Incapacidade Migalhal

Há coisas que não passam de boas intenções. Tentamos tudo por tudo manter a coerência dos nossos actos e, vá lá saber-se por quê, não conseguimos.

Digo isto por causa da sandes que tenho agora na mão. Verdade! A sandes – ESTA sandes – é o paradigma de uma deprimente incapacidade que todos temos em certas coisas do nosso quotidiano.

Eu explico.

Não que seja culpa da indústria da panificação e/ou da pastelaria em geral mas nós não nos entendemos com pães, pastéis e bolos. É. E o problema nem está neles (excepto quando nos provocam intoxicações alimentares) mas sim em nós mesmos, que não percebemos ainda como é que devemos lidar com esses produtos.

Atente-se nos seguintes exemplos.

Entramos numa pastelaria, pedimos um croissant misto e puxamos uns cinco ou seis guardanapos da caixinha de metal que está a meio da mesa ou na ponta do balcão. No entanto, acabamos sempre por tocar – nem que seja só um bocadinho – no raio do croissant com as mãos. E não nos queixamos. Quer dizer… às vezes, queixamos; mas não serve de nada. Aliás, no meu caso, eu até faço aquilo a que chamo “o contraditório de mim mesmo”, ou seja, pego o bolo com o guardanapo… mas depois vou partindo-o com a outra mão e comendo, invalidando todo o propósito de usar guardanapos. Pergunta-se, então, para que serve a catrefada de guardanapos com que pegamos os bolos e afins?...

Da mesma forma, também em casa não nos entendemos nisto de comer coisas que deixam migalhas. Em casa é diferente, ainda assim. Aí, hesitamos entre colocar a sandes, a torrada ou a fatia de bolo num prato ou a pegamos com a mão (e, nesse caso, voltamos à dúvida do guardanapo, de que já falei). Se as migalhas acabam por cair na mesa, no chão ou por vezes até na cama (se tomamos o pequeno-almoço por lá), nem o prato nem o guardanapo fizeram o seu trabalho, certo?

Temos de admitir que não nos conseguimos decidir. Olhamos para estes alimentos com desconfiança e – convenhamos – com falta de confiança também. Nem confiamos neles (se nos sujam ou não), nem confiamos na nossa capacidade de os manipular.

E se é assim com uma simples sandes de marmelada, com um pastel de nata ou um éclair, como será com uma tosta mista um bolinho de bacalhau, uma perna de frango de churrasco ou uma sardinha assada?... Porque aí até se coloca a questão haver óleo na “equação”; mas ainda há (quem diria?!?) quem goste mais de os comer à mão, em vez de no prato, com garfo e faca.

Isto, claro, se conseguir decidir-se,… antes que arrefeçam.

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