Língua Portuguesa: Dois Pesos e Duas Medidas?

Em causa neste post estão duas palavras que me parecem ter tratamento diferenciado na nossa Sociedade: Putedo e Peixona.

A primeira é um termo que definiria como um clássico. É de todo em todo útil para nos referirmos a uma data de coisas. Desde confusão ou problemas, a multidão, brincadeira, safadice e até a grandes quantidades… tudo pode ser um putedo; um putedo de coisas, de estados de espírito, de situações… enfim, um putedo de tudo e mais alguma coisa. Oficialmente, resume-se a definir devassidão, o que me parece pouco para um vocábulo tão jeitoso e com tanta utilidade para além daquela que o dicionário lhe atribui. Mas é aceite como palavra da Língua Portuguesa, e isso já não é mau de todo.

peixona… não é. Entrou nas nossas vidas recentemente, com o vídeo do… putedo entre uma aluna (e o resto da turma dela) com a professora de Francês numa escola secundária da cidade do Porto. Da cena de insultos, berros, empurrões e não sei mais o quê não registei grande coisa (parece que havia ali uma grande galhofa por causa de um arrufo entre uma aluna e a docente devido a um telemóvel ou coisa do género). O que me ficou gravado na memória foi que o “operador de câmara”, a dada altura, precisou de proceder a uma “limpeza” do campo de visão de seu próprio telemóvel (pelos vistos, este não confiscado pela professora que, aparentemente, se debatia – ironia das ironias – pela captura de um aparelho similar). Para a desobstrução do plano da imagem, o cameraman ordenou a uma colega que saísse da frente, chamando-lhe peixona («Ó peixona!... Sai da frente!!!»). Obviamente, achei isto fascinante. Já ve e revi o vídeo dezenas de vezes (nem sequer foi preciso ir ao YouTube, as televisões portuguesas fizeram-me esse obséquio – Muito Obrigadíssimo, digo eu!) e aquele instante é para mim o ponto alto da coisa, sem dúvida. Só tenho pena de que a Língua Portuguesa não seja tão rápida a actualizar-se quanto esta malta que levanta grandes putedos nas nossas escolas é a criar neologismos catitas para a gente usar. Porque é que temos de continuar a chamar as mulheres gordas de balofas, adiposas, obesas, largas, anafadas, rechonchudas, espaçosas, pesadonas, bolachudas, gorduchas, corpulentas e até (imagine-se!) de fortes(!), se podemos insultá-las com um sonoro “Ó peixona!...”? Por isto (e até porque a utilidade da palavra já ficou mais do que provada), acho mal que isso ainda não me seja oficialmente permitido pelo Dicionário da Língua Portuguesa, onde peixona tinha – acho eu – um lugarzito, confortável e merecido, entre peixinho-de-prata e peixota, que já lograram a ratificação dos entendidos na matéria.

Espero que esta dualidade de critérios seja rapidamente corrigida, como é evidente.

1 inSensinho(s) assim...:

Anónimo disse...

Ao preço a que o peixe está, aquela deve valer bom dinheiro...E se fôr à posta...Oh,Oh!!!