Alecrim, alecrim aos molhos
por causa de ti
choram os meus olhos
ai meu amor
quem te disse a ti
que a flor do monte
era o alecrim
Esta é a canção popular que imortalizou o alecrim e, simultaneamente, é o maior problema/embaraço deste simples vegetal com odor intenso mas, ainda assim, agradável.
Reparei nisto numa curriqueira conversa de transporte público (agora que voltei a essas lides diárias). A “páginas tantas” dessa viagem de comboio regional, soltou-se a expressão “aos molhos”… ao que eu respondi, imediata e inconscientemente, com uma cantarolada da música acima referenciada. Nem sei bem por que o fiz; simplesmente saiu.
Mas logo a seguir apercebi-me que, não fossem esses versos que aprendemos logo em tenra idade, não falaríamos NUNCA do alecrim. E a razão para isso é simples. Somente não temos razões para falar nele!... É que o alecrim não faz parte das nossas vidas, se virmos bem as coisas.
Triste sina a do alecrim. Imortalizado numa canção popular e esquecido para (quase) todo o sempre, excepto quando um badameco qualquer (como eu) se lembra de cantarolar o “Alecrim aos molhos” [já agora… por que raio haverão de chorar os olhos? Aquilo não é cebola!...]. Mal “acomparado”, faz-me lembrar aquelas supostas “celebridades” de quem já ninguém se lembra, mas que nos vêm à memória por motivos fúteis ou simplesmente… parvos.
Aliás, este é um conceito que parece estar algo em voga.
Imagino as reuniões de “criativos” em departamentos de Produção ou gabinetes de Criação de Conteúdos…
«Pá… e que tal aquela gaja…?» «Que gaja?!?» «Aquela gaja!» «Que gaja?!?» «Aquela que era apresentadora!...» «Qual apresentadora?!?» «Aquela que se casou com um gajo que foi ao Festival, pá!» «Quê?!?! Que gajo?!?» «Pá… Aquele que cantava uma balada e tal…» «AH!!! E como é que tu te lembraste disso?!?» «Sei lá eu?! Ouvi a minha filha dizer que a boneca nova dela era linda, linda… e olha…!». Deve ser assim, não?...
Mas o que tem isto a ver com pobre alecrim…? Tudo! Se não fosse aquela musiquinha, o alecrim era só mais um vegetal bem cheiroso e com uma vida pacata. Como as urzes, por exemplo. Mas as urzes não têm a responsabilidade de serem mais do que os simples arbustos que são. Ninguém lhes dedicou uma música que toda a gente sabe cantarolar, pois não?
Já o alecrim não tem essa sorte, a de passar despercebido. Aquela canção popular não lhe facilitou em nada a vida, bem pelo contrário. Famoso, sim, mas não “aos molhos”; só aos cochichos. E esquecido para todo o sempre… até que um gajo se lembre disso numa viagem de comboio. Deve ser um bocado triste, problemático, embaraçoso e patético, não?...
4 inSensinho(s) assim...:
meu caro k@, permita-me discordar da ideia de que o alecrim se encontra esquecido para todo o sempre. senão vejamos:
- a essência do alecrim entra na composição de muitos medicamentos, bálsamos para fricções e produtos de perfumaria;
- tem carácter estimulante e pode ser utilizado no combate às febres, inclusivamente a febre tifóide, tosses, problemas gastro-intestinais, problemas reumáticos e de circulação;
- não tem contra-indicações para além de as suas infusões não deverem ser tomadas durante a gravidez.
ora, portanto, o alecrim é uma planta medicinal, pá! e ainda tem a vantagem de nem sequer precisar de ser semeado!
Alecrim alecrim doirado
que nasce no monte
sem ser semeado
ai meu amor
quem te disse a ti
que a flor do monte
era o alecrim
;)
aproveito e registo, aqui, aquilo que me vem à cabeça quando leio este blog:
lembras-te de cada coisa!
e o mais interessante, é que muitas das vezes são coisas das quais eu também me lembro, coisas em que também penso... mas que não me atrevo a contar a ninguém!
muito menos a publicá-las. ;)
a sério, continua!!!
Tens tomado a medicação?
As voltas que o alecrim deu no teu trecho!
Bem construído este rodopiar de paragens...
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