Dia #12 (Dag #12)
Seu Diário Filho de uma Grande Mãe (hoje estou um bocado mal disposto):
Pelo menos na região em que estou, a passarada não é muito variada. É isso que me parece. Mas não sou ornitólogo para afirmá-lo com muita certeza. Pássaros… oiço muitos, só não sei que tipo de pássaros são os que oiço e muito menos lhes ponho muito a vista em cima. E quando ponho, vejo quase sempre os mesmos.
E esses “mesmos” que eu vejo são quase sempre, invariavelmente, corvos. Os negros corvos que – diz a sabedoria popular – prenunciam tudo menos coisa boa.
Eu acho isto meio estranho. Se no campo não é assim tão raro depararmo-nos com corvos, já na cidade (e eu estou a alojado em Groningen – uma cidade mais ou menos do tamanho de – sei lá – Braga; talvez maior do que isso) ver corvos é algo pouco usual. Mas aqui não.
Há muitos corvos. Por todo o lado. Mesmo no meio da cidade, no meio do trânsito, no meio das praças, fazendo clara e forte concorrência às boas velhas pombas na cata de alguma coisa que se coma.
Pensando bem… afinal, não admira muito que haja corvos em todo o lado. Pessoalmente, acho – há já muito tempo – que o corvo é o verdadeiro (e perdão pelo meu “francês”) “filho-da-puta” do mundo avícola. Ou seja, está sempre disposto a lixar a vida de quem quer que seja para se safar a ele. O resto… pouco importa.
Vendo as coisas por esse prisma, se calhar não será assim tão estranho aquilo que já aqui disse achar meio estranho. Mesmo que o país em si e a sua natureza muito “peace, love and smiles” não se coadune com a negritude sombria da figura do corvo. Diria que quase nem se “encaixa” bem, o raio do pássaro malvado, no verde bonito e na boa disposição da Holanda… mas ele lá está.
O chilrear que oiço logo pela manhã não é, de certeza, dos corvos que pululam por aqui. É de outros pássaros. Mas também isso não me admira. Esperto como é, o corvo é bem capaz de pensar “Canta aí, canta! Enquanto perdes tempo com essa merda, trato eu de apanhar tudo o que possa comer ali na praça. Quando acabares de cantar e estiveres aí todo convencido de que és o melhor ‘rouxinol’ do bairro, estou eu de barriga cheia e tu a minguar por migalhas que te atirem!”.
Isso é atitude de um verdadeiro “filho-da-puta”… como o corvo, no fundo. E os corvos holandeses são tão evoluídos quanto o restante território. Estão em todo o lado, até nas cidades. Os corvos portugueses ainda não chegaram a esse ponto. Mas é por essas e por outras que se nota que o nosso país está claramente a “anos-luz” da Holanda.
0 inSensinho(s) assim...:
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