ser foleiro é só um hobby e nada mais

Gosto de ter algo para mim. Ter algo para nós próprios não faz de nós melhores em nada mas é sempre bom. Ou melhor, mal não faz.

Dito isto...

Tenho para mim que ser-se foleiro não é propriamente uma forma de estar ou ser, não é um modo de vida ou incapacidade de ser-se outra coisa qualquer, que não foleiro. Tenho para mim que ser-se foleiro é um hobby como outro qualquer.

Chego a esta conclusão sempre que assisto a alguns programas de televisão que mudam o aspecto físico das pessoas. Umas vezes, muda-se-lhes os dentes, as mamocas, o rabo, a barriga, o nariz e tira-se-lhes a gordura, as rugas e os papos nos olhos. Outras, simplesmente muda-se-lhes as roupas, corta-se-lhes o cabelito, ensina-se-lhes como se devem maquilhar ou como devem pentear o cabelo todos os dias. Em ambos os casos, é evidente que as pessoas mudam muito mais do que apenas e só no aspecto físico. Tudo aquilo (leia-se, toda a "persona" da malta que se sujeita à chamada transformação) se altera; para melhor, claro.

Em grande parte dos casos que vejo apresentados nesses programas (nacionais e estrangeiros), quem vai ser alvo da transformação começa o programa com o aspecto de um verdadeiro campónio, a falar como um verdadeiro pacóvio, a rir-se como um verdadeiro labrego... no fundo, a comportar-se como um verdadeiro patego*. Depois do "makeover", mesmo sem se ouvir um clique que seja, todos ficam imediatamente bem parecidos, a vestir jeitosamente, a falar com correcção, a sorrirem de forma discreta mas atractiva... no fundo, a comportarem-se decentemente, o que me leva a crer que, até ali, só eram foleiros porque realmente queriam.

Há uns dias, testemunhei pessoalmente o exemplo que confirma esta teoria. Cruzei-me com um dos homens mais ricos e poderosos do nosso país (indivíduo para "valer" uns bons milhões, a avaliar pelo dinheiro que faz movimentar em todos os negócios em que se mete) e ele, num evento público, vestia um inenarrável conjunto de calça de fazenda azul claro, camisa branca de marca e casaco em xadrez preto e branco, fumava charuto sem se preocupar que o fumo fosse para cima das outras pessoas e, mesmo sabendo ser alguém facilmente reconhecível, falava alto, sem grandes modos e com audíveis palavrões à mistura. Numa palavra: foleiro.

Confesso que também eu tenho os meus momentos de foleirada (lá está... quando me apetece, tenho). Mas tento que aconteçam em casa, onde, por norma, chegado do trabalho, visto as camisolas de futebol da minha colecção pessoal. Garridas, desproporcionais, a fazerem-me parecer mais um palhacinho do que um desportista. Ao fim do dia deito-me e durmo. No dia seguinte acordo e vou trabalhar, já em modo "normal" (leia-se, não foleiro - tanto quanto possível). À foleirada, voltarei... só quando me apetecer, portanto.

É um dos meus hobbies. Tenho outros. Vou alternando e acho isso saudável. Outros, no entanto, só têm o hobby de serem foleiros. E, como em tudo, há sempre quem sonhe viver uma vida inteira sem ter de levar uma vida "normal" e regrada para se entregar apenas ao seu hobby preferido. Pena é que haja tanta gente por aí com o hobby de ser foleiro e impinja a foleirada própria à inocência alheia.


* Bem hajam os dicionários, para podermos usar múltiplos termos diferentes para dizer precisamente a mesma coisa, sem nos repetirmos!

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