Please... Stand By


Não que seja um gajo organizado… bem pelo contrário.
No entanto, antes de sair de casa, dou sempre uma volta pelas divisões, para ver se ficou tudo em segurança (sim… porque se arrumada não fica, ao menos que a casa não venha a baixo enquanto eu estiver fora!… era aborrecido…).


Ultimamente, tenho reparado num pormenor que (ao fim de tantos anos de indiferença da minha parte) me tem deixado algo pensativo.

Quando saio de casa, as únicas formas de vida visíveis que lá ficam são o gato (esse baluarte da destruição da paz caseira) e… as luzinhas de stand by dos meus electrodomésticos.

Vermelhos, azuis, verdes, amarelos… esses ditos pontos de luz indicam que o aparelho (televisão, aparelhagem, DVD, videogravador, frigorifico, micro-ondas,…) está desligado, mas não totalmente.
Está em stand by.
Ou seja, está numa de soneca expectante, que me parece um conceito, no mínimo, interessante.
Por exemplo… Eu desligo o meu televisor e, já não está a trabalhar, pode descansar por umas horas. Mas não pode estar absolutamente descansado, porque a qualquer hora eu posso lembrar-me de pegar no comando e a ligá-lo de novo. Solução para ele… “dormir” com “um olho aberto e um fechado”. E esse “olho”, acredito, é a luz de stand by.

Mesmo assim – e sabendo que é, sem dúvida, chato esse descanso em sobressalto – eu julgo que os meus electrodomésticos não ficam assim tão aborrecidos quanto isso quando estão “sozinhos em casa”.

Estou em crer que eles comunicam entre si.
Sim… Por que não?
Imaginem… A luzinha de stand by pode muito bem ser o meio de comunicação entre os vários aparelhos que eu tenho em casa!... A gente conhece o princípio dos infra-vermelhos (e os bluetooth’s) dos telemóveis. Basta que os telefones estejam próximos uns dos outros para trocar informação.
Ora, o mesmo pode acontecer com os meus electrodomésticos, quem sabe, usando códigos (bem ao estilo de Morse). Eu cá acho que, na minha ausência, muitas e proveitosas conversas deverão acontecer na minha sala, na minha cozinha e até no meu quarto. O gato é que – se se aperceber disso – não deverá achar grande piada… a não ser que também alinhe na “festa”.

Imagino o que o televisor diga à aparelhagem.
«Pá… andas a passar umas musiquitas giras, tu! Essa música com umas imagens que eu aqui tenho… ficava um espectáculo!»
O frigorifico ao micro-ondas…
«Se este gajo não tira daqui o tupperware com aquela sopa manhosa, estou lixado! Fico aqui com um cheiro que não se pode!... O gajo bem que podia passar isto daqui para aí, aquecer e comer antes que se estrague.»
No quarto, a mini-aparelhagem ao videogravador…
«Hey! Psssst! Passa aí o CSI outra vez!... Então?! Tas a ouvir??? Passa o CSI, caraças! Preguiçoso do camandro!!!»

É. Tenho a ligeira impressão que os aparelhos que tenho no quarto não se dêem bem.
Ou se calhar até dão… mas que importa isso agora?...

No entanto, tudo isto poderá não ser mais do que fruto da minha imaginação fértil (o que é “pouco” provável, claro…). Sendo assim, a realidade dos meus electrodomésticos será completamente diferente do que acabei de teorizar, bem como o significado da luz de stand by.
E se a vida dos meus electrodomésticos for uma chatice pegada? A luzinha vermelha do meu televisor mais não será que a expressão visível da tristeza do pobre coitado!... E a minha aparelhagem… que pisca a luz azul até à exaustão… só está a pedir que lhe dêem atenção!
O frigorífico… com a luz amarela do descongelamento… “diz”, assim, que os pingos de água que se vêem e ouvem, são só lágrimas… de solidão.
E isso entristece-me de uma maneira…!

Pronto… auto-deprimi-me! Será possível?!?...
Vou pôr-me em stand by
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