O fascinante "caça e pesca"

Sou cliente da TV Cabo há coisa de dois anos e de empresas do ramo há quase cinco. Nesse tempo houve (e há) sempre canais a surgir e outros a desaparecer. Quando se dá esse sumiço, de uns sinto a falta porque faziam parte da minha escolha diária, de outros nem por isso porque no zapping eles eram só mais um canal ocupado com qualquer coisa.

Ultimamente, com a coisa da box digital, o nome e a respectiva programação imediata dos canais aparecem no ecrã automaticamente e, aí sim, é possível perceber que há canais em que nunca so pôs a vista em cima. No caso – até por ser codificado – o Caça e Pesca passou a ser o meu “canal-nunca-visto-sequer” preferido.

Não me interesso nada por caça ou pesca. À pesca fui uma vez na vida, com um primo, e detestei. À caça... só fui em trabalho e todo o apregoado gozo daquilo passa-me ao lado. No entanto, o canal Caça e Pesca (muito embora nunca tenha visto nada dele) é um caso aparte. Aquilo é bom!... quer dizer... ver a programação daquilo (mesmo sem ver os programas) é mesmo espectacular!

Hoje, segunda-feira, por exemplo, o Caça e Pesca tem programas como "À Espreita", "À Caça", "Podengos e Furões, a Caça Tradicional das Canárias", "Codornizes do Páramo", "Trutas da Toscânia", "Pesca no Vale de Aosta", "Corços e Javalis", "Presos pelo Reo", "À Mosca no Noroeste", "Atrás dos Maiores Peixes do Mundo", "O Tordo com Negaça Viva, em Posto Fixo ou de Salto", "Surfcasting na Cantábria", "Usoa, a Pomba Basca" e "Declínio da Caça Menor".

Juro que não estou a gozar com o canal e com os seus responsáveis. Acho extraordinário que o canal exista, até. E há uma diferença para outros canais tão específicos como, por exemplo, o Sailing Channel (que está logo a seguir e até nem é codificado): os nomes dos programas para velejadores são muito menos interessantes que os que são dedicados à malta da cana e da espingarda.

Simplesmente, por não ser um aficionado do chumbo e do anzol, não consigo entender a verdadeira dimensão do que será estar à espreita e, quase simultaneamente, à caça. Não saberei nunca o que podengos e furões farão quando se encontram (presumo que um fuja do outro, mas não sei bem qual será qual), se as trutas da Toscânia e as codornizes do Páramo se dão bem umas com as outras (apesar das naturais diferenças entre peixes e aves), como será estar preso pelo Reo, se a mosca do Noroeste será mais ou menos chata que a do Oeste ou a do Sul... Tal como nunca saberei onde fica Aosta ou o que raio será fazer surfcasting, o que será um tordo com Negaça Viva (será que dói?!), o que será um Posto Fixo ou um Posto de Salto. Nunca privarei com a Usoa, a Pomba Basca nem vou saber até que ponto o declínio da Caça Menor afectará os mercados mundiais, numa altura de recessão global como é a que se vive hoje em dia.

Talvez seja por isso que a programação do Caça e Pesca me fascina. Há toda uma dimensão do desconhecido que me atrai ao #30 da Tv Cabo.

No entanto, não faço questão nenhuma de pagar pela instalação do canalinho, até porque se os nomes dos programas, por si só, me agradam... porquê estragá-los depois com conteúdos e imagens de que não vou gostar e/ou que não vou entender?...

Por mim, está bem assim: o Caça e Pesca é um dos pontos altos do meu zapping diário. E o mais curioso é que, se eventualmente o canal sumisse, seria o primeiro (e único) – daqueles em que nunca teria posto a vista em cima – de que teria verdadeiras saudades.

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