uma alma mais incauta por ali passe e fique bem ao jeito de ser surripiada, sem dó nem piedade. O extracto não tem hipóteses. Quando menos espera (embora desde sempre tenha tido a certeza de que, mais tarde ou mais cedo - mais mês, menos mês -, seria apanhado)... zás!... Uma pancada forte, primeiro, e várias outras (uma por cada membro do gang), depois, deixam-no desamparado e indefeso, à mercê dos malvados credores, que não hesitam em estripá-lo logo do dinheirinho que traz com ele.
É... tramado.
O mais aborrecido é que, embora esta porra aconteça com aviso prévio e tudo, o estúpido do extracto não se acautele convenientemente. E, evidentemente, todo o "santo mês" é a mesma coisa!... Pensando bem, acho é que descobri a definição de “inevitabilidade”. Parece-me mal…
Começo a perceber agora como é que os contabilistas ganham a vida. Eles são assim como que uns "mecânicos" das nossas massas. A malta está curta de dinheiro mas não gosta de pensar que está lisa; e olhar, tanto para o saldo do banco como para as continhas a pagar, só lhe traz é enxaquecas. Por isso, contrata-se um tipo que olhe pela dita conta bancária e é ele quem distribui o guito da maneira que acha melhor. Ou seja, basicamente, o contabilista faz com o nosso ordenado o mesmo que nós fazemos, só que friamente, sem o nervosismo de ser o graveto dele a desaparecer, que é o mesmo que dizer... sem as emoções fortes que nos causa o facto de vermos o nosso dinheirinho a ir "bye-bye". Ah! E, de uma forma altamente profissional, ainda tira, ele próprio, um "x" da conta pela qual está a olhar. Isto, sim, é que é um bom negócio.
Também começo a entender as expressões "engenharias" e "malabarismos" na realidade financeira. Olhando para o dia-a-dia e para o que aí há-de vir, só me arrependo de nunca ter tirado um curso que ensinasse a malta a planear a coisa de tal forma a evitar que a casa alguma vez viesse abaixo,... quanto mais a cada 30 dias. De facto, a "ginástica" necessária é tanta que, se o efeito fosse o mesmo que passar pelo ginásio, o pessoal andava elegante e incrivelmente musculado.
No entanto, nem tudo é mau. Desenvolvem-se amizades com entes que nunca atreveríamos a pensar serem possíveis companheiros de luta. Sou agora mais amigo daquelas folhinhas A4 que a malta dobra em dois e onde se escreve o que se tem no banco e os valores das facturas, para logo a seguir fazer as somas/subtracções. Cálculos esses que, obviamente, permitem também o estreitamento de relações com a opção "Calculadora" do telemóvel, tanta vez esquecida e quase nunca utilizada pelos milhões de utilizadores deste tipo de equipamentos. A certa altura do stress, só ela nos compreende e - num gesto de pura amizade - nos mostra a realidade nua e crua, sem rodeios nem mentiras.
Enfim... há que retirar do mau o que é realmente positivo (ou… menos mau). Por exemplo, além das corridas (agora regulares), tenho agora a certeza absoluta de que algo mais vai contribuir para a dieta da malta! Pá... e isso é tão porreiro que nem caibo em mim,... de tanta felicidade...
2 inSensinho(s) assim...:
há muito que optei pela folhita excel. aliás, desenvolvi um ficheiro supimpa, todo xpto, com alta interface, fórmulas do arco da velha, onde introduzo os valores das receitas e despesas [com locais específicos para tipos diferentes de despesas] para logo se me constranger o coração quando olho para a célula onde, automaticamente, me é mostrada a parte sobrante do bolinho! é sempre uma fatia tão fininha, mas tão fininha, que quando a tento agarrar desfaz-se em migalhinhas!
O Alex tirou-me as palavras da boca.
Enviar um comentário