A minha crise é melhor que a tua!


Mesmo que se diga por aí à boca cheia que estamos em crise, acredito piamente que Portugal vive um momento fantástico em termos económicos. A sério. Atrevo-me mesmo a dizer que nós, portugueses, estamos em condições de fazer uma coisa gira ao resto do mundo que é: abrir completamente a mão direita, colocar a ponta do polegar encostadinha ao nosso nariz, agitar a mão para um lado e para o outro e, ao mesmo tempo cantarolar…

«Nhã-Nhãnhã-Nhãnhã-Nhã!... A minha crise é melhor que a tua!»

… e, aí (perante tal demonstração de inequívoca supremacia), o mundo perceberá o quão melhor estamos nós em relação à esmagadora maioria das economias do planeta.

A explicação para a minha crença é simples.

Portugal está em crise, reconheço. Mas mesmo em termos oficiais, Portugal só entrou em crise depois de todos os outros países. Sim! O Primeiro-Ministro só há poucos dias afirmou oficialmente que o nosso país está em recessão, coisa que os líderes dos outros países já fizeram há muito. Está visto que isto se deve ao facto de Portugal ter resistido mais e melhor à chegada da chamada míngua económica. Portugal, 1 – Resto do Mundo, 0.

O Natal foi bom, muito obrigadinho. E o seu, também? Olhe… o dos centros comerciais foi excelente, pelo menos nos dias imediatamente antes da consoada. Os parques de estacionamento estavam superlotados, as lojas e os hipermercados a abarrotar, as caixas com filas imensas de gente para pagar presentes… Enfim, tudo aquilo que um gerente de uma grande superfície comercial sonha e, de vez em quando, acontece. Depois do Natal, quando este movimento todo diminui… desta vez, não diminuiu! No resto do mundo, as famílias entraram em forte contenção de custos; por cá… não. As filas de automóveis com gente a dirigir-se para os grandes centros comerciais ao fim-de-semana parecem ter mesmo aumentado, enquanto os supermercados de produtos mais baratos (como o Lidl ou o Aldi), pertinho desses mesmos shopping’s, estão praticamente às moscas. Crise… deve ser só para os outros. Portugal, 2 – Resto do Mundo, 0.

Em todo o mundo, as agências de viagens e transportadoras aéreas queixam-se de que, aos primeiros sinais de crise, a procura pelos seus serviços decresceu de imediato. Em Portugal, no final do ano passado, os agentes turísticos congratulavam-se pelo facto de praticamente todos os “pacotes” com destinos para o Reveillon – desde a Madeira ou Espanha até às paragens mais exóticas (e, por isso, mais dispendiosas) – estavam praticamente esgotados. Aqui, não só Portugal faz o 3-0 em relação ao Resto do Mundo, como inclusivamente INVADE o Resto do Mundo, só para mostrar que estamos em grande forma. Toma!!!

Diz-se que tudo está caro; que os combustíveis para os automóveis estão caros, que a comida está cara, que o gás, a água, a renda, o telefone e a internet, que pagamos todos os meses, estão caros… Mas continuamos a aderir “loucamente” aos “pacotes” mais caros dos serviços de televisão por cabo (ou a mudar para a MEO, só para ter a Benfica TV), como se isso fosse absolutamente essencial às nossas vidas. O que é que ganhamos com isso? Vemos o Benfica o perder por 5-1 com o Olympiacos num jogo que só é possível ver num dos operadores de cabo (que, ainda por cima, não é a MEO, só para chatear quem tinha mudado de propósito) e ficamos com mais canais onde podemos ver o Primeiro-Ministro a dizer que (só agora) entrámos em recessão. Ficamos logo mais bem dispostos. Nos outros países, os operadores de tv-cabo baixaram os preços para estancar a perda de clientes. Coitados. Portugal, 4 – Resto do Mundo, 0!

E, por fim, Ronaldo – o grande exemplo. Não é “à balda” que temos sempre os olhos postos no “puto maravilha”. Quando um português estoira um carrito de 350 mil euros num túnel de Manchester e nem se preocupa muito porque tem mais sete ou oito carros igualmente baratinhos na garagem – à espera da hora em que sejam espetados contra uma parede, um poste ou também um túnel (deve ser uma cena de celebridades, aquilo dos acidentes em túneis) – está a dar o exemplo a toda a população nacional. Se ele pode, qualquer português pode! Pronto… pode quando tiver um Ferrari para estoirar. Mas quando tiver, pode! E, se calhar, até deve! Penso ser essa a mensagem que o nosso Cristiano, Príncipe de Portugal, nos quis passar esta semana que passou, para que olhemos a crise apenas de soslaio, como se nada fosse connosco, não lhe dando grande confiança. E como aquilo que não vemos também não sentimos… a crise talvez nem sequer exista. É esta a filosofia vigente em Portugal, que é bem melhor que a que se conhece no resto do planeta. 5-0! Uma abada à moda antiga! Aprende com a gente, Resto do Mundo!

0 inSensinho(s) assim...: