Pergunta Pertinente: O Casamento será prejudicial?


Resposta: Sim. É.

Uma constatação desta natureza só pode – como não será difícil de perceber – ser tida por uma pessoa casada. No caso, por um homem (recém-)casado, ou seja, eu.

O enlace deu-se há dias – menos de uma semana – e não foi preciso muito para me aperceber que a opção por juntar os trapinhos não é, de todo, a melhor política para levar uma vida inteligente sem mácula.

No "centro" desta (algo estranha – admito) epifania está todo o manancial de coisas a organizar quando toca a alterar o estado civil de duas pessoas. Porquê? Porque por muito que a malta se esforce para levar a bom porto uma série de eventos com planeamento bem sucedido… a verdade é que conseguir que a organização vingue sobre a confusão não passa de uma mera utopia, longe de ser desmistificada.

Eu explico.

Por exemplo, todo o dia da cerimónia é um acumular de situações de stress causadas pela aparição de contratempos que antagonizam com o pré-estabelecido pelos noivos. Horários a respeitar, protocolo a cumprir, coisas a não dizer (sabe Deus a quantidade de assuntos a evitar quando há tantos familiares presentes num mesmo espaço!)… o descambar de tudo isto é uma questão de tempo, assim uma espécie de “acidente à espera de acontecer”. Resolver os problemas inerentes ao não cumprimento do planeado requer uma boa dose de paciência (que, obviamente, nunca se tem quando há tantos familiares presentes num mesmo espaço) e capacidade de improviso que o excesso de planeamento prévio quase invalida por completo. Ainda assim, tudo acaba por se resolver… excepto as dores nos pés, inevitáveis quando há sapatos novos incluídos na equação.

Outro exemplo (ainda não há muitos, porque a expressão casados de fresco ainda se aplica) é a partida para a lua-de-mel. É que, de repente, mesmo que toda a gente diga que os opostos se atraem, percebemos que há muito mais em comum num casal do que um primeiro olhar consegue identificar. Após o casamento, descansa-se um dia e começa-se a preparar a mala para a viagem logo depois. Está tudo tratado com o hotel e com a agência de viagens (que nos aconselha «vivamente» a estar cedinho no aeroporto para o check-in), está tudo orientado no que toca aos dinheiros a levar e também à bagagem (preparada até à última hora da noite anterior ao voo e até ao último centímetro cúbico de espaço na mala) e os... sete despertadores da casa acertados para as 6 da manhã do dia seguinte. Quando eles tocam (e, meu Deus!, como dói quando eles tocam!) a essa hora é que o casal, finalmente, se lembra de verificar os vouchers do voo e do hotel. É sempre a hora mais apropriada – mesmo antes de sair de casa para o aeroporto. E aí se vê que algo, de facto, une duas pessoas aparentemente muito diferentes: a palermice. Com toda a comoção organizativa do casório e da lua-de-mel, nenhum dos recém-esposos se tinha apercebido que o voo… era só no dia a seguir e quase (quase, quase!!!) houve dois palermas ávidos de calor e praia a cruzar uma cidade de Lisboa fria e chuvosa, para chegar ao aeroporto cedinho (acatando o conselho da agência), sendo que por cedinho se pode entender, neste caso, com... 27 horas de antecedência para o check-in. Ou seja, pelo calor e pelos encantos do Brasil, o casal de totós teve de esperar mais um dia no... fresquinho invernal de Lisboa, quando já só pensava em boa vida e agradável canícula de verão, que é para aprender a ter mais atenção ao que vem escrito nos papéis.

Sim. O Casamento é prejudicial. Dá cabo das virtudes que qualquer um. Em apenas cinco dias, já se percebeu que a inteligência e ponderação dela baixaram ao nível do meu sofrível intelecto e da minha inexistente sensatez. Tal como, nos mesmos cinco dias, a minha habitual capacidade de observação dos pormenores passou a estar incrivelmente próxima da distracção no que toca aos detalhes demonstrada pela minha mulher. Ou seja, ainda nada de bom foi potenciado (nela ou em mim) desde o Sim que dissemos há dias. Talvez agora, no Brasil, uma vez apanhado o voo… no dia correcto, há hora marcada.

Mesmo assim, antes de sair de casa, vamos voltar a conferir os vouchers, porque a palermice parece ser uma consequência directa do acto de alteração do estado civil, para o qual ninguém nos avisou de antemão, lamentavelmente.

1 inSensinho(s) assim...:

Anónimo disse...

Pois é meu caro....benvindo à realidade!
Não te disse antes para não te assustar..ehehehe...mas a realidade é essa mesma: o casamento não passa de um "sim" e um contrato assinado. Nada se muda radicalmente, a não ser o teu espaço que passa a ser..da mulher também. Em todo o caso, creio que o tempo te vai mostrar que há beneficios e coisas boas para vir...isto se tiveres feito uma boa escolha, se de facto houver muito em comum entre os dois....o que acredito que é o caso. Acredito mesmo!

Ahhhhh só mais uma coisa...se achas que isto é uma grande mudança na tua vida....espera até seres pai :-) ui ui.....a partir daí é que o mundo nunca mais vai ser igual, acredita!

mas que vale a pena, podes estar certo, vale!

Abraço e muiiiiitasssssss felicidades ao casalinho

Manuel Chaves