A discussão do Orçamento de Estado já veio e já foi. Se foi giro? Não sei bem. Raramente lhe presto grande atenção. Se ainda pudesse ir lá falar do meu orçamento… Mas não. Aquilo, segundo sei, é sempre “deputados de um lado - governo do outro” a falarem à vez, de dedo em riste, sobre percentagens, PIB’s e sei lá mais o quê.
Seja como for, pode dizer-se que (pelo menos) algo de MUITO positivo saiu desta discussão do OE2008: o reaparecimento da palavra PÍFIO.
Nunca pensei usar estas palavras, combinadas numa mesma frase, mas cá vai disto: Muito obrigado, Jerónimo de Sousa!
Aliás, muito… obrigradíssimo! O líder do PCP e da bancada parlamentar comunista merece este e todos os agradecimentos que lhe venham a fazer nos próximos tempos, principalmente vindos da parte de tantos e tantos professores de Português actualmente deleitados com a iniciativa do político!
Logo no primeiro dia de debate, Jerónimo de Sousa usou a expressão “duelo pífio” (para espicaçar Sócrates e Santana). E o País quase parou. Quero dizer… parar, parar… não parou. E quase parar… também não quase parou. Na verdade, nem esteve perto disso. Acho mesmo que mais de metade de Portugal nem sequer se apercebeu que no Parlamento se estava a discutir o Orçamento, quanto mais de que Jerónimo tinha recorrido a uma das mais obscuras palavras do vocabulário lusitano.
Mas assim aconteceu. E, na ausência, de bons momentos para recordar (é que fala-se muito de emoção nestes debates importantes em São Bento mas, se fosse tipo jogo de futebol, as repetições em slow motion daquilo não mostravam nada de espectacular), o momento em que o fonema pífio ecoou nas galerias do Parlamento acabou por ser, na minha modestíssima opinião, o ponto alto dos três dias de debate.
Não pelo momento em si mas sim por aquilo que veio depois disso. Desde esse momento, já ouvi a palavra pífio proferida no meu trabalho e, melhor do que isso, na rua… várias vezes! Obviamente, a internet também já foi “inundada” de referências ao adjectivo. No fundo, o que Jerónimo fez não foi (só) insultar Santana e Sócrates (intitulando-os de reles ou ordinários – sinónimos de pífio). Jerónimo educou o País, que não fazia ideia da existência de uma palavra tão catita e simultaneamente tão ofensiva na Língua Portuguesa. O País gostou e trouxe o vocábulo de volta à “ribalta”.
Pessoalmente, regozijo-me sempre que o nosso idioma sai a ganhar onde normalmente sai a perder (os debates políticos são quase sempre muito fraquinhos, também nesse aspecto). Foi o que aconteceu desta vez.
Aparte isso, estou preocupado com Jerónimo de Sousa, que me parece ter feito bem à Língua Portuguesa mas mal à sua carreira política. A palavra pífio pode vir a ser a sua némesis. Tal como o Rato Mickey e uma conversa qualquer de “Você sabe que eu sei que você sabe que eu sei que você sabe” estão para Maria José Nogueira Pinto, pífio poderá estar para Jerónimo, que talvez venha a ser recordado daqui a alguns anos mais pelo adjectivo do que pelas suas ideias políticas.
E seria uma pena que um simples momento alto num debate do OE que até passou despercebido acabasse com a relevância de um percurso político de uma vida inteira. Isso, sim, seria grosseiramente pífio.
1 inSensinho(s) assim...:
Txiiii... fizeste-me lembrar uma coisa!
Há que tempos que não apanho um ganda pífio!
Se apareceres este fim de semana podes pagar umas bjecas e ajudar-me a regularizar esta lacuna.
:-)
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