o intervalo do pinanço

Se há período de tempo mal documentado na História da Humanidade é o intervalo do pinanço.

Talvez me esteja a escapar alguma coisa, mas não percebo por que razão os cientistas – sempre ávidos por ter uma explicação para tudo – não façam questão de, entre um e outro acto sexual que tenham, no mínimo tirar umas notinhas e com elas formular hipóteses, equações e dessa forma, sempre que possível, chegar a conclusões aceitáveis, a bem da rigorosa compreensão deste hiato de tempo tão peculiar, entre um coito e outro.

Das duas uma: ou 1) os cientistas – como todos os restantes comuns mortais – distraem-se nessa pausa da cópula (e, ao permitir essa desconcentração, são obviamente maus profissionais) ou 2) simplesmente, não há cientistas no mundo a praticar a fornicação. Inclino-me para esta segunda hipótese, confesso. Só porque tenho os cientistas como excelentes profissionais.

Como não sou um homem de ciência mas sim do relato e da análise das incidências desportivas, só posso reportar-me a essa realidade para dar a minha visão sobre o intervalo do pinanço. E é à luz disso que... aqui vai.

No meu ponto de vista, a paragem entre um acto sexual e outro não só é essencial para a reposição dos níveis físicos de ambos os protagonistas do encontro como também de afinação da(s) estratégia (s) a utilizar no recomeço das hostilidades, para que o desempenho dos intervenientes seja da maior qualidade possível na segunda parte do desafio. É também o tempo de avaliar a performance do opositor na 1ª parte do encontro (acima de tudo, em termos de recorte técnico); se domina em campo ou se (e como) pode ser dominado mas também o modo como se portou mesmo antes da cópula; como esteve durante o jantar e o cinema, se bebeu muito ou pouco no bar, se a quantidade de álcool eventualmente consumida tem efeito nefasto ou positivo no desempenho sexual – e desinibição, por exemplo, é de ouro mas a desorientação alcoólica não traz nada de bom a uma relação). Já perto do final do intervalo do pinanço, naquela altura em que os atletas se aprestam para entrar de novo em acção (passando por aquele exíguo – mas sugestivo – túnel de acesso), é mesmo uma boa altura para se fazer a antevisão do que poderá ser a 2º tempo, se a análise feita à 1ª parte pode produzir efeitos positivos na segunda metade, se o opositor fez alterações para mudar a sua maneira de actuar e prever como isso pode ser um bom tónico para o espectáculo, seja ele à porta fechada ou com público (há quem goste de ter uma assistência – não é tão raro quanto isso –, já para não falar da indústria da pornografia – aí há sempre público garantido).

Obviamente, outros profissionais, de outras áreas, terão outras visões (bem diferentes desta, como será compreensível) sobre a pausa da pinocada. Aceito isso com grande naturalidade e até fico curioso por saber como um embalsamador ou um latoeiro analise a paragem entre duas pranchadas com as suas companheiras ocasionais ou de longa data.

No entanto, ficará sempre a faltar a análise científica. Exacta, inequívoca, comprovada pelos dados metodicamente recolhidos e cuidadosamente tratados com vista a um resultado que não deixe dúvidas a ninguém. Mas enquanto essa malta não se decidir a experimentar a coisa (como é sua obrigação profissional, de resto)… continuaremos a depender da análise empírica de leigos, como eu, como você, ou como a análise do médico pneumologista que vive no seu prédio, para quem o intervalo do pinanço até poderá ser muita coisa… desde que não seja um momentinho para pôr a clássica cigarrada em dia. Se for, é o xô'tor quem é um péssimo profissional.

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