«Santinho!...»

É um flagrante caso de défice e de injustiça para com entes de igual estatuto.

Um gajo puxa a pulmanada atrás, estica o nariz bem lá para cima, abre a boca como se fosse berrar a toda a goela, fecha os olhos a parecer o chinesinho Lee Pó Pó… e ai vai disto!...

AAAAAAAAAAAAATTTTTCHIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMM!!!!!

Logo a seguir, como se de “sete cães a um osso” se tratasse, surgem vozes de todos os lados a “disparar”…

Santinho!...
Saúde!...
Saudinha!...
Deus te proteja!...

…e outras tantas expressões de desagravo, pelo facto de a malta simplesmente ter cumprido uma das mais básicas necessidades fisiológicas: espirrar.

Ora, o que me parece estar mal nesta situação não é o dizer-se “Santinho” e tal a quem espirra. É o facto de não haver algo decente para se dizer, por exemplo… a quem tosse!... ou a quem boceja!...

Necessidades fisiológicas tão básicas como estas (mas que, hierarquicamente, eu colocaria numa posição de igualdade em relação ao espirro) não têm o equivalente a um “Saudinha!”, como se diz a seguir a uma espirradela daquelas a parecer bem! E isto não me parece nada correcto.

No meu dia-a-dia, eu tento remar contra esta triste maré e, quando alguém tosse lá digo, assim meio… ‘naquela’, «Santinho…», ao que se segue um sempre indignado, «Mas eu não espirrei, pá! ‘tás parvo ou fazes-te?!? Olha, olha…! Santinho, diz ele… Isso é quando se espirra, pá!...». E eu lá tento explicar (ao estilo de ladainha repetida vezes sem conta) que é uma injustiça a tosse não ter nada que a suavize, que mais não seja com uma palavrita simpática de quem acabou de levar com os germes todos na cara e tal… Para quê?!?... A malta não quer ouvir…!

O mesmo se passa naquelas ocasiões em que o tédio, o enfado ou simplesmente o cansaço se instala no corpo da rapaziada e lá vem um “abre-boca”, digno de ser acompanhado por uma bela espreguiçada, de braços bem no ar como quando o Benfica marca um golo…

“Saúde! Muita!”, lá exclamo eu… mas de pouco vale, tenho de o reconhecer. O “troco” que levo é inevitavelmente uma expressão de escárnio de quem, claramente, não é sensível a esta temática de súpera importância… pelo menos, para mim…!

Se me perguntarem a mim, eu digo logo que acho que isto devia ser discutido junto das mais altas instâncias do nosso sistema político, para que o País percebesse a verdadeira dimensão daquilo de se está a falar. Pois… mas que não me parece nada bem que só o espirro tenha o reconhecimento do resto da malta (a que ninguém quer retirar – longe de mim!... – o devido merecimento)… lá isso, não parece.

Já ficava satisfeito se esta questão da tosse e do bocejo (e respectivas formas de, por meio de palavras suaves, se proceder ao seu desagravo) chegasse à discussão pública. Seria um bom princípio… digo eu. Sim!... Porque, a partir daí, e logo que se convencionassem umas boas respostas a dar nessas ocasiões, poder-se-ia partir para a criação e ratificação de semelhantes expressões a utilizar em outras situações de satisfação de básicas (mas importantes) necessidades fisiológicas, tais como o arroto, a limpeza da cera do ouvido com a unhaca do dedo mindinho, o coçar das partes baixas (e do traseiro) e, claro, a soltura do gás.

Para quando esta discussão?... Aguardo impacientemente.

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* Quanto maior, mais sonoro e mais badalhoco for… melhor é o espirro; nunca esquecer!...
(uma recomendação com o apoio da Gerência do InSenso Comum)

4 inSensinho(s) assim...:

Zana disse...

Bem, eu digo só que na minha humilde sabedoria há um parágrafo, que consta da proveniência da expressão essa no caso de espirranço.
Se se interessam,;), eu passo a citar o dito:
" No antigo Egipto espalhou-se o mito de que o Espirro de uma pessoa correspondia a um agoiro, um mau presságio;pelo que as pessoas da região e da altura, saiam-se com essas expressões para minorar as maldades que se lhe viessem a apresentar.";
Com certeza que não se verificava isso nas outras funções biológicas que referias uma vez que são, em casos de saude normal, muito mais frequentes...
E pronto... já comentei;)
***

so disse...

não venhas com conversa fiada, porque se te der para vir para aqui coçar o traseiro ou soltar gases não é bem «santinho!» o que eu te vou dizer!

Andre disse...

Eu cá digo "santinho" quando alguém tosse, arrota ou diz qualquer coisa que eu não percebo...
Quando espirram digo "Deus te abafe" que é mais giro...
A malta já está habituada às minhas pancas e nem estranha...

calózita disse...

eu com essa do "santinho" tenho sempre um problema, que é acertar no género da palavra, consoante o género da pessoa que espirra.
e quando vêm com essa do "santinha" para cima de mim respondo sempre: "Deus me faça!".
manias.