45 Rotações


Num longo e doloroso processo de arrumações (que já dura há uns dois anos e tal) para pôr a casa à minha maneira, finalmente chegou o momento de decidir o que fazer aos velhotes singles de vinil que os meus pais me deram.
Discos do início da década de 80 e dos finais da de 70, no tempo em que a minha família estava emigrada na Alemanha; alguns deles tão antigos que chegam a ser mais velhos do que eu... e já sou um bocado "cota".
Por isso, aqueles "45 Rotações" são quase todos de bandas e músicos perfeitamente desconhecidos, muito embora haja uns quantos singles dos inevitáveis Abba, claro.

Bom... obviamente não resisti a dar uma olhadela mais a fundo só cerca de 20 "mini-vinis", de capas garridas e com fotografias do mais foleirinho que se possa imaginar.

Primeiro pormenor a reter... apesar de ter aprendido um bocadinho de alemão no secundário, cheguei à conclusão de que... não percebo patavina!
O que é muito triste, já que, assim, fico impedido de traduzir títulos tão (potencialmente) fantásticos como "Das Beste für die Nierchen sind die Bierchen" (que deve ter algo a ver com cerveja, já que na capa há um senhor com um copo na mão e "cerveja" é uma das poucas palavras que conheço em várias línguas... vá lá saber-se porquê...!), "Es ist Morgen und ich liebe dich noch immer" (será "É de manhã e eu só gosto de ti à tarde"???... seria um belo piropo, ao nível do "estou quente que nem um forno"!) e ainda o afamado tema "Und es war sommer" de um cromo chamado Peter Maffay, que (pela foto de capa) já em 1976 parecia ser um quarentão e há tempos descobri que ainda canta umas coisas... no mesmo estilo deste "Und es war Sommer". Tipo coerente, este Maffay.
(Nota mental: voltar a aprender línguas logo que possível. Agora tinha feito um figurão!...)

Enfim. Fiquei sensibilizado.

Principalmente pela aparente capacidade da malta na altura comprar os discos com as piores capas. Um tal de Johnny Wakelin (cantor de raça branca), lançou um single chamado "Africa Man" e os meus pais, pelos vistos, compraram-no mesmo tendo na contra-capa duas fotografias do gajo. Uma delas com cabelo comprido e bigodinho de serralheiro (sem ofensa aos serralheiros) e outra sem bigode, com farta carapinha "afro" e... o mesmo fato em ambas as fotos!
Fiquei um bocado confuso. O gajo era feio... e só tinha uma roupa! Talvez os meus pais tenham comprado o single, pensado em ajudar o rapaz... mas eu continuo a preferir acreditar que eles o ganharam numa quermesse qualquer.

Por fim... as coisinhas mais aceitáveis que encontrei foram mesmo os discos dos Abba ("Fernando", "Dancing Queen", "Man in the Middle" e "SOS"), Kim Wilde e os saudosos "Comment Ça Va" dos The Short's, "O Areias" da Susy Paula, "I just Called to say I Love You" (o mais recente, de 1984) do Stevie Wonder e "Playback" do Carlos Paião, de quem ainda hoje sou um grande fã.

Mas a maior das surpresas ficou guardada para aquilo a que eu chamo de um pseudo-single-de-vinil.
Era um disquinho, super fino, que as Selecções dos Reader's Digest distribuiam (até era preciso pôr uma moeda de 1 Escudo em cima, para se ouvir melhor), e em que se promovia uma colecção de discos LP sob o título "A Alma da Música Portuguesa".
Quem fazia a locução?... Nem mais nem menos do que Manuela Moura Guedes(!) que, ao contrário do que muitos pensam, antes de abrir o Jornal Nacional, de publicitar detergentes e até de cantar com os Ritual Tejo... também entrou no maravilhoso mundo do vinil (dos discos, entenda-se... não das fatiotas justas... e eu acho que ainda bem)!

Não vejo a hora de consertar o meu gira-discos (gosto mais do nome "à antiga") para poder ouvir estar preciosidades todas.
Por agora, o critério de arrumação será só pela aparência da capa... e nem isso está a ser fácil, já que o principal candidato a "dar a cara" ao conjunto dos singles é o de um grupo de quatro marmanjos de cabelo grande e camisas de cetim e quatro miúdas, vestidas com algo que descreverei só como camisas de noite hippie, mas em versão mais... foleira do que o simples hippie.
Além disso, chama(va)m-se "Pussycat" e colocá-los como mostra do que tenho em casa, isso pode não passar a mensagem que eu quero transmitir às minhas visitas (o mesmo motivo pelo qual eu excluí logo o "Dancing Queen", por exemplo).

Também havia um de uma miúda gira, chamada Vicky Leandros (que tinha um sucesso tremendo na Alemanha), mas as origens gregas dela dissuadiram-me num instante.

Que é que querem?... Caristeas... 59 minutos...
Ainda não me passou o trauma...
:s

Talvez opte pelo disco do gajo com o copo de cerveja na mão…

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