Gosto muito de futebol. É... Gosto.
Gosto do jogo, do barulho, da emoção, dos golos... até gosto do cheiro da relva.
Enfim, gosto mesmo muito do espectáculo-futebol. Ainda para mais porque é um mundo cheio de pequenas e grandes particularidades que, no fundo, só o tornam ainda mais interessante. Pelo menos para mim, que gosto de ver as coisas de uma forma muito minha.
Por exemplo, são tantas as expressões ligadas à bola que o "dicionário de futebolês" é algo que sempre desejei ter junto a mim, quando (no estádio, na tv, no rádio, nos jornais...) vejo/oiço/leio algo relacionado com o futebol.
Uma dessas expressões muito próprias é "Cromo da Bola". Por "definição", é um indivíduo relacionado com o jogo (normalmente atleta ou dirigente… mas não obrigatoriamente), com características tão vincadas que acabam por ser alvo da caricatura geral.
Acontece que, sem querer, acho que descobri o verdadeiro "Cromo da Bola".
Mas não é jogador, nem dirigente. Não é um gajo que se põe à frente das cameras de tv a todo o transe, nem é famoso sequer.
Aliás... eu confesso que não sei quem ele é.
No jogo que fui ver ao estádio, a assistência era fraca (como, de resto, quase sempre, infelizmente) e só a bancada coberta estava bem composta, por causa do tempo cinzento.
Ora, este fim-de-semana, nessa bancada - oposta à que, normalmente, é ocupada pelas claques - surgiu um indivíduo com um cachecol da Selecção Nacional e um bombo que até exibia um bem conseguido trocadilho (em tom de incentivo) com o nome da equipa da casa.
Tudo muito bem... até ao primeiro "bum-bum-bum".
Logo ao primeiro ribombar, o adepto, sozinho neste apoio mais entusiasta, foi vaiado e insultado por todos os que o rodeavam.
O que me fez muita confusão...
Este cromo apoiava a mesma equipa, com um mesmo fim, apenas... de uma forma diferente.
Ainda assim (e para se ver como é "giro" o futebol... e as suas hipocrisias), a cada batida do senhor do bombo, os restantes adeptos (que até apreciam a existência das claques... que, curiosamente, também têm bombos) insultavam mais o pobre cromo que acabou, poucos minutos depois, por se mudar do centro para uma das extremidades da bancada.
O alívio pareceu ser geral. Mas eu... confesso... fiquei com pena do homem.
Em suma, este cromo (como também já vinha sendo intitulado por todos desde o início do ribombar) foi discriminado só por ser o único naquela bancada com um elemento extra de animação (o bombo) no apoio à equipa.
Prova-se assim a teoria da aceitação social.
"Se não consegues vencê-los, junta-te a eles".
Ou, melhor... neste caso - e como "ele" não se juntou a "eles", porque "eles" não o queriam a "ele" perto "deles" -, até há uma máxima da chamada sabedoria popular que se adequa mais...
"Quem está mal, que se mude!".
E o nosso cromo mudou-se porque, de facto, estava mal... e com razão.
Ninguém merece ser insultado e vaiado em troca do seu nobre acto de maior empenho no apoio à "equipa do coração".
Continuei a ouvi-lo durante o jogo.
Mais tarde, vi-o.
Isolado, de cara triste mas decidido a cumprir a missão que o tinha levado ao estádio.
E aí, posso dizê-lo, fiquei contente.
Pelo isolamento e pela tristeza estampada no rosto do homem...? Não.
Fiquei contente por saber que na nossa bola há cromos COMO ESTE. A sério.
Mais houvesse e finalmente valeria a pena fazer a "colecção".
Esta... é a minha humilde mas sincera homenagem a todos eles.
PS: Ah!... Ganhámos 5-0!!! Somos os maiores!...
:)
0 inSensinho(s) assim...:
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