O ProctoPoder

Embora me considere um tipo difícil de impressionar, ainda há coisas que me vão admirando e surpreendendo neste mundo.

Um dos casos mais gritantes nesse particular é o facto de – ao contrário do que eu sempre esperei – o planeta não ser governado (e, por que não dizê-lo, dominado) pelos proctologistas.

É verdade. Se quisessem, os proctologistas podiam mandar nisto tudo, o que me leva a crer que, se não mandam… é simplesmente porque não querem.

Em explicando…

A sabedoria popular – a verdadeira fonte de sapiência do mundo – bem diz “Quem tem cú, tem medo”. Eu concordo. Eu tenho um cú e às vezes até me borro. Quer dizer… pode não ser exactamente borrar de medo… mas a ideia base é a de que eu tenho, de facto, um traseiro e (mesmo que a espaços) tenho, de facto, medo. E isso basta para consubstanciar o dito que o povo criou.

O resto vem por acréscimo. Se há malta com cú – calcula-se que uns quantos biliões de gente – e, consequentemente, com medo, é correcto dizer que os proctologistas têm caminho aberto para a governação do planeta. Por duas razões: uma) se toda a gente tem cú e se o proctologista trata precisamente dessa parte do corpo, o proctologista tem acesso a uma das partes mais sensíveis de toda a gente – logo aí… ; duas) até pelo descrito na alínea anterior, a rapaziada nutre um respeito receoso pelos proctologistas e, perante a iminência de ver invadido um dos seus mais delicados domínios, aperta o esfíncter (e bem se sabe que a malta tende a fazer tudo o que se lhe é exigido quando está com o cú apertado) – se o proctologista quiser ser velhaco, diz que se a malta ladrar pode evitar um toque rectal ou outro exame mais complicado e humilhante… e um gajo ladra mesmo!

Ou seja, se um proctologista tiver veia política (e o que não falta para aí são médicos nas militâncias do sistema partidário), pode muito bem e sem grandes artimanhas “convencer” um tipo a votar nele. Basta dar-lhe a entender que, se não o fizer, lhe dá cabo do “sim senhor”. Não será à balda que existe a expressão “Your ass belongs to me now!” (seguida de um riso maquiavélico). Foi um proctologista irado quem a criou.

Estou em crer que, se quisessem, os proctologistas (e vou dizer uma asneira porque se enquadra no âmbito do texto) já podiam mandar nesta merda toda. Seria preciso pouco para chegarem ao poder e, depois disso, de pouco necessitariam para manter uma forte ditadura, baseada no simples receio das pessoas em ver o rabinho cair em mãos entendidas mas perigosas.

No entanto, se ainda não o fizeram, foi mesmo só por opção. O que quer dizer que, igualmente por opção, ainda podem vir a mudar de ideias. Diria, por isso, que mais vale estarmos atentos a tudo o que se faça e diga nas nossas costas, pelo sim pelo não.

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