Por (mero) acidente...

Há uns anos valentes (na verdade, não faço ideia quantos) paguei entrada para ir ver um espectáculo em que um caramelo fazia acrobacias com uns carros velhos e coloridos. Espectáculo esse (licenciado pela Câmara e supervisionado pela GNR e pelos Bombeiros – uma coisa à maneira…!) cuja atracção maior era a sucessão de embates (propositados) noutros carros velhos e coloridos que serviam mesmo só para isso: para levar com o carro do “artista”.

Andar com o carro, de lado, em duas rodas… Subir rampas para aterrar com o carro uns bons 20 metros à frente… Manter-se equilibrado sob o tejadilho de um automóvel em movimento… Bom… O gajo deu espectáculo e lá foi arrancando muitos aplausos das centenas de miúdos (como eu, na altura) e graúdos que se tinham deslocado àquela urbanização inacabada para ver a “actuação”. Mais, obviamente, quando havia chapa batida e amolgada, com “acidentes” mais ou menos barulhentos ou aparatosos. Aí, a ovação “de pé” era garantida.

Isto aconteceu (talvez) no início da década de 90, na vila onde morava. Desde aí, chapa batida e amolgada com choque mais ou menos barulhentos ou aparatosos… só mesmo na estrada e com poucas razões para aplaudir no final. No entanto, algo há de comum – e sempre há – em ambas as ocasiões. Mirones não faltam. Gente sempre pronta para tentar ver o máximo do “espectáculo” e a pouco colaborar no caso de haver vidas em risco. É uma coisa… portuguesa, no fundo.

Lembro-me dessa ida ao espectáculo automóvel há coisa de 15 anos na minha vila porque hoje, precisamente, aconteceu o 1º crash test em solo português (e também, segundo consta, em solo ibérico). Vi a reportagem na televisão… e achei curioso.

Achei curioso… não o facto de se realizar o dito teste de colisão mas sim pelo aparato de gente que aquilo movimentou. Mesmo tendo em consideração que o crash test se inseria no Seminário Internacional de Segurança Rodoviária não havia grandes razões para, poucos segundos após o “acidente” já houvesse centenas de pessoas (quase todas “figuras” das autoridades policiais e rodoviárias) no local, a ver o resultado do embate frontal que tinha sido ensaiado. Deixo aqui, portanto, este pequeno pensamento:

Seja qual for a natureza de um acidente automóvel em Portugal (fortuito, controlado, grave, ligeiro ou até mesmo concebido e coreografado para um espectáculo de entretenimento) terá sempre garantida uma plateia ávida de mirar todo e qualquer pormenor do sinistro.

Ou seja, – e voltando à lembrança do tal caramelo que fazia acrobacias com uns carros velhos e coloridos – mais vale desde logo pensar em cobrar bilhete em qualquer uma das ocasiões. Se os impostos estão tão altos e se a malta estrebucha menos por pagar para ver carros amassados do que para pagar o que deve ao Estado… porque não pensar como o gajo do espectáculo e fazer algum lucro com a coisa? Os contribuintes sobretaxados (como eu) iriam agradecer esse abatimento na carga fiscal…




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(ver fotos do crash test aqui)

1 inSensinho(s) assim...:

GK disse...

Isso exigia organização e rapidez... duas coisas incompatíveis em solo português... Se bem que... como é para fazer dinheiro... Há esperança...

Bj.