Como se não tivesse nada melhor para fazer, tenho andado a pensar em coisas que, potencialmente, me edifiquem a alma, que me exercitem a mente e que me elevem a decrépita cultura geral que possuo.
Por esse princípio, parece-me lógico que, um dia destes, me tenha lembrado do burrié, esse baluarte.
O burrié tem uma existência dúbia. Dupla, mesmo.
Se bem repararmos, o burrié é bem capaz de fazer parte da classe dos Gastrópodes, como o caracol, com quem reparte um espaço no vasto campo dos petiscos a serem acompanhados pela bela da cervejola. Bom... se faz parte dos Gastrópodes ou não… não sei. Nem sequer me interessa muito. Essas tretas deixo-as para os cientistas, que são, seguramente, pessoas com muita coisa para fazer e, no entanto, insistem em notabilizar-se por lançar “cá para fora” resultados de estudos que concluem – sei lá… – que, afinal, o gelado de manga é feito a partir de uma fruta e não de um pedaço de tecido que forma uma parte de uma peça de vestuário com o mesmo nome. A eles, o meu mais carinhoso «Vão trabalhar, caraças!...».
Mas o burrié não se fica por aí.
O povo gosta de dizer que burrié é a ranhoca rija (coagulada?… será?...) que, amiúde, habita as nossas narinas. Aquela cena marada que a malta gosta de colectar enfiando muito bem a dedonga no nariz, seguindo-se o movimento circular que marca o início da busca por “ouro” nas duas “galerias” daquela “gruta”. Todo este trabalho para, depois de resgatada a porcalhice, enrolá-la entre o indicador e o polegar (também em movimento circular... mas assimétrico - um dedo roda para um lado e o outro em sentido contrário -, que é uma coisa assaz interessante), tornando-a numa bolinha de dimensões várias (depende do tamanho do burrié) e atirá-la como fosse uma poderosa “bala”. Épico!...
Só nunca percebi o porquê de se dar também o nome de “macaco” ao burrié.
Que tem o burrié nasal a ver com os primatas?!?
Afinal, quem é quem?
O burrié é macaco?... o macaco é macaco?... ou o burrié é mesmo burrié?
O que me parece positivo é que - mal ou bem - o destino se tenha encarregado de criar uma bela coincidência, não deixando que, apesar de esta outra faceta versão do burrié não ser um alimento, se perdesse a dimensão de… petisco.
Sim!... porque isso da degustação do burrié nasal não é para todos… mas – que raio – a degustação do burrié cozinhado e devidamente temperado também não!... mas ambas existem. É um facto.
Ou seja, a verdade é que, nasal ou (supostamente) Gastrópode, o burrié anda (potencialmente) nas bocas do mundo e essa coerência é absolutamente admirável.
Petisco Primata
quarta-feira, abril 6 | by K@ at 6.4.05
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0 inSensinho(s) assim...:
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