Jet-(im)Perfeito




Fim de semana prolongado… altura ideal para fazer praia [uma expressão, na verdade, completamente vazia de conteúdo, pois, para falar com exactidão, a praia está feita desde sempre – ou seja, desde o início dos tempos], para relaxar e, claro, para passar os olhos por uma daquelas revistas ditas de Sociedade (que eu só leio, obviamente, como meio de pesquisa… e assim…), algo só possível com a dose extra de pachorra com que a malta está num fim de semana prolongado.

Preguiçosamente estirado na minha toalha, sem ponta de vontade de me virar sequer, para uniformizar o bronze, lá desfolhei a tal magazine de grande tiragem. E, a bem da verdade, foi uma experiência estranhamente inolvidável, tenho de confessar, visto que – terminado o desfolhamento da coisa – fiquei com uma data de dúvidas… mas também com uma data de (deprimentes) certezas; umas e outras aqui tentarei, a seguir, enumerar.

1. Certeza – Sou um “jet-set’iletrado”. Não conheço, seguramente, 80% (ou mais) das pessoas que aparecem nas fotos das festas, cocktails, recepções e demais eventos sociais apresentados nessas revistas. Quem é aquela malta toda e por que raio acham os editores que eu os conheço tão bem que não conseguirei respirar se não souber todas as novidades acerca da vida pseudo-amorosa deles?!?

2. Dúvida – Desses tais que eu não conheço, há um vasto de indivíduos (e indivíduas) sem nome!... Nas foto legendas e textos anexos (não lhe chamarei notícias por respeito à classe jornalística) surge a referência a «filho de…», «neto de…» ou ainda «amigo de…»! Os “papás jet-set” não dão nome aos filhos? E, já agora, se eles não têm nome… o que serão eles na vida, se não puderam frequentar a escola, ter um Bilhete de Identidade, tirar a Carta de Condução ou arranjar um emprego? Bom… se calhar são… obrigados a irem às festas ou a serem fotografados para serem alguém na vida…

3. Dúvida – Porque é que as fotos das festas (feitas quase sempre assim contra um placard – curiosamente – cheio de publicidade; talvez não houvesse uma parede mais bonita lá na discoteca…) são tiradas no início da noite (normalmente, até ANTES da rapaziada entrar) e não no fim, quando já se viraram uns quantos cocktails exóticos? Se é para mostrar a (verdadeira) animação das festas…!

4. Certeza – Eu sou o Homem Ideal para as gajas do Jet-Set, actrizes famosas, cantoras e top models. Embora possa não parecer, esta minha peremptória afirmação tem toda a razão de ser. Passados que foram os pseudo-artigos sobre umas 20 festas (mais de metade delas no mesmo bar… vá lá saber-se por quê…!), lá surgiram umas quantas entrevistas, a mulheres giras (supostamente conhecidas) que, à pergunta «Que características aprecia num homem?» respondem invariavelmente «Gosto de um homem que seja simpático e que, acima de tudo, me faça rir!». Quando li isto... vibrei de emoção! Desfolhei mais umas páginas e… «Gosto de acordar ao lado de um homem que me ponha bem disposta logo pela manhã, de preferência, com pequeno-almoço na cama!». Ora… a cena do pequeno-almoço é um bocado de mordomia a mais mas uma piadola logo ao acordar… a malta arranja sem grande esforço! E se isso é o suficiente para agradar a essas meninas…! Pois, porque beleza e conta bancária parecem nunca serem factores determinantes; pelo menos a julgar pela revista que li na praia e mais umas Maxmen e FHM que me apressei a consultar quando cheguei a casa. Ou seja, sendo eu um pobretanas sem grande aspecto de George Clooney ou Brad Pitt, mas com algum bom humor… talvez me safasse, não…?

A resposta a esta última pergunta parece, no entanto, ser “Não”, baseando-me ainda nas (últimas) páginas da revistinha de Sociedade. É que…

5. Dúvida – Se estas gajas do Jet-Set só gostam de gajos que as façam rir e não forçosamente de gajos giros ou caramelos que lhes proporcionem uma vida financeiramente desafogada, com carros, jóias e vivendas de luxo… porque é que se casam ou juntam sempre com artistas de grande sucesso e magnatas feiosos? Esses gajos serão assim tão divertidos logo pela manhã…?


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