O seu futuro, segundo o microsoft Office



Quem trabalha na (ou com a) restauração sabe perfeitamente que quase todos produtos (seja um café, uma imperial, uma sandes de queijo ou até um pires de percebes; os exemplos são mais que muitos) chegam ao consumidor com preços altamente inflacionados em relação ao verdadeiro preço base (preço de custo), ou seja, muito mais caros do que deveriam ser.

Isto passa-se em quase todos os sectores em que se troque bens ou serviços por dinheiro. O cliente, mesmo tendo “sempre razão”, acaba por ter mais razão de queixa do dinheiro que gasta do que outro tipo de razão qualquer. Quero dizer com isto que o consumidor, mesmo não podendo fazer grande coisa para o evitar, apercebe-se que está a ser obrigado a pagar mais do que seria razoável por alguma coisa. Por outras palavras, toda a gente percebe quando lhe estão a mexer no bolso.

Toda a gente… excepto os directores de jornais e revistas de todo o mundo. Só eles – mais ninguém, praticamente – é que ainda não perceberam que há um dinheiro que gastam de forma muito parva e que poderiam muito bem poupar em todas as suas edições. E continuam a gastá-lo – o que é mais engraçado.

Horóscopo. É um grande esquema. Uma verdadeira “galinha dos ovos de ouro” para quem tenha uma lábia de jeito, uma criatividade q.b., e bons conhecimentos de Excel. Não é preciso mais nada. Fazer horóscopos é mesmo muito fácil.

A verdade é que, se se prestar atenção, é também fácil detectar que o horóscopo diário, semanal ou mensal, dos jornais e revistas é um embuste. Aquelas balelas sobre sorte, dinheiro, amor, saúde e trabalho, com os acrescentos da carta dominante, do cristal protector ou do número da sorte… tudo isto repete-se com uma frequência impressionante. Por exemplo, a frase «Deve cuidar mais da sua mente e do seu espírito», uma generalidade de todo o tamanho, aparece no signo de Caranguejo num dia e pode surgir em Capricórnio, Escorpião, Touro ou Virgem nas próximas edições do mesmo jornal ou da mesma revista.

O que eu acho ser a chave para que isto seja possível é um simples ficheiro de Excel. Com isso e uma mão cheia de banalidades lá guardadas para serem geridas pelo próprio programa do Office, é fácil não repetir as mesmas generalidades (que fazem servir a carapuça a qualquer membro de qualquer signo) no mesmo símbolo do zodíaco, mas sim repeti-las, ainda assim e sem que se note, em edições diferentes da mesma publicação.

A sorte dos tarólogos, futurólogos, astrólogos ou até sociólogos a quem os editores pagam para que estes prestem esse pobre serviço é que ninguém lê o horóscopo de fio a pavio. Ninguém lê tudo. Normalmente, só se lê um signo, dois no máximo. Se se lesse tudo, sempre, era fácil encontrar «Deve cuidar mais da sua mente e do seu espírito» em diferentes signos, em duas ou três edições consecutivas, estou em crer; e isso seria a desgraça dos “Horoscopólogos by Excel”. E, dessa forma, também os directores da imprensa escrita – problema deles, não fazerem um esforço para perceber que estão a ser gamados – saberiam que as “Mayas” deste mundo não passam de umas espécies de “sandes de queijo”, que lhes custam para aí 14972% mais do que realmente valem.

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