€ncontrado




Entenda-se este InSenso como o simples materializar em discurso escrito de uma daquelas constatações parvas e inconsequentes que nos acontecem no dia-a-dia.

Ontem, à hora de almoço, mesmo antes de entrar no restaurante onde ia à cata do merecido repasto, deparei-me com a existência de uma moeda de 5 cêntimos “encaixada” entre duas pedras da calçada no passeio sujo e molhado (por causa dos aguaceiros que, de resto, marcaram todo o dia).

Confesso que estive “vai… não vai…” para me baixar e pegar a moeda, claramente perdida por alguém que dificilmente voltaria para reclamar a propriedade desse circulo acastanhado de metal (pouco) valioso. Mas não o fiz. Já estava tão perto da porta do restaurante (que, ainda para mais, ficava mesmo junto a um café super movimentado) que enjeitei dar-me ao trabalho de passar a vergonhinha de parar o meu movimento para agarrar, no meio das pedras do calcete, a moedinha que – apesar da crise que se vive – não me iria fazer assim tanta diferença na carteira.

De facto, deixei-a lá mas durante todo o tempo que demorou o almoço pensei no raio da moeda. Não que estivesse obcecado, nem nada que se parecesse. Simplesmente fiquei a pensar nesse pormenor que é o momento em que encontramos dinheiro perdido na rua.

Não está provado “cientificamente” (duvido mesmo que alguma vez isso tenha sido estudado, sequer) o efeito causado pela descoberta do “vil metal” (ou “vil papel”, que é bem melhor) perdido na via pública. No entanto, algum efeito (benéfico ou nefasto) terá certamente; tanto que ninguém fica indiferente ao achado de uma moeda ou de uma nota, sozinha e abandonada, obviamente a precisar de novo dono que lhe dê bom uso.

Eu diria (de forma InSensata, claro) que o referido efeito é positivo, já que a malta fica toda “inchada” ao descobrir dinheiro perdido. De outra forma, seria complicado explicar o alarido que frequentemente se faz numa rua movimentada, tentando afastar toda e qualquer pessoa que aproxima os pezinhos do carcanhol até se lhe pôr as mãos. O dinheirinho deve causar mesmo boa impressão…! Outros comportamentos “alegres” só explicáveis por um forte ataque de adrenalina: a malta gabar-se de ter apanhado… 1 ou 2 cêntimos do chão (é que, gabar-se, – digo eu – talvez só a partir dos 20 cêntimos mas de preferência só a partir dos 2€) e a crença de que o dia (e, quiçá, a semana toda) há-de correr melhor a partir dali, mesmo que logo a seguir venha um carro, passe com o rodado numa poça e nos molhe da cabeça aos pés… Enfim…

Outras opiniões dirão que o efeito é negativo; que a descoberta de dinheiro alheio (temporariamente sem dono) desperta nas pessoas comportamentos… dúbios. Quantas vezes não temos a oportunidade de observar (a mim dá-me muito gozo) aquele caramelo que vislumbra uma notita de 5€ ali “à sua mercê”, a 2 metros da mesa de esplanada e, calma e sorrateiramente, vai olhando em volta, com ar de quem vê em todo e qualquer outro ser humano um conspirador contra a sua pessoa, levanta-se devagar e não descansa enquanto não pisa (literalmente) a nota, momento após o qual se repara no ar de conquista, próprio do pior dos vilões. E isso não pode ser bom, de facto.

Terminado o almoço, à saída do restaurante, não podia deixar de tentar ver o que era feito da moeda de 5 cêntimos “encaixada” entre as pedras da calçada molhada e suja. Já lá não estava. Não ficou sem dono muito tempo, de facto. Desconheço qual a reacção do “descobridor” ao encontrá-la. Tal como desconheço se o efeito foi positivo ou negativo, se o gajo ainda se enaltece de ter agarrado a moedita do chão ou se fez uma “cena” de fuinha para a apanhar…

Na verdade, pouco interessa. Até porque este InSenso é só mesmo o materializar em discurso escrito de uma constatação parva e inconsequente… certo?...

1 inSensinho(s) assim...:

Anónimo disse...

Bah... cinco centimos???
Ninguém me faz dobrr a espinhela por menos de um aério!

:-)