Isto e Aquilo




Sempre foi um grande desejo meu escrever isto e aquilo sobre alguém ou alguma coisa. Na verdade, pensando bem, não há-de ser assim tão complicado escrever isto e aquilo sobre o que quer que seja ou sobre quem quer que se escolha como sujeito/objecto do nosso discurso. Pelo menos, não parece.

No entanto, escrever isto e aquilo, só “porque sim”, pode não ser correcto. Ou melhor, pode não ser simpático. Sim… porque isto e aquilo pode ser muita coisa. E ser muita coisa pode implicar que alguma coisa no meio dessa muita coisa pode não ser oportuno divulgar. É uma questão de probabilidades. Por este mesmo raciocínio, isto e aquilo poderá não ser nada, ou ser, simplesmente, quase nada. E dizer quase nada sobre alguém ou alguma coisa também não é de uma grande amabilidade, pois desvaloriza o objecto aflorado pelo nosso (no caso, curto) discurso.

Prova-se assim porque é que eu nunca escrevi isto e aquilo. Porque é difícil. É difícil, por exemplo, definir o que é que isto e o que é que é aquilo. Logo aí há uma dificuldade certamente inesperada para quem se apronta, todo pimpão, para palrar isto e aquilo, sem grandes preocupações na vida. Ora… se era para ser uma coisa despreocupada, tentar perceber e definir a “fronteira” entre isto e aquilo… dá cabo do esquema “despreocupado” de qualquer um!...

É que, se essa coisa de dizer isto e aquilo pode ser tramado – como de resto, estou cabalmente a provar, acredito – fará se for para dizer isto, aquilo e aqueloutro!...

Ora, aí a coisa piora substancialmente, pelo menos em termos de dificuldades acrescidas. Já para não falar que aqueloutro nunca foi razoavelmente definido com exactidão por ninguém. E se queremos dizer isto, aquilo e aqueloutro de alguém ou de alguma coisa, temos primeiro de saber bem o que é aqueloutro. E ninguém sabe isso, temos de admitir!...

Em suma, acho que é uma simples questão de bom senso (coisa rara por estas bandas) ficar-me pelo meu velho desejo de dizer isto e aquilo só por dizer; já que dizer isto, aquilo e aqueloutro sempre foi para mim uma utopia inatingível e – logo – por mim posta de parte, para não perder tempo com coisas inalcançáveis.

Não sou muito dessas coisas mas aproveito para aqui deixar um conselho a todo e qualquer um que queira dizer isto e aquilo (e aqueloutro, já agora): que não o faça.

Porquê?

Simples. Porque pode ser o bom e o bonito…!



1 inSensinho(s) assim...:

mfc disse...

Um non sense perfeito num texto lindamente construído!