'tás aqui... 'tás ali...!


Agora que me apresto para mudar de poiso e vivo aquela fase de nem estar num lado nem no outro, reparo na (im)pertinência de certas coisas que normalmente vemos como corriqueiras. Caso disso – e intimamente ligado com esta coisa de estar entre duas cidades, duas casas, dois períodos perfeitamente opostos – é a expressão “Estás aqui… Estás ali…!”.

Confesso que nunca consegui perceber muito bem o verdadeiro alcance (e, já agora, a intenção) desta máxima dita, amiúde, para iniciar, acicatar ou mesmo pôr fim a diferendos mais ou menos graves, um pouco pelo nosso país (em bares, cafés centrais, tascas infectas, discotecas de mau nome, ruas mal frequentadas, etc.) ou em qualquer lugar do mundo em que haja um português.

O que quer dizer, então, “’tás aqui… ‘tás ali…!”?

Não pode ser uma constatação. A não ser que se fale de Deus, de uma alma penada, de outro qualquer espírito ou até do ar, ninguém está num sítio (“aqui”) e noutro (“ali”), simultaneamente. Logo, a hipótese “constatação” está posta de parte, portanto.

Aliás, geograficamente falando, “Estás aqui… Estás ali…!” só significa uma coisa: confusão. É que… em que é que ficamos? Está-se aqui ou ali? E mais!... onde é que é “aqui” e onde é que é “ali”? Não me lembro de alguém situar devidamente estes dois “locais” (apontando, por exemplo, para um ponto no chão… já era o bastante) enquanto vocifera o impropério. Terei de consultar um geógrafo para aprofundar esta questão. Logo que saiba mais trarei aqui as conclusões.

Enquanto insulto, a expressão também não é famosa, tenho de o dizer. Como é que se insulta alguém dizendo “’tás aqui… ‘tás ali…!”? No mínimo dos mínimos, quem “insulta” habilita-se é a uma resposta daquelas!... Imagine-se a seguinte situação. Troca de palavras e tal… a páginas tantas… “’tás aqui… ‘tás ali, ó pá!...”. O “pá”, se for esperto, só pode olhar em volta e replicar: “Olha lá, ó meu!... Estou aí… Estou ali?!? Mas tu és parvo ou cegueta!??! Não vês que eu estou é AQUI!?!? Tu ‘tás é com os copos!!!”. E, perante isto, já não há contra-resposta possível. Passa-se a vergonhinha de ser vesgarolho e de, ainda por cima, beber uns tintos valentes para depois andar metido em confusão… e mai’nada. Aconselho quem usa esta “ofensa” a procurar alternativas… rapidamente!

É um pouco como uma expressão “parente”, a “Estás aqui… Estás a levar…!”. Nunca percebi como alguém poderia estar num sítio em que não está verdadeiramente e além disso, estar a transportar algo que não se sabe bem o que é!... Dúvidas que nem o “slow motion” esclarece, por muitas vezes que se oiça a "boca", inclusivamente a diferentes velocidades. Também não é um primor, não senhor…

No entanto, já nutro um certo gosto (e até respeito, admito) pela frase “Estou aqui… Estou-te a pô-los!...”. É certo que ser da família das anteriores não a favorece sobremaneira, mas tem aspectos que a valorizam. Há verdade e clareza, pelo menos em 50% da expressão. “Estou aqui!” é um facto, é uma constatação cabal e quiçá até preciosa, se do outro lado estiver o tal vesgarolho, orientando-o geograficamente para o caso de se entrar na fase da chapada e afins, dando-lhe uma abébia, o que é honroso. A outra metade (“Estou-te a pô-los!...”) é mais ambígua, mas não deixa de dar garantias de que algo vai acontecer, mesmo não se sabendo bem o quê. Ainda assim, fica a certeza de que se a coisa continua azeda… alguém vai ficar com “uns” novos… porque outro alguém lhos vai pôr. E isso é um avanço na zaragata, pelo menos.

Em suma, basta só que se defina (pode mesmo ser uma coisa convencionada – aliás, seria muito interessante haver um congresso só para acertar isto) o que é que está em causa em “Estou-te a pô-los!...” para que todo o vasto panorama da rebarbada discussão lusitana venha a sofrer alterações profundas… claramente para melhor!... digo eu…

2 inSensinho(s) assim...:

so disse...

o pa, sempre adorei as duas expressoes! e ja agora, tb gosto muito da Ou te calas ou te... prejudicas :)

Morwen disse...

cá pra mim o zé poBinho sempre teve uma criatividade valente no que toca a gíria.
oh... mas o “Estou-te a pô-los!...” é a a cereIja no topo do bolo(neste caso do diplomata).

gostei da tua escrita. acho que vou aparecer mais vezes....
bjinho