José Maria Peixoto

(ou, “A minha noite no Amadora-Sintra”)


Não faço a mínima ideia quem seja o senhor… mas ouvi muitas vezes o nome dele esta noite, no Hospital Amadora-Sintra. José Maria peixoto. Vezes sem conta. Aliás, ouvi tantas vezes o nome dele que eu (que até sou muito esquecido em relação a nomes) o decorei… em várias formas de pronunciação! De facto, a isso ajuda o facto de me ter cruzado com médicos e enfermeiros de várias origens durante as cerca de três horas e meia que lá passei, a soro. Brasileiros, espanhóis, ucranianos, angolanos, hindus… apanhei de tudo um pouco… até portugueses, imagine-se.

Todos eles (de todas as nacionalidades, entenda-se) esforçaram-se por chamar o senhor José Maria Peixoto para ser observado. Nunca veio. Pelo menos, não nas três horas e meia em que lá estive. Mas foi admirável – tenho de o admitir – a perseverança dos profissionais de saúde que (mesmo percebendo que o magano se estava nas tintas para eles, quiçá bêbedo que nem um cacho de uvas já fermentadas) foram insistindo em chamá-lo pelo sistema de som que ecoava pelas Urgências do hospital. Ele pode tê-los abandonado mas eles não o abandonaram a ele. Foi bom perceber isso, como paciente (que também fui), esta noite.

Entretanto, como sei que a curiosidade é sempre uma coisa tramada, tenho a dizer que a minha deslocação ao Amadora-Sintra se prendeu com uma intoxicação alimentar, "adocicada" com uma gastroentrite. Vá lá enterder-se…! Não faço ideia do que terá despoletado a situação, sabendo eu que só ingeri coisas que consumo todos os dias sem qualquer problema, mas pronto… Agora olho para dentro do frigorífico e faço um ar desconfiado para tudo e mais alguma coisa, desde margarinas a compotas de morango, passando até pelos inocentes (ou com ar de inocentes) iogurtes bem dentro do prazo de validade. Enfim… coisas.

Consequências: ontem, um dia inteiro com dores intensas e enjoos brutais, uma noite “inteira” com um duplo cateter a soro e mais uma coisa que não percebi bem o que era e, daqui para a frente, uma dieta rigorosa para repor tudo como estava antes do incidente. Dieta essa em que a “estrela-maior” é a enigmática Água de Arroz que, desconfio, nunca venha a provar sequer. Acho que vou manter-me pelo creme de cenoura, pelas torradas com chá, pelas maçãs cozidas e pelos grelhados de frango e perú. Vão ser pelo menos quatro dias de sacrifício alimentar que, para mim, é um dos mais cruéis exercícios de tortura.

Mas vá… isso se calhar sou só eu que sou comilão…!

Ah… quanto ao Peixoto, nunca o cheguei a ver. E os médicos do Amadora-Sintra também não, quase de certeza.

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