Deixe-me falar-lhe como “pessoa”

O InSensato Leitor pode ainda não ter-se apercebido mas há por aí muita esquizofrenia à solta. Eu sei que isto pode lançar uma certa confusão e até instalar pânico (partindo do princípio de que alguém passa cartão suficiente a este blog e julga que o que aqui se diz é mesmo à séria – não é, mas façamos de conta que sim). Ainda assim, perece-me importante comunicar a quem aqui passa que, sim senhor, há esquizofrenia à solta. E isso pode ser contagioso, logo, preocupante e perigoso.

Falo de uma nova realidade. Ou que, se calhar, até é velha, mas que dá cada vez mais nas vistas. Há por aí cada vez mais gente a falar como “pessoas” – e isso pode não ser bom.

Longe vão os tempos em que a malta conhecida da vida política, social, desportiva e outros demais afins falava e ponto final. Cada opinião era dada, mesmo que da boca para fora, mas pronto. Estava dada, estava dada.

Agora as coisas já não são bem assim. Actualmente, tudo o que é figura pública tem uma opinião enquanto figura pública e outra(s) diferente(s) – realço que pode ser mais do que uma opinião, já que há pessoas com muitas opiniões – se estiver noutra “qualidade” que não a de vip… se é que interessa ouvir essa malta sem ser pelo simples facto de ser conhecida.

Um dias destes
, à procura de uma rádio de jeito para ouvir, fui surpreendido com esta declaração de um qualquer político da nossa praça. «Como dirigente partidário e representante eleito pelo meu distrito para estar no Parlamento, acho que deve ser desta forma. Agora… se me pedir a minha opinião como “pessoa”, será seguramente diferente.» Fiquei perplexo por uns segundos a olhar para o rádio mas depois isso passou-me, porque entretanto começou uma canção da Céline Dion e eu percebi que era chegada a hora de procurar outra estação rapidamente. Mais tarde voltei a pensar naquilo.

Ter opiniões como “pessoa” deve ser giro. Eu não sei bem como é que isso se faz… mas tudo ok na mesma. Aliás, o que eu não sei muito bem é como ter opiniões diferentes sobre uma mesma coisa, dependendo do estatuto que se representa em determinado momento.

É certo que as opiniões podem ser mais ou menos polidas, ditas com mais ou menos palavras duras ou moles, com uma “roupagem” mais adequada, dependendo dos interlocutores. Agora, opiniões diferentes na "fonte"… parece-me estranho, mas é uma realidade crescente. O que me leva a uma conclusão: a malta vip tem um bocadinho de esquizofrenia. Deve ter, pelo menos. Parece ter, vá…

Isto digo eu como blogueiro, claro, porque o meu nickname me protege de eventuais chatices com processos e tal. Agora… se me pedirem opinião como “pessoa” (nunca se sabe seu eu próprio sou um gajo conhecido), talvez ela seja muito diferente daquela que eu escrevi agora mesmo.

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