O Botão do Foda-se

A expressão não sei se é brasileira ou portuguesa, mas foi um colega meu brasileiro a dizer-ma. Tinha a ver com um árbitro de futebol que, de tanto reclamar por alegadas situações de fraude e compadrio na arbitragem, foi castigado pela Federação vezes sem conta e continua a descer de escalão. Por estar farto de represálias pelas denúncias que fez, resolveu ir protestar para a frente do edifício federativo empunhando uma vassoura (para “varrer” os dirigentes dali para fora). Um protesto inusitado e significativo do desespero do juiz de jogos de futebol.

No carro, o meu colega comentou a situação. “Carregou no botão do Foda-se! Tá-se a cagar para mais processos disciplinares! Agora já protesta por protestar! Carregou no botão do Foda-se e pronto!...”. Eu achei o comentário tão curioso quanto o próprio protesto mas a coisa ficou por ali.

Dias mais tarde, uma colega minha – com problemas laborais graves e irresolúveis de uma forma, no mínimo, airosa – disse-me que já nada mais lhe interessava senão ver o dinheiro que está em falta, em termos de ordenados e subsídios, para partir para
outra de cabeça erguida. Até lá, promete fazer a vida negra aos (ainda) patrões, sem se preocupar muito com as consequências, já que… pior… não pode ficar.

A minha tirada foi a mesma do meu colega, uns dias antes. “Ah!… Bom!... Estás pronta a carregar no botão do Foda-se, portanto!... Parece-me bem!”. E ela riu-se, dizendo que nenhuma outra expressão definiria melhor a situação.

Obviamente, “carregar no botão do Foda-se” não é, de todo, uma daquelas coisas saudáveis, politicamente correctas ou até com lucro visível a curto, médio ou longo prazo… mas, lá está… de vez em quando, dizer “Que se Lixe! Aqui vai fruta!” pode, no mínimo, fazer-nos sentir bem no instante imediatamente a seguir e, quem sabe, melhorar a nossa vida toda desse momento em diante. Também pode ser que não… nem uma coisa nem outra… mas pronto… uma vez “carregado o botão”… já não há caminho de retorno.

Saudável, não é de certeza. Já não falando na crise de miocárdio (ou, no mínimo, na arritmia) que causa, também não é bom para a nossa saúde… social. Naquele preciso momento em que nos passamos para lançar um berro ou desatar a asnear por tudo o que é canto, o mais certo é que nos considerem loucos. E ninguém se quer dar com maluquinhos, bem se sabe.

Politicamente correcto, também está longe de ser. Enveredar pelo caminho do palavrão não é algo com que as pessoas se sintam muito à vontade. Os párias, sim; esses são uns tipos porreiros para ser “público” ouvinte do desaforo dirigido a uma ou mais entidades que se queiram atingir. Aí, em vez de um insulto de volta, recebemos aplausos e gritos de incentivo. Apontar na lista: juntar sempre um grupo de marginais para assistir ao episódio de descontrolo total… para não nos sentirmos sozinhos.

Rentável… será? Às vezes, sim. Outras… não. A intenção é sempre a melhor, certo. Mas as consequência futuras são imprevisíveis, compreensivelmente. Ter um dia como o Michael Douglas naquele filme, com o taco de basebol e tal… pode aliviar a alma, mas até onde pode aliviar o corpo de não ter de vergar a mola para o resto da vida por causa de um momento de descontrolo…? Temos dúvidas. No entanto, pode acontecer que tudo corra bem… Ninguém está a negar essa possibilidade. Um dia, alguém fará estatísticas acerca disso, estou em crer.

“Carregar no botão do Foda-se” é, então (e acima de tudo), um conceito que nos faz bem pensar que existe mesmo. Ou seja, é uma hipótese… mais uma, no meio de tantas, pela qual podemos sempre optar, se nada mais resultar. É dizer “Foda-se!!!”… e esperar pelo melhor.



*************************


NOTA INFORMATIVA

O próximo post será de aniversário (o 2º, no caso).

Todos os InSensatos estão convidados para a comemoração da imbecil efeméride.

4 inSensinho(s) assim...:

GK disse...

Vou passar a usar a expressão na minha vida quotidiana.. Obrigada.

Já agora, deixei-te um desafio no meu cantinho. Adorava saber as tuas manias e mais interessante será lê-las descritas por ti... LOL

Bj e boa semana.

ah e tal disse...

Se houver champagne eu alinho!

Já carreguei no "botão do foda-se" algumas vezes mas sempre de uma maneira mais leve à descrita por ti...

Anónimo disse...

Carregar no "botão do foda-se" resulta MESMO! Pq ás vezes a vida precisa de ser levada de uma forma mais leve, e carregar no "botão do foda-se" é meio caminho andado. Beijinhuz.

Anónimo disse...

O "botão do foda-se" aliviou a minha vida de uma forma mais eficaz e duradoura que qualquer reunião da IURD. Vi a luz a partir de então...não ainda o dinheiro, mas tenho fé. É daquelas coisas que esteve sempre ali e em que nunca reparamos. Onde a força bruta deixa marcas que podem ser provas em tribual,onde qualquer diálogo sensato fracassa frente a um interlocutor burro, estúpido e vigarista, o botão do f...é do plano espiritual, imperecível, alivia qualquer dor, suaviza todos os ritmos cardiacos. Qual prozac? É certo que falta o tal saldar das dividas materiais mas as morais...e o dinheiro há-de vir. Dizia a minha santa avó quem com ferros mata, com ferros morre, ou então o eufemismo equivalente...cá se fazem, cá se pagam.
E eu que nem me dou nada bem com botões haveria de encontrar precisamente num botão a rendição das minhas penas.
GM