Expressamente Penoso




Viajar num autocarro Expresso podia ser – mas não é – uma daquelas experiências equivalentes à degustação de um bom prato de Bacalhau com Natas: a malta quer sempre repetir. Porém, este cenário de gostar e pedir “bis”, definitivamente não se aplica às viagens em transporte público pelas auto-estradas do nosso país (por falar nisso, talvez esteja na hora do Mário Gil fazer um remake, revisto e actualizado, do seu grande hit sinlge “Pelos Caminhos de Portugal”, que só falava de estradas nacionais e secundárias; fica a sugestão).

É um facto sobejamente conhecido do grande público (ou seja, daquele que não lê o InSenso Comum) que essa coisa de viajar de expresso… só se mesmo se tiver de ser, se não houver qualquer outra alternativa e/ou se ir a pé estiver real e totalmente fora de questão. Isto porque – pelo menos no meu caso – até hoje, não há registo de uma única viagem que tenha corrido 100% bem (sendo, inclusivamente, bem mais frequentes aquelas que correm… 100% mal).

Ilustrando este ponto, relato a minha última (e, como sempre, traumática) experiência. Já foi há uns tempos, mas lembro-me como se fosse ontem… 200 quilometros de asfalto, a serem calcorreados das 8 às 10 da madrugada, numa camioneta com cerca de 40 maganos que, durante duas horas ou mais, têm mesmo de se aturar (aconteça o que acontecer), pois não há paragens desde a saída até ao destino. Nem para esticar as pernas (e como doem os joelhos!... mas também quem me manda ter 1,80m?!), nem para uma mijadinha ou até – já agora que estamos no tema – para mandar cagar o filho da mãe (literalmente… um puto, com a mãe ao lado!...) que não se cala a viagem toda e que pontapeia o banco da frente. E quem é que lá vai…?

Como se isso não fosse já motivo para deixar um tipo com os nervos em franja, outros “exemplares” concidadãos (leia-se, um bando de imberbes adolescentes, a arrotar o gás das cervejas bebidas até às primeiras horas do romper da aurora) resolvem sempre “animar” as hostes com palmas, cânticos futeboleiros, corridas pela coxia, gargalhadas em Sistema de Alta-Voz e, claro, as estórias de como cada um chamou um gajo chamado Gregório a noite toda; um episódio principalmente do agrado de quem havia acabado de tomar o pequeno-almoço.

A dada altura – como por milagre (mas não quero meter Deus ao barulho neste InSensato Escrito pagão) – dá-se o chamado silêncio piedoso: um curtíssimo espaço de tempo em que todos se calam por um momento, podendo ouvir-se só o som do autocarro. Perdão… o do autocarro, não. Porque, afinal, alguém (um “iluminado”, certamente), trouxe pássaros que chilreiam numa caixa… por cima da cabeça do InSensato Autor (por esta altura, já InSensato Viajante Fulo da Vida).

200 longos quilómetros de asfalto, calcorreados penosamente das 8 às 10 da madrugada, num autocarro com cerca de 40 mal dispostos maganos, cujas cabeças abanam de um lado para o outro, ao balanço dos amortecedores (que dor no pescoço!...). Mas, vendo bem, esta até nem foi das piores viagens que fiz!...

Há dias falei disto com uma pessoa amiga que me contou que, na sua última viagem, foi edificantemente fascinante socializar com uma birrenta menininha de 4 anos e ainda levar com uma carcaça no regaço e uma fatia de queijo na testa (!)…

Se calhar… não sou só eu a não pedir “bis” deste “Bacalhau com Natas”…

3 inSensinho(s) assim...:

so disse...

xiça, já tive viagens más, mas nem tanto! por isso é sempre melhor ir de quimbóio, a menos que vás pra linha de sintra! :)

mfc disse...

Experiência a não repetir.
De combóio é bem mais descansado e cómodo.

so disse...

e quando, ali na zona de famalicão, aparece a senhora da biblia e começa a pregar prós viajantes? isso sim, é penoso!