Há uns dias, no Centro de Saúde, assisti a uma cena daquelas que têm piada… nos primeiros - vá... - 27 segundos, começam a incomodar a partir daí e até ao minuto e meio de duração, sendo que, passado este ponto no tempo, a única maneira de suportar tal coisa é descalçar os sapatos e (repentinamente mas de forma continuada) inalar toda e qualquer partícula do chamado sulfato de peúga que exista por ali, à espera de ser recebida em grande apoteose no nosso sistema respiratório.
Ora… só não me descalcei logo ali, em plena Sala de Espera do Centro de Saúde porque, a inalar o meu chulé, ao menos que o faça em casa, sem ter a obrigação de o partilhar com mais ninguém. É o que faz ser muito possessivo com as minhas coisas… e eu bem vi os olhos (e narizes) de cobiça de malta que fitava os meus pés, sentido o desejo de inalar um bom chulé para fazer esquecer o que se passava ali ao lado.
Bom; voltando ao que, de facto de se passava… Era uma avó que esperava pela consulta do Médico de Família com a neta (pirralha aí com os seus dois/três anos). Nada de especial a assinalar, a não ser o discurso da velha para a miúda. Passou um carro lá fora (que apitou) e a vovózinha decidiu lançar à neta a pérola «Olha, Lili! O popó fez pipi!». Logo a seguir, tocou o telefone do Secretariado e… «Olha Lili! Olha o trrim-trrim!». A miúda pouco ligava ao que a sexagenária dizia, é um facto, mas a dose ia aumentando, talvez numa dinâmica de “água mole em pedra dura…”. «Olha, Lili! Daqui a pouco, vamos ter com a Babá, à casa da titi, vamos?»… E isto foi andando até ao momento que o meu único pensamento era “Ai o sapatinho a sair-me do pé! Vem cá sapatinho, vem!”.
Parece-me haver poucas coisas mais parvas do que isto, para dizer a verdade. Falar com o miúdos em pseudo-vocábulos dissilábicos é uma coisa por demais estranha e estapafúrdica, não é? A minha sobrinhita tem pouco mais de um ano e, muito embora ainda só esboce a articulação de umas poucas palavritas mais simples, já entende palavras como “casaco”, “arrumar”, “comer” e por aí além. Dissílabos, só “mamã”, papá” e, inevitavelmente, “papa”, porque é assim mesmo que a palavra é. Mais de resto, não há cá tetés para ninguém.
Não quero com isto dizer que a minha sobrinha é melhor que os outros bebés (outro dissílabo que é o que é). Simplesmente, parece-me que – a optar pelo discurso do “popó” – pode chegar-se a alguns discursos como este que se segue.
- Olha, Lili! O popó faz pipi!
- Mas o pipi não faz xixi?
- Faz. Mas não é só o pipi, também é o loló!
- E o cocó?
- O cocó vem do tutu!
- Mas a cocó é quem dá o teté, não é?
- É. A cocó dá o teté.
- E a titi faz o teté para a papa?
- Faz. Lá na casa da Babá.
- E o papá, a mamã e o vovô ‘tão lá, vovó?
- Estão. E também lá está o ão-ão e o miau-miau para tu brincares mais a Babá.
- E a mumu, vovó?
- A mumu, não, porque tem dói-dói.
- Tem dói-dói?
- Tem. Mas tem lá o memé a fazer-lhe companhia.
- Ah…
Desculpem-me!!!… mas estou a ficar lelé!... Não há aí mais um sapatinho para eu cheirar, não?...
2 inSensinho(s) assim...:
Não podia estar mais de acordo. Por isso é que depois os putos crescem e tornam-se uns imbecis!
Diálogo simplesmente genial!
Em relação às criancinhas...
As pessoas insistem em falar para elas à imagem de "atrasadas mentais", não percebo.
É óbvio que elas assimilam e compreendem tudo o que se passa à volta delas.
Além disso, só a ouvir as pessoas, normalmente, é que poderão começar a falar!
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