Quase, quase...

Acho sempre alguma piada quando oiço coisas como “Tenho quase a certeza…”.

É daquelas frases lindas. Como outras na mesma linha: “Tenho 90% de certeza…” ou “Estou praticamente certo…”. E assim vistas, escritas… dá para ver que são todas frases muito lindas mesmo.

Estar certo todo e qualquer um quer estar, mesmo que não esteja (já agora, “todo e qualquer um” também é uma expressão jeitosinha…). Estar certo é, ou pode vir a ser, sinónimo de estatuto. O gajo que tem certeza do que diz ou faz, o tipo que está seguro de si… é um indivíduo com estatuto de gajo a séria. O gajo sem convicção do que diz não vale nada.

Por isso, há muito boa gente que… atalha. Ou melhor, há malta que se eleva, que se põe em bicos de pés, de modo a estar perto do tal estatuto tão desejado. E lá vem o “Tenho quase a certeza…”.

Se pararmos um bocadinho para pensar nisto, ter quase a certeza de alguma coisa é, na verdade, não a ter. Ou seja, é sensivelmente o mesmo que dizer “Não faço puto de ideia se é assim mas deixa-me cá mandar a bujarda a ver se acerto”. A diferença é que quem ouve “Tenho quase a certeza…” é levado a crer que o tipo, se não está com a certeza toda… está mesmo lá pertinho. Só não se sabe quão perto ou quão longe – e isso vai dar ao mesmo, mesmo que se diga aquela dos “90%” – e (praticamente) ninguém se apercebe que o gajo está só a encher chouriços até ver o que a coisa dá para só falar definitivamente quando tudo estiver mesmo às claras. Aí já é fácil ter certezas seja do que for.

Em suma, quem diz que tem quase a certeza... é esperto. Ganha tempo e não perde estatuto. São duas boas razões para arriscar… não arriscar. Sim; porque essa coisa do “Tenho quase a certeza…” no fundo é não arriscar, simulando que se arrisca como o caraças. É parvoíce mas não deixa de ser sinal de alguma astúcia, sempre útil, quando bem empregue.

Obviamente, aceito que nem toda a gente pense como eu. Mas julgo que a grande maioria concordará comigo. Aliás, tenho quase a certeza disso.

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