Sempre atento ao que se passa à minha volta (não vá alguém querer fazer alguma tropelia indesejada; tipo fazer-me uns corninhos quando alguém tira uma foto – algo que nunca entendi…), dei comigo mais uma vez a desbravar terreno na compreensão dos fenómenos que o trânsito automóvel encerra.
Conduzia eu, descansado, avenida baixo, quando um energúmeno num Audi prateado, passou um vermelho numa transversal, metendo-se bruscamente à frente do meu fantástico Punto, por pouco não abalroado pelo “às” do volante, que se tinha metido “à ménaço” na minha faixa de rodagem.
“MEU GRANDE CABRÃO!!!” – exclamei eu (e desde já aviso que não vou pôr os inefáveis ***’s a substituir vocábulos de menos elegância, caso contrário este InSenso não faz sentido), a que se seguiu um expressivo “QUERES LÁ VER?!?” e um sonoro “ÉS UM PALHAÇO!!!”…
Descarregada a bílis, passado o stress e feita que tinha sido a respiração profunda que se deve seguir sempre a um susto valente… dei-me conta de que havia algo de comum a todas os impropérios que tinha “carinhosamente” endereçado ao meu colega de quasi desventura.
Afinal, nós, no trânsito, comunicamos através do Discurso dos 3; uma espécie de dialecto composto (quase) unicamente por frases de três vocábulos, que espelham na totalidade e perfeição o que nos vai na alma e em relação ao caramelo que nos ia dando uma pantufada no carro. Serei só eu a pensar assim ou isto faz mesmo algum sentido?
A mim parece-me que sim. Senão… atente-se à seguinte lista de exemplos de Discurso dos 3:
Queres lá ver?!?
Queres ver, queres!!!
Queres levar, pá?!?
Meu grande cabrão!!! (ou outro qualquer atributo que aqui queiramos pôr)
Grandessíssimo palhaço, tu!!! (regra semelhante na colocação do atributo)
Estás parvo, é?!?
Estás doido, tu!!!
Olha-me este agora!!!
Olha que isto…!!!
Olha que energúmeno!!! (idem)
Minha grande besta!!! (ibidem)
Vai à merda!!!
Vai chatear outro!!!
Enfim… É claro que todas as regras têm excepções e esta não é… excepção… a essa regra das excepções à regra. Mas o Discurso dos 3 (ou D3, como doravante deve – tecnicamente – ser denominado) vai mais longe e adapta-se a estas excepções. Vejamos…
Por vezes, haverá a tentação de dizer impropérios com mais de três palavras, mas o D3 encontra forma de tornar tudo cientificamente correcto (por exemplo, “Que é que tu queres?!?” – 5 palavras – passa a “Qu’é que queres?!?” – 3 – simples, não é?). E por vezes, uma só “explosão” em D3 não basta. Solução… a multiplicação. O Discurso dos 3 avança para os seus múltiplos directos, formando composições de 6 e/ou 9 vocábulos (exemplos: “Meu grande cabrão! Queres levar, é?!?” ou “Queres lá ver, esta grandessíssima besta? Vai à merda!!!”). Simplesmente fascinante.
Mas há mais. O D3 não é só um dialecto vibrante e sonoro. Pode também pode ser vibrante… e silencioso, embora muito gesticulado. É esse o caso quando fazemos gestos ao condutor da frente ou de trás, que nos tenha feito alguma. Aí, a comunicação é indirecta (via pára-brisas, em direcção ao espelho retrovisor ou lateral do carro da frente, ou vice-versa – ou seja, via espelho retrovisor ou lateral do nosso carro para a o vidro frontal do carro imediatamente na traseira do nosso). Em suma, é também uma língua gestual em que, se repararmos bem, mantemos “religiosamente” a utilização do Discurso dos 3, com a diferença de não sair qualquer som da nossa boca, que diz os impropérios na mesma… só que em silêncio e em direcção a um espelho retrovisor.
Espero ter, numa dinâmica de Serviço Público – que é apanágio deste burgo –, contribuído para o início de uma nova disciplina do Estudo Sociológico Lusitano. Ou então… sou só eu que sou parvo e me ponho a falar destas parvoiçadas.
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Nota:
Para saber mais sobre o D3, envie um mail para insensocomum@gmail.com . o mais certo é que não tenha qualquer resposta, mas em tendo noção de que a resposta não chega, também vai querer dizer uns bons desforos, que muito provavelmente serão... no Discurso dos 3...!
5 inSensinho(s) assim...:
Praticando o D3.
Agradavel de ler.
Muito bem concebido.
Até á proxima.
Foi um prazer.
Bom... o "da"... não. Não conta. Ou, aliás, até conta, mas até nisso o D3 se ADAPTA às situações.
"Filho da Puta", em D3, é uma só palavra. Assim tipo "filho-da-puta". Dá para perceber? Sendo assim, o "Grande Glossário & Dicionário D3" (brevemente è venda em supermercados Modelo, papelarias chunga e quiosques de estações ferroviárias) aconselha a utilização do D3 "C'a Ganda Filho-da-Puta", ou seja, 3 palavras.
Não é genial, isto?
O gajo que descobriu isto é certamente um rapaz muito bonito, inteligente e devia ser nomeado para algum prémio que desse muito dinheiro, não acham?...
Não...? Ok... Já me calei...
vejo agora que sou muito menos simpatica do que isso... tambem uso esta "regra de tres", mas e mais "CORNO DO CARALHO" ou "FILHO DUMA VACA" ou ainda "PANELEIRO DE MERDA"! portanto, pareco mais um carroceiro do que uma moca prendada a conduzir. :P
LOLOLOLOLOL
A mim parece-me que faz sentido!
LOL
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