É uma daquelas coisas que me acontecem ciclicamente, andar às turras com as pelezitas soltas nas pontas dos dedos que decidem declarar a sua liberdade de expressão separando-se da unha e levantando a garimpa de tal forma que, mesmo que um gajo não lhes queira dar importância… não consegue evitar tentar acabar com elas, que mais não seja à dentada.
De facto, tenho andado com o meu aparelho digital (nome pomposo para o meu vulgaríssimo par de mãos) numa lástima por causa das malvadas peles que me fazem perder a paciência, o que até nem me acontece muitas vezes. E a solução – lá está… – creio estar nos (sempre disponíveis a safar a malta) dentes, com que se vai dando uma trinca, aqui e ali, em jeito misto de pinça e tesoura.
Ora… o uso da dentola para esta árdua tarefa de acabar com as peles digitais com indesejados problemas de atitude apenas se deve – no meu caso particular – a um (e um só) motivo. Para não ter de andar com um corta unhas no bolso; porque isso… é parolo. E ser parolo (já o dizia Aquilino Ribeiro) não é bom, não senhor.
Quero com isto dizer que esse hábito (em alguns casos, chamar-lhe-ia mesmo vício) tão português de, quando se juntam duas ou três chavitas, arranjar logo um porta-chaves com um corta unhas incorporado até poderia ser compreensível (porque esta coisa das peles soltas é mesmo tramada e às vezes até dói que se farta) mas não é, por culpa do próprio Zé Povinho lusitano, que não consegue manter a seriedade de um instrumento tão nobre como o corta unhas.
Se essa malta se limitasse a juntar um corta unhas ao chaveiro… ainda vá… pois que servia de porta-chaves, sim senhor, e ocasionalmente ainda poderia ajudar nas tarefas que lhe são naturalmente intrínsecas (desde que – claro – a coisa se processasse no recato do lar, de um lavabo público ou num descampado sem mais gente à volta para levar com os “detritos” que voam descontroladamente do corta unhas para onde quer que seja). Mas não. Aquilo a que se assiste nesta sui generis nacional maluqueira é que a malta não só usa o corta unhal na via pública, sem qualquer pudor (mas isso é uma coisa muito latina – somos feios porcos e maus), como também decidiu “kitar” o utensílio das formas mais… parolas que se possa imaginar!
Nunca pela minha InSensata Mente passaria a ideia de decorar um corta unhas com imagens de Nossa Senhora de Fátima, das Varinas da Nazaré e, claro, do Galo de Barcelos… mas na caximónia de alguém lá passou… e um novo negócio estava criado. Aliás, qualquer feirante que se preze (e respectivo cliente) agradecerá encarecidamente essa ideia luminosa, estou em crer.
Daí que andar com um corta unhas (mesmo sem ser “kitado”) no bolso está inevitavelmente e de forma indelével conotado com a parolada de quem opta por cortar a unhaca e acabar com as peles soltas em público, aproveitando para (inexplicavelmente) fazer disso uma verdadeira afirmação nacional. Disso e de sacar a cera do ouvido com a única unha que se safa à razia de Nossa Senhora ou com a ajuda da mítica tampa da caneta BIC.
Conclusão: É por não querer ser parolo que eu ando à rasca das peles levantadas nas pontas dos meus InSensatos Dedos.
3 inSensinho(s) assim...:
Pois eu cá ando com as mãos decentes de tanta massa amassar. Quem disse que trabalhar não faz bem? Hein?
um porta chaves com a nossa senhora de fátima... sinceramnete... não sei onde foste buscar essa ideia... isto é com cada uma... pfffffffffffffff
ooops... ok, eu confesso: eu ja tive um desses. mas foi sem querer! Juro!
Gostei da ironia com que trataste o profundo tema dos espigos nas unhas...
Eu cá sou parolo, não dispenso o corta unhas!
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