A apendicite de que fui “vítima” foi resolvida logo no dia em que o médico do Centro de Saúde a detectou. Aliás, entre esse primeiro (e horripilante) exame de tacto e a mesa de operações (ou seja, outros quatros dolorosos exames de tacto depois – nem imaginam as dores que isso provoca) não decorreram mais de seis horas; o que, para quem nunca tinha sido operado na vida (exceptuado uma pequena sutura no escalpe, devido a uma queda), é um choque tramado de gerir.
Mas pronto, lá deixei que todos os procedimentos (desde a inserção do cateter numa veia das costas da mão à raspagem do pelume na zona pudibunda – por momentos senti mesmo que estava a caminho de fazer uma depilação “à brasileira”… –, passando pela extracção de sangue por três vezes[!] para um mesmo exame ante-operatório…) fossem feitos com uma surpreendente boa disposição da minha parte.
Além disso, até foi giro ser adormecido por uma médica gira de olhos azuis e acordar com eles a olharem para mim “três minutos” depois (na verdade, foi uma hora, mas a mim pareceu-me só três minutos). Já não foi tão giro estar no Recobro e não conseguir articular quaisquer palavras, ainda fruto da anestesia geral. Tal como não foi nada engraçado ver os candeeiros a passar por cima de mim (bem ao estilo de um filme mil vezes visto) no caminho feito até à enfermaria e, claro, sentir dores imensas na primeira noite, só atenuadas por umas drogas valentes (e boooooas!) que juntaram ao meu soro. Aquilo bebido directamente deve dar uma moka valente...!
Também não gostei – e fez-me confusão – o odor da urina do soro fisiológico. Caraças! Que fedor! Já não bastava um gajo mijar a custo?! Ter de levar com aquele cheiro era coisa perfeitamente dispensável! Mas era isso ou ter uma sonda! Mal por mal… o bedum!
Então e as calças de pijama que me deram no Hospital?!? Sabe Deus!!! Se eu encontro o pseudo-designer responnsável pela criação daqueles sacos de batatas em flanela (rija de milhares de lavagens), sem elástico mas com dois míseros botões e um baraço, que não seguram o suficiente para evitar a chamada mostragem do princípio do "rêgo rabal"...! Foi, sem dúvida, o pior dos meus fashion statements dos últimos anos!...
Entretanto, a coisa lá se fez e tive alta dois dias depois. Fui para casa e começou o ócio forçado que durou até há dias. Neste hiato de tempo, fui sendo visitado por gente claramente mais simpática que eu, que foi às compras por mim, me trouxe DVD’s para eu me entreter, me mudaram a areia do gato já que eu não podia – e há poucas coisas piores do que mudar a areia da caixa dos gatos –, me trouxeram doces que eu não podia comer (mas comi) e, estranhamente,… me contaram as suas estórias de hospital.
Aliás, nunca me tinha apercebido disto senão agora. Acredito que acabo de entrar para um clube/organização que até agora desconhecia! Como se da Maçonaria se tratasse, deve haver uma Irmandade dos Operados, de certeza! É que, a partir do momento em que apareci com o bandulho atado por pontos e tive de começar fazer o penso com Betadine todos os dias (algo que ainda faço, devido à já sobejamente conhecida má cicatrização dos parvos três pontos de cima), as pessoas olham-me de maneira diferente e de todos os quadrantes surgem (umas interessantíssimas… outras nem tanto) estórias de intervenções cirúrgicas, (mais ou menos) semelhantes à minha.
De repente, descobri que meio mundo decidiu falar das suas (antigas) mazelas, do modo como foi tratado e de como foi a recuperação… sem que eu tivesse perguntado o que quer que fosse!
Estranho!… Mas deve ser uma coisa da tal Irmandade… Mais vale a pena não levantar ondas por causa disso…
Não sei!…Digo eu!...
1 inSensinho(s) assim...:
eu estou fora dessa seita! até ver... já tive algumas passagens mais ou menos acidentadas pelos hospital, mas nunca cheguei ao bloco operatório!
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