Inexplicável (daqui a 1000)




Se houvesse uma Associação de Petiscóticos Anónimos, eu, provavelmente, não só seria um associado fiel como muito possivelmente faria parte dos corpos directivos. Sou um aficionado desse verdadeiro regalo que é sentar numa esplanada, com uma cerveja e um pires de caracóis em cima da mesa, ambos à espera de serem devidamente degustados. E quem diz caracóis… diz camarão, percebes, amêijoas, perninhas de rã, burriés, moelas, jaquinzinhos, pica-pau e petiscaria afim.

Aliás, ontem à noite ensaiei novamente a confecção (mesmo que de forma muito improvisada) de Gambas à Guilho, um dos melhores petiscos à face da Terra. Porém, enquanto me deliciava – entre um camarão e outro – chuchando os dedos, entretanto todos “sujos” de saborosa molhanga deixada pelo camarão anterior (e olhando já para o “senhor” que se seguiria), dei-me conta de que aquele meu acto, actualmente tão aceitável, poderá não o ser num futuro mais ou menos longínquo.

Por favor, InSensato Leitor, tente seguir este meu raciocínio.

Tudo bem que é com a maior das naturalidades que a malta chega a um senéque báre e pede um pirezinho de caracóis e se atira a eles como se não houvesse amanhã… mas… como é que vamos nós [raça humana actual] explicar isto aos nossos descendentes? Ou seja, como irão interpretar os historiadores, antropólogos e sociólogos, daqui a – vá… – mil anos, esta coisa de meter na boquinha animaizinhos ranhosos, chuchar as cabeças (onde se mistura massa encefálica e as fezes) dos camarões, aniquilar carapaus subdesenvolvidos ou desmembrar repugnantes batráquios para fins alimentares? Não podem interpretar como coisa boa, certamente.

Chego a esta conclusão, tendo como base científica os livros, filmes e até desenhos animados dedicados ao futuro, como o “Era uma vez o Espaço” ou o “Futurama” (qual Discovery Channel, qual quê!?). Todos eles apresentam a sociedade da época como sendo super saudável (ou com a obsessão pela sanidade do corpo – já da mente… normalmente são todos meio zukas!...), com uma alimentação rigidamente regrada. Ora… este nosso gosto pela alimentação (ainda, para mais, de lazer) à base de animaizinhos indefesos e de hábitos higiénicos muito duvidosos parece não qualificar como aceitável, aos olhos dos que virão ocupar o nosso lugar.

Não me interprete mal o InSensato Leitor, pois – como já disse no início deste InSenso – sou um fervoroso adepto do petisco… e quando mais badalhoco, melhor! O caracol quer-se bem ranhoso para que o molho saiba melhor, o camarão deve ter muita (chamemos-lhe só) “matéria” na cabeça para que a chuchada renda fortemente, os percebes devem vir com água do mar (mesmo que poluída) ou de outra forma não sabem bem, os carapauzitos têm de ser mesmo muito pequeninos e a rã… bom… que se lixe a rã… a malta só quer é morfar-lhe as pernas! E mai’nada!!!

No entanto, tenho de admitir que há um receio relativo em mim. Não pela minha pessoa, mas pelos netos dos netos dos netos dos meus tetranetos.

É que se se confirmar que, no futuro, algumas espécies animais vão conviver com os humanos [veja-se a personagem de Zoidberg, a lagosta, no “Futurama”], e se essa malta descobre que eu lhes comi grande parte dos antepassados… os putos dos putos dos putos dos putos dos putos dos putos dos meus putos vão ver-se à rasca para lhes pedir desculpa por mim, tentando assim evitar uma guerra civil ou um genocídio de pura vingança da petiscaria revoltada…!

5 inSensinho(s) assim...:

calózita disse...

ai a valente petiscada! o que eu gosto dela! de petiscadas e de patuscadas, que também são boas! daquelas que duram e duram e duram e duram...
devo dizer que caracóis não, obrigada. mas quando ao resto, venham eles e elas: os camarões, as percebes, os burriés... não desprezar a orelha de porco em molho verde, as enguias de escabeche, as miudezas de galinha com muito piri-piri, os queijinhos e o presunto, a chouriça assada, o belo do torresmo (atenção que torresmos, na minha terra, é mesmo o coiro do porco frito na própria banha)...
ou atão, venha mesmo o tremocito (o marisco dos pobres!) que também marcha!
e concordo com a borboletadecanela: que se lixem os netos dos netos dos filhos dos bisnetos e mais o comandro!
quero lá saber, o meu pai tem um quiosque!
;)

Zana disse...

Eu partilho, comungo.. e as moelas, para mim são as "mais melhores"(como diria neste impressionante momento o meu primito pequeno).
A questão que me resta é:
onde raio viu vossa excelência bons hábitos alimentares ou mesmo higiene nos personagens do futurama??? Eu não consigo identificar nenhum....lol....

calózita disse...

bibóóóóó "tramoço", carago!

K@ disse...

As coisas que eu aprendo com esta malta...!

Entretanto... A questão da padaria estar fechada... é uma tramadela desgraçada, porque o pessoal pára aqui não só a pedir imperiais, canecas e príncipes, como também vem cá logo pela manhã (madrugada, para mim) à procura de meias de leite e galões, para acompanhar com umas bolas de berlim...

E eu... a essas horas... nem sequer estou acordado, quanto mais estar com paciência para aturar quem quer que seja!...

Mas pronto... é porreiro saber que aqui o "senéque báre" é do agrado da malta para se "cúmêre" e "buêre"!...

;-)

so disse...

nham nham...

adoro um belo dum petisco! ;)