Narciso nos dias de hoje


Hoje pensei um bocadinho nisto e não resisti a transpor a minha (parva) reflexão para aqui, já que – está visto – este blog não passa de um depósito de coisas sem grande nexo que me passam pela cabeça (o que atrapalha muito a função da escova, do champô e do gel, como é óbvio).

Mas avante…

Se Narciso fosse nosso contemporâneo seria certamente uma popstar ou figura da socialite. Uma mistura de Paris Hilton (claro!) com David Beckham. Provavelmente seria uma estrela de cinema, para poder imortalizar a sua imagem no grande ecrã. Apareceria em todos os eventos sociais que pudesse, mesmo que para isso não dormisse. Posaria para todas as fotografias e compraria todas as revistas para poder admirar-se em todo o seu esplendor.

Seria também um viciado em compras. Não só para estar sempre na moda ou para melhorar a imagem, mas sim porque as lojas de pronto-a-vestir têm dezenas de espelhos, dando assim a chance de se poder mirar, qualquer que fosse o lado para onde olhasse.

Seria dependente da Internet. Teria um MySpace, um Hi5, MSN, Yahoo! Chat, ICQ, IRC e, claro, um blog só com fotos suas para poder mostrar a sua beleza ao mundo e para que o mundo comentasse a beleza das suas fotos, que enviaria também por e-mail a tantas pessoas quantas possível, bem ao estilo de “SPAM Narcísico”. Ah… e criaria, ele próprio, uma página oficial “Narciso’s FanClub” e, claro, teria um PDA com ligação permanente para estar sempre online.

E teria um… perdão… vários telemóveis, obviamente. Telemóveis de última geração. Não para contactar quem quer que fosse mas sim para aparecer em chamadas 3G (com imagem) e enviar MMS’s com imagens da sua cara e de corpo inteiro, para receber, na volta, elogios à sua formosura, por voz ou SMS.

Não se comprometeria com ninguém para poder desfrutar sozinho da sua perfeição e seria potencialmente suicida. Não morreria certamente afogado num lago, por tanto se tentar ver e abraçar no reflexo das águas… mas quase de certeza espetado por estilhaços de um espelho a que se agarrasse com demasiada força ou frustrado por não se ver numa publicação cor-de-rosa, por não receber comentários nos sites do ciberespaço, não obter respostas ao correio electrónico, ninguém se inscrever no clube de fãs online ou se, no telemóvel, começasse a receber SMS’s com mensagens dos tipo “tu kem ehs?!?”, “k keres? xato!” ou – muito pior – “ehs feiu komo tdo tds ux diax, pah!”.

Aí... não havia hipótese mesmo. Narciso teria um fim triste nos dias de hoje, estou convencido.

Talvez a Marilyn tenha sido exemplo disso, aliás.

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