O Público Certo

Tenho uma embaraçosa confissão a fazer. Assisti, de fio a pavio, a uma emissão do “Preço Certo”, na RTP. Eu sei… não é coisa que contribua grandemente para o meu saudável desenvolvimento intelectual, mas ainda assim, forcei-me a não usar o comando para “zappar” do “primeiro” canal para outro qualquer. Fiquei mesmo por ali, a ver no que dava o tão popular concurso apresentado por Fernando Mendes.

Ponto prévio: o que diz e faz o comediante e o que anuncia o senhor da voz-off durante a hora que dura o programa, sinceramente, não me interessa. E não me interessou hoje também. A minha atenção estava direccionada para a plateia.

Neste particular, impressionou-me sobremaneira a forma entusiasta como os espectadores, in loco, participam no incentivo aos concorrentes. Muitos berros, muitas palmas, olhos arregalados, gestos frenéticos… Em suma, um barulho tremendo num espectáculo que acaba por ser muito estranho.

Eu achei aquilo tudo muito parvo. Porquê? Porque não consegui perceber a motivação com que essa malta fica tão extasiada no apoio a todos aqueles que… estão ali para ganhar qualquer coisinha e, que bem vistas as coisas, não vão partilhar nadinha com o público. Ou seja, essa rapaziada vai (em autocarros, muitas vezes), grita, esperneia, manda-se ao ar, dá palpites… mas não ganha nada com isso. Os tipos e tipas que eles vão apoiar… vão ficar com o prémiozinho e não vão dar nada a ninguém. Se dessem, tinham de dividir por, pelo menos, umas dez pessoas que foram, lá da terrinha, e isso não dava praticamente nada para cada um. E se os que não foram com eles, mas sim com outro(s) concorrente(s), só berram para destabilizar… isso está simplesmente mal.

Já os outros, aqueles que não vão com concorrente nenhum e são contratados por uma empresa de figurantes… pronto. Esses têm desculpa para aplaudir e tal, mas para apoiar… não vejo o que os move. Além daqueles contos de reis da figuração, não levam mais nada para casa. Admira-me que ainda haja tanta gente a fazer tanto barulho no “Preço Certo”.

No entanto, curiosamente, a RTP – vê-se – é um canal com uma certa atenção aos pormenores. Digo isto porque o canal estatal também deve ter-se apercebido que é parvo aquilo da malta aos berros no “Preço Certo”, enganada a pensar que lhe vai calhar “algum”. Logo, entende-se porque é que, no mesmo dia (aliás, todos os dias), também haja um concurso onde toda a plateia (que não estrilha nem esperneia – muito positivo!) é interessada no prémio e tenta ganhar aquilo, cada um de per si. É assim no “Um Contra Todos”, não é? Mas há mais. Também de segunda a sexta, a RTP exibe ainda outro concurso, o “Lingo”. Aí, a coisa é simplificada, diria eu, ao extremo. Não há lá público a fazer barulho, nem para, nem por causa de ninguém. Também não há malta enganada a apoiar quem não vai dar guito nenhum a ninguém, tal como não há gente a mais, ávida, à cata de um prémio só.

Ou seja, a RTP é um canal com olho para estas coisas. Há de tudo um pouco, assim à laia de haver um bocadinho para todos os gostos. Talvez seja por isso que é um canal de Serviço Público – há que agradar a “gregos e troianos”:

Agora espere aí um bocadinho, caro InSensato Leitor, que vou ali esterilizar o meu cérebro, mergulhando-o uns minutinhos em álcool etílico, por causa de ter passado uma hora a ver o “Preço Certo”. É que não há Aspirina que debele a dor de cabeça que resulta deste meu acto de pura… e parva coragem.

2 inSensinho(s) assim...:

Anónimo disse...

Quanto ao entusiasmo da plateia, eu sempre tive a impressão de que basta ligar uma câmara de televisão para o "povo" se entusiasmar... Mas isso sou só eu a pensar...

Anónimo disse...

Atenção que não é bem assim no que toca ao Preço Certo.
Há tempos fui convidado por uma amiga para ir ao concurso como "acompanhante".
Ela tb ia dessa forma a acompanhar uma tia que era a concorrente.
Parece que cada concorrente tem que arranjar 1o acompanhantes.
Ora bem, aqui é que entra o factor "$$$$", é que havia a condição prévia de que se a senhora ganhasse a montra final o prémio seria dividido equitativamente por todos, ela e nós.
Acabei por não ir porque a senhora adoeceu e desistiu mas estavam estabelecidas as condições e pareceu-me que era regra geral, porventura até sugerida pelo staff do programa (suponho eu).

Um abraço do Vizinho

PS: finalmente vou cumprir o prometido, lamento mas tinha-me esquecido, relativamente a linkar-te no M18 para premiar o excelente Banner que fizeste.