O Escroque Fétido

De quando em vez, resolvo “homenagear” palavras de que gosto particularmente mas que poucas vezes são usadas no meu quotidiano (e no do resto das pessoas também). Mencioná-las aqui (por vezes, “ao expoente da loucura”, como alguém já disse) é como que uma forma simples – mas ainda assim significativa – de lhes dar os “15 minutos de fama” a que todos temos direito. É uma questão de justiça, no fundo.

Hoje trago aqui as palavras “fétido” e “escroque”, que na verdade nada têm a ver uma com a outra mas isso não quer dizer que não vão bem juntas, assim como “Michelle” e “ma belle” também vão; qualquer apreciador da música dos Beattles sabe isso perfeitamente.

“Fétido”, só de per si, é um termo que sugere a sensação de mau cheiro. Que mais não seja porque se alguém profere a palavra, pouca gente a entende logo à primeira. E é sabido que quando não se percebe qualquer coisa a reacção natural é algo como “Isto não me está a cheirar bem!... Não está, não!”, acabando por ir de encontro à verdadeira noção que o dicionário apresenta.

“Escroque”, por seu lado, é definido como um vigarista, um trapaceiro. Pouca coisa haverá a dizer em relação a isto. Mas a palavra é gira e merece ser dita com mais frequência por o ser. Não…?! Até parece que não há gente nem motivos suficientes para que “escroque” seja mais vezes ouvida na nossa praça pública…! É tudo uma questão de hábito. Se nos acostumarmos a, no meio da rua, apontarmos de dedo em riste para um tipo qualquer que nos esteja a tentar levar 3€ por uma dúzia de castanhas e lhe chamarmos escroque… aquilo soa bem e depois é um “ver-se-te-avias”. Será dedo esticado e “ESCROQUE!!!” por tudo e por nada. Haveremos de lá chegar… um dia... quem sabe...!

Relacionar “fétido” com “escroque” pode aparentar alguma dificuldade, mas na prática não há dificuldade nenhuma. Aquilo de dizer que algo não está a cheirar bem também se aplica aos golpes dados pelos escroques. Ali a princípio, quando começamos a perceber que algo não está bem e que possivelmente estamos a ser levados na conversa… não nos cheira bem. É fétido. Mas mesmo assim - parvos - acabamos por cair que nem patos. É triste… mas verdade.

Mas vou tentar ir mais longe. Que tal um conceito novo, tanto em forma de insulto, como em termos de ocupação própria…? Uma inovação em duas frentes, pensando bem. Que tal?...

Parece-me de alguma… musicalidade juntar as duas palavras para compor um insulto de jeito. Experimente, caro InSensato, dizer em voz alta (se quiser, berre): “Escroque fétido!!!” ou (mais na onda de impropério de classe média-alta) “Seu… Seu… Seu fétido escroque!!!”. Soa bem, não soa?

Por outro lado, também acho que ser apenas e só um mero escroque é algo redutor. Ser vigarista e ainda por cima cheirar mal é que deve ser uma coisa mesmo a sério! Até porque dá mais luta. Chegar ao pé de alguém, fedendo à força toda, e ainda assim conseguir aplicar um esquema qualquer não será obra para qualquer um, mas sim para o melhor dos melhores. Ser um escroque fétido (e depois ser insultado precisamente com esse epíteto) deve ser o corolário de uma “carreira” de sucesso para o trapaceiro com péssimo odor que se preze.

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