Dúvida Gourm’existencial


Há dias, a aconchegar o estômago com umas fatias de pizza feita em forno de lenha (hmmmmmm!...), dei comigo a matutar numa dúvida que ninguém me conseguiu tirar; principalmente o proprietário do restaurante… que não deve ter ficado com a melhor imagem de mim… desconfio eu…

Quando pedimos um prato num qualquer restaurante e ele chega à nossa mesa… de quem é? Quem é o proprietário da comida cheirosa e saborosa que nós vamos degustando?

Nossa não é, porque não está paga. Logo, não pode ser propriedade do cliente; pelo menos, não legalmente nem juridicamente. Até à entrada do dinheiro na caixa ou ao pagamento por cartão ou cheque, não há uma conclusão da transacção comercial a que, de início, nos propusemos (clientes e proprietário do estabelecimento).

Por outro lado, a comida também já não é do restaurante, pois já se iniciou a sua entrada no corpo do cliente e, muito provavelmente, também o percurso pelo sistema digestivo da malta. Ou seja, – sejamos práticos – o proprietário não poderá reaver o produto que (tecnicamente) ainda não nos vendeu, sob pena de incorrer em vários crimes de atentado à integridade física do(s) cliente(s), no mínimo.

Resumindo, há um período na “vida” daquela iguaria em que ela… não é de ninguém. Está entre proprietários legítimos, investidos de direitos adquiridos. Mas nesse período… nem um nem outro qualifica como seu dono.

Há, então, um momento (que pode ir de poucos segundos até a várias horas; dependendo da rapidez com que um indivíduo come) em que a malta não sabe bem o que está a comer. Se é a comida do restaurante, se é a sua própria comida. Parece-me, por isso, a mim que se está a ingerir “comida de ninguém” (bem ao jeito daqueles pedaços de terra entre as fronteiras de dois países: a chamada “terra de ninguém”).

Temo que jamais uma ida a um restaurante será vista da mesma forma por mim próprio e/ou, já agora, por quem venha a concordar comigo neste particular.

Ok… vou ser só eu…? Tudo bem...

Seja como for, aponto uma possível solução para este “puzzle”.

Que tal… ninguém pagar pela comida que pede num restaurante?
Assim, evitava-se a embrulhada que é esta questão da propriedade.
Se está em cima da mesa… é para se comer e não se fala mais nisso!
Sinceramente, parece-me a atitude mais correcta a tomar… muito embora não espere a concordância de um ou outro dono de restaurante, snack, café, pastelaria ou tasca que venha a ler estas InSensatas linhas, caso não tenha nada melhorzinho para fazer entre os repastos lá do estabelecimento.




2 inSensinho(s) assim...:

Didas disse...

Conheci (de longe) em tempos uma senhora que ia todos os dias almoçar a um restaurante qualquer e quando já estava satisfeita arrancava um cabelo e punha no prato. Aí chamava o empregado e dizia: Esta comida traz uma cabelo! Não pago!

so disse...

acho mal, a mim a policia nunca me pagou o almoço... mas essa questão é muito pertinente, só batida por outra ainda mais relevante: a questão da diferença horária em Kathmandu.