McCaótico


Pão
Queijo
Carne Picada
Tomate
Cebola
Pepino de “pickle”
Alface
Maionese
Ketchup

Para a GRANDE maioria dos comuns mortais e – estou em crer – também para muitos InSensatos visitantes aqui do burgo, estes elementos são só os ingredientes de um saboroso hambúrguer (mandem lá lixar a
polémica se é “o” ou “a” hambúrguer, ok?).

Para mim, não.
Para este vosso amigo, esses energúmenos supracitados são, nem mais nem menos do que vis arqui-inimigos de estimação, que merecem os mais puros ódio, asco e desdém.
Eu sei que não faço a coisa por menos.
Mas se é inimigo… há que tratá-lo mal à séria… e mai’nada!

Tal antipatia (e aqui estou a ser meiguinho…) advém de um facto manifestamente triste.
Esse bando de facínoras congemina contra mim, arquitectando mil e uma formas de me humilhar publicamente. E isso – convenhamos – é razão suficiente para ter ódio a quem quer que seja.

Acontece sempre que vou a um “fast-food”. A malta vai, está com uma certa pressa, faz o pedido, pega o tabuleiro, vai para uma mesa, tira o hambúrguer da caixinha (ou do papel) e… 3 segundos depois… está feito um palhaço, com a cara toda suja e pedaços de pepino e alface a voar por todo o lado, a cair em cima da roupa, da mesa, ou simplesmente para os sapatos de camurça do senhor que almoça mesmo ali ao lado.

Está visto. Sou um desastre.
E isso… só me leva mesmo é a ser olhado de “esgânfia” por todos os restantes clientes do tasco em que seu esteja a fazer as figuras tristes que acabo de relatar.

Acho que se houvesse um nome para gajos que se comportem como eu me comporto nestas situações, então, eu poderia afirmar com convicção de que sou…McCaótico.

E isso até poderia vir a fazer escola. Do tipo… chegar mesmo a ser referido no Grande Dicionário da Língua Portuguesa.

McCaótico (mâquecâótico): m.s., adj., (do grego, Khaos) indivíduo que não sabe comer hambúrgueres ou outros alimentos de “comida rápida” sem se ajavardar fortemente; indivíduo renegado pela sociedade devido à sua manifesta falta de talento em manter a higiene, durante e após o consumo de alimentos dessa natureza.

O pior é que me sinto sozinho nesta questão.

Sempre que isso me acontece (que é como quem diz, simplesmente… SEMPRE), olho em volta e não vejo uma única cara imunda com ketchup ou maionese… não vejo mesas com folhas de alface ou lascas de tomate… nem sequer vejo senhoras de bem a mandar vir com um tipo qualquer que lhe manchou o sapatinho branco com uma fatia de pepino cheia de molho especial.

Daí que a minha intenção de criar a Associação Nacional de McCaóticos não passe de uma simples utopia, pois não faria sentido constituir uma associação em que eu seria, simultaneamente, sócio-fundador, presidente, presidente da mesa da assembleia-geral, presidente do conselho fiscal, secretário, tesoureiro, vogal e, claro… sócio ÚNICO.

Outra utopia… poder ir a uma reunião dos McCaóticos Anónimos.
Uma sala pequena, com cadeiras em roda, onde poderia inventar um nome fictício, abrir a alma e dizer «Olá. Eu sou o Jorge, sou um tipo porreiro mas… sou McCaótico...».

São coisa que me fazem uma falta imensa. Poder sentir que não estou perdido numa imensidão de malta normal que não se suja sempre que se delicia com uma sandes de delícias do mar, uma suculenta fatia de pizza ou um qualquer hambúrguer que tenha mais do que o pão e a carne. Poder cruzar-me na rua com um tipo e pensar… «Eu conheço aquele tipo… Ah! Já sei… É um gajo fixe que é McCaótico como eu!». Porquê só termos em comum as preferências partidárias, as cores clubísticas ou os gostos por certos tipos de filmes? Por que não sermos uma data de McCaóticos, que se conhecem, convivem… sei lá… quem sabe, até fazer uma organização bem ao estilo maçónico…?

Por que não?
Porque não há mais gajos como eu.

Eu vou ao restaurante, com uma certa pressa, faço o pedido, pego o tabuleiro, vou para uma mesa, tiro o hambúrguer da caixinha e… 3 segundos depois… sou um apóstata da sociedade.

Estou triste. Será que sou mesmo o único?


: [

2 inSensinho(s) assim...:

Didas disse...

Não és o único de certezinha! Olha, eu cá não consumo disso mas por outros motivos. Aqui à parte para ninguém ouvir: Peso! Shhhhh...

K@ disse...

Assinalo a valiosa contribuição da InSensata Leitora Maria João (via e-mail), que aqui trago devido à sua pertinência... ou não!
:)
É uma opinão bem catita!

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«Vi uma vez num filme que o/a hamburger se deve comer com a parte de cima do pão virada para baixo.
Experimentei e os resultados pareceram-me menos desastrosos.
Acho a idéia da associação de McCaóticos bastante boa, se bem que esteja convencida que você prefere mesmo ser um apóstata da sociedade e logo de seguida iria criar a organização anti McCaóticos... eheh.

Os melhores cumprimentos.
Maria João»
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Caríssima Maria João:

Ainda está a tempo de viver uma vida normal e escapar a esta vil realidade que é ver o mundo do avesso e achar que é assim que devia ser sempre, porque assim é que é bom. Avesso... é bom.
Mas se insistir em passar cá pelo burgo... não consigo assegurar que leve então essa vida normal e aconchegada pelo conforto do senso comum, esse "cobertor" de uma tão grande maioria de incautos seres humanos que preferem não tomar o comprimido cor-de-rosa (numa dinâmica muito Matrixiana).

Em suma, seja bem vinda sempre que cá queira vir espreitar. Não limpe os pés, nem tir o sapato, porque o chão é de parquet e, por isso, fácil de limpar.

:)

Muito Obrigado!

K@

PS: A ideia de eu ser um potencial fanático da anarquia parece-me um pouco estranha, mas , em certa medida, algo positiva. Ora... há que agitar as águas, não?