A Guerra dos Comunicantes


Tenho seguido com particular interesse a mais recente polémica do meu prédio. Na verdade, é sempre bom estar ao corrente de qualquer polémica, principalmente quando se passa no edifício onde se vive. Digamos que dá jeito.

Tudo começou há uns meses, quando, certamente por falta de quórum em reuniões anteriores, a administração de condomínio lançou um comunicado (que mais não era do que uma convocatória – alguém na administração confundiu os dois conceitos, lamentavelmente) que foi colado no interior dos elevadores do prédio (há dois, lado a lado). Não sei se a reunião seguinte teve quórum mas, na minha opinião, aquele primeiro “comunicado” era desde logo um mau prenúncio, visto que gosto tanto de reuniões de condomínio que convocar-me para uma só pode ser comparado a algo como tentar convencer um vitelo a visitar um matadouro.

Como já disse, não sei se essa reunião de condóminos teve o quórum desejado pela administração (obviamente, eu não fui; nunca vou) mas sei que, mesmo que tenha tido, há um problema de comunicação entre os moradores do meu prédio, não resolvido (nem resolúvel) em qualquer reunião. Em consequência disso, aparentemente, há muita coisa que fica por dizer entre vizinhos. Ultimamente, então, tem-se percebido que a coisa é mesmo séria.

Há umas semanas, foi colado um novo comunicado nos elevadores. Alertava-se os moradores do prédio para a necessidade de se fechar sempre a porta do átrio, porque o contador da água do rés-do-chão tinha sido (e passo a citar) «roubado» (fim de citação) por alguém que se aproveitou da porta não ter sido convenientemente fechada durante a noite. No entanto, pouco tempo depois, alguém escreveu à mão no fundo da folha impressa, a bem da exactidão dos termos jurídicos a usar numa ocasião destas, «O contador não foi roubado, foi FURTADO!». E, depois disto, mais gente (caligrafias todas diferentes) aproveitou para reivindicar reparações nos elevadores e no comando eléctrico da dita porta do átrio, para reclamar do barulho feito por alguns vizinhos do 7º andar e (já agora!) exigir a troca de lâmpadas fundidas no 3º. O “comunicado” virou “petição”, portanto.

Esta semana, surgiu um novo “comunicado”. Não vinha assinado, também era escrito a computador e foi colado (como os outros) nos elevadores. Mas este era diferente. Este último não era “só” um comunicado. Logo no cabeçalho lia-se «COMUNICADO IMPORTANTE». Mesmo que não fosse (e não era), aparentava ser, à partida, mais importante que o comunicado anterior, que apelava ao cuidado com a segurança de todos. No entanto, o assunto “mais importante” do que os… furtos (não roubos… furtos) no prédio era a chamada de atenção aos moradores dos “A’s” (eu moro num “D” – não era nada comigo) dos «andares superiores» (superiores a qual andar???) que possuam cães para o facto de haver roupa lavada e estendida a ser suja com urina dos animais, vinda «das varandas de cima». Isto criou uma verdadeira comoção no prédio. Ele foi gente a escrever em baixo que dava jeito o comunicante especificar a quem se dirigia o alerta/ralhete sobre a urina de cão… mas também a queixar-se de malta que estende roupa ainda pingar e que também molha a roupa dos andares inferiores (inferiores a que andar, caraças???), a gozar perguntado para que servia estender roupa seca e não molhada, com direito a resposta azeda ao gozo e contra-resposta a gozar um pouco mais… até que alguém (sempre caligrafias diferentes, volto a lembrar) pediu encarecidamente que se começassem a colar folhas em branco abaixo dos comunicados para se poder escrever mais (e – acrescento eu – melhor!), a bem da “sã” comunicação entre vizinhos.

Até agora, tenho sido um mero observador. Não escrevi qualquer dos comunicados nem em qualquer dos comunicados. Mas estou tentado a alterar a minha postura.

A minha ideia é superar a já alta fasquia da coisa lançando um «COMUNICADO IMPORTANTÍSSIMO» (ou «SUPER-MEGA-IMPORTANTÍSSIMO», para ter a certeza de que ninguém fará melhor nos próximos tempos), com os seguintes dizeres:

Comunica-se que este comunicado tem 3 linhas de texto e 3 folhas.Comunica-se ainda que estas 3 linhas de texto servem para comunicar que o restante espaço livre poderá ser usado pelos moradores para comunicarem aquilo que bem lhes dê na real telha ou gana. Obrigado.

Se levar esta minha ideia avante, aqui trarei os resultados da minha iniciativa, que espero venha a ser um sucesso, claro.

0 inSensinho(s) assim...: